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Finalmente o verão

Finalmente li este livro!



Na wishlist há anos, esgotado há que tempos na Planeta Tangerina, Finalmente o Verão, das primas Tamaki, foi reeditado no início do ano - e estava com um desconto jeitoso aquando do meu aniversário, no auge do lockdown, pelo que me foi prontamente ofertado.


Há muito que ouvia maravilhas sobre esta obra, e não desiludiu. A família de Rose vai, desde sempre, passar férias de verão em Awago, perto de um lago, e Rose tem uma amiga cerca de ano e meio mais nova, Windy. As duas amigas têm cerca de um ano e meio de diferença de idade, sendo Rose a mais velha, e o livro captura o desfasamento que desta vez se faz sentir, com Rose a sentir-se talvez um pouco crescida demais para as brincadeiras de Windy, e Windy a tentar acompanhar e a não compreender o fascínio de Rose com os rapazes (especialmente com o "Bronco").




Este momento de crescimento de Rose, em que se começa a aperceber do mundo que a rodeia, dos problemas dos outros, dos julgamentos que faz (talvez injustamente) e da forma como quer ser vista, está retratado de forma altamente honesta e fácil de compreender - muitos leitores poder-se-ão rever em vários dos momentos destas férias de Verão. A forma como Rose e Windy se apercebem do que as rodeia, de uma forma que nunca lhes tinha ocorrido, por serem tão novas, é quase melancólica, por contrastar com aqueles que teriam sido outros verões, mais tranquilos, de praia, brincadeira e a total ausência de preocupações.


Há duas questões de destaque nesta obra; uma é o facto que a mãe de Rose, Alice, não está a passar um bom bocado - ao longo do livro, e principalmente no seu final, compreendemos todos os motivos por trás do seu comportamento. Rose não consegue compreender totalmente aquilo que aflige a mãe, e a falta de comunicação e compreensão entre ambas é dolorosa.


Ao mesmo tempo, há o Bronco, o rapaz no qual Rose ficou interessada, que trabalha na loja de conveniência e que terá engravidado a sua namorada, Jenny (mas recusa qualquer responsabilidade). A percepção de Rose sobre todo este drama é muito interessante e realista, especialmente para a idade de Rose - os julgamentos que faz, a forma como vê as coisas, o modo como não compreende grande parte do que está a acontecer e as suas implicações.



Não é uma narrativa particularmente complicada, mas lida com temáticas algo pesadas - incluindo misoginia internalizada, perda, fertilidade (ou falta dela) e morte. As lutas de Rose com os seus próprios sentimentos, de já não se sentir criança mas não ser aceite no grupo dos adolescentes, de já não se conseguir relacionar da mesma maneira com Windy (Windy permanece igual aos outros anos; Rose é que mudou), as lutas constantes dos pais que lhes retira a autoridade de porto seguro...


É uma leitura que se faz tranquilamente, sendo a acção maioritariamente observada pelas raparigas, estas não tomando parte activa nela. Mostra-nos o impacto da observação, de como o crescimento faz com que nos apercebamos de coisas que nunca antes nos tinham ocorrido - do ponto de vista de uma rapariga. É uma bela história sobre ser-se rapariga e mulher, sobre crescer, sobre o impacto e o choque que o crescimento e os "dramas" que daí advêm causam, sobre os problemas da juventude, sobre a falta de leveza do que espera no mundo adulto. Parece acontecer muito pouco, porque as resoluções são calmas, discretas. Mas há muito mais do que o óbvio.


As cores são belíssimas e acrescem ao sentimento de nostalgia melancólico que permeia o livro. Como se nos levassem de volta às tardes de Verão de dias inocentes, sem importância, deixadas para trás algures no tempo. Há detalhes muito subtis que dizem imenso, e é maravilhoso.


5/5


Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. Ainda gostaste mais do que eu! Este livro é de uma enorme sensibilidade na escolha das cores e na abordagem dos temas.
    Paula

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  2. Não leio muitas novelas gráficas/bds, mas esta parece tão fofinha *-*

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    Respostas
    1. Esta é daquelas que recomendo a um público geral, sem hábitos deste tipo de leituras, sem dúvida :)

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