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Lady Audley's Secret

O clássico de Outubro era temático: gótico ou terror.



Lady Audley's Secret, de Mary Elizabeth Braddon, é um livro que me aguardava na estante há anos e que há anos eu procurava encaixar nalgum momento. Estive muito dividida entre este e o The Woman in White, do Wilkie Collins (que está em situação muito semelhante na estante), mas este acabou por vencer, por motivo nenhum.


Estando há tanto tempo a aguardar leitura, tinha alguma noção da temática do segredo, mas não estava preparada para um conto vitoriano de engano e morte. Peço desculpa se, desde já, avancei para potenciais spoilers, mas qualquer resumo mais simples da obra mencionará que o segredo de Lady Audley peca por falta de inocência. A própria autora revela logo no início muito, talvez. Dado o teor do livro, tentarei não mencionar muito do seu enredo.


Conhecemos Lady Audley como Lucy Graham, uma governanta que subiu na vida por, dona de enorme beleza, ter conquistado o nobre local do condado de Audley, Sir Michael, um senhor viúvo, com uma filha pouco mais nova que Lucy. Desde o primeiro capítulo que somos levados a ficar de pé atrás com Lucy, e o segundo capítulo dá-nos a entender desde logo (parte d)o seu segredo. Isto pode fazer com que o livro pareça aborrecido e previsível; mas não é. A atmosfera é gótica, e Audley Court é uma casa já antiga que poderia ser idílica, mas aparenta ter os seus mistérios.


A noble place; inside as well as out, a noble place - a house in which you incontinently lost yourself if ever you were so rash as to attempt to penetrate its mysteries alone...


Temos Lady Audley, o seu marido Michael, a filha deste, Alicia, e o sobrinho, advogado preguiçoso que nunca exerceu, Robert Audley. Robert anda sem rumo na vida, até que eventos relacionados com Audley Court o afectam profundamente e ele fica obcecado. Desde cedo, e apesar de inicialmente encantado com os encantos da sua nova tia, a aparente jovem senhora indefesa, Robert começa a achar que ela talvez não seja bem aquilo que diz ser. Alicia nunca gostou da madrasta, mas poderá ser apenas ciúmes? Até porque Alicia sempre teve algum interesse no primo...


Apesar de haver momentos algo previsíveis ou fáceis de depreender, o livro prendeu-me e entusiasmou-me até ao fim (fim este talvez um pouco arrumadinho demais, mas perdoável). Os momentos de detective entusiasmaram-me, e gostei da exploração dos conceitos de saúde mental e da hereditariedade. Houve confrontos muito tensos entre Robert e a sua tia. Mesmo sendo um livro que baseia a sua fórmula no choque do leitor, mas não é totalmente vazio.


Foul deeds have been done under the most hospitable roofs; terrible crimes have been committed amid the fairest scenes, and have left no trace upon the spot where they were done.


Lady Audley é facilmente perceptível como ambiciosa e como alguém que não vê barreiras ou limites às suas possibilidades - muito menos em classes sociais. É uma mulher que sabe usar os seus "charmes femininos", a sua beleza quase infantil, o seu belo sorriso e os seus cabelos louros, a sua enorme simpatia - o seu orgulho, o seu enorme talento para mentir, a sua faceta psicopata. O seu verdadeiro segredo, no entanto, confesso que achei algo aborrecido, mas foi uma viagem interessante e, por isso, vale.


Mary Elizabeth Braddon foi uma autora muito popular na sua altura, deste tipo de livros de mistérios e escândalos, mas que terá ficado meio esquecida com o tempo. Lady Audley's Secret merece reconhecimento, no entanto. A prosa tem classe, é bonita e lê-se muito facilmente. O livro é grande qb (perto de 500 páginas), mas mantém um ritmo constante, twists and turns divertidos e que acrescentam efectivamente à obra, personagens cativantes. Robert vê-se forçado a fazer algo da sua vida e transforma-se num jovem responsável de forma absolutamente credível, ao ter de ser detective e também juiz no meio de um mistério que vem a desvendar.


4/5


Podem comprar uma outra edição em inglês na wook, na Book Depository ou na Bertrand; a obra não se encontra traduzida para português.

Comentários

  1. Tenho este livro por ler. A capa do que tenho é linda, mas o interior está todo assassinado com sublinhados e comentários a tinta do dono anterior, ainda por cima de várias cores! Acho que vai desconcentrar-me tanto...
    Acabei por ler O Horla e Outros Contos Fantásticos do Guy de Maupassant para o desafio deste mês. Algumas histórias medianas a contrabalançar outras muito boas.
    Paula

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    Respostas
    1. Qual é a capa? Estou curiosa :) comprado em segunda mão ao engano?
      Eu do Guy de Maupassant só li o Boule de Suif que, não sendo gótico ou de terror, é um conto magnífico!

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    2. E os contos que prefiro no Guy são mesmo os do género do Boule de Suif, com crítica social e personagens femininas fortes.
      A capa da Lady Audley é um quadro chamado Bianca, de 1862. É um Oxford World's Classics.
      Paula

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