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Girl, Woman, Other

Tinham-me dito maravilhas sobre este livro.



Co-vencedor do Booker Prize de 2019 (juntamente com o The Testaments, que não me vejo a ler), Girl, Woman, Other é o romance polifónico de Bernardine Evaristo sobre doze mulheres em Inglaterra, atravessando gerações, séculos, origens socioeconómicas (contexto familiar, educação) e étnicas (mas todas elas de cor), cujas vidas se acabam por cruzar, seja por relações familiares, de amizade ou contexto profissional.


O livro abre com Amma, dramaturga, a preparar-se para a noite de estreia da sua mais recente peça, The Last Amazon of Dahomey, no National Theater - o dia que, por motivos vários, nunca achou que chegaria - e com os vários factores que fazem com que a popularização de uma peça sobre mulheres de uma tribo africana, da autoria de uma mulher negra, seja tão importante.


Amma then spent decades on the fringe, a renegade lobbing hand grenades at the establishment that excluded her

until the mainstream began to absorb what was once radical and she found herself hopeful of joining it


Nas palavras da própria Evaristo (sobre o livro):


I cannot be stereotyped, controlled or silenced. Women of color are hyper-visible in some situations, on account of our darker skin making us stand out, and simultaneously invisible, when we don’t have a platform on which to speak out. I refuse to be invisible and I demand to be heard.


E é esta voz que ela fornece a tantos personagens que importa, é algo que nunca vi antes na ficção; todas estas mulheres e as suas histórias importam. E é muito importante porque nos ajuda a estabelecer uma ligação, uma relação, com estas personagens. Cada capítulo conta a história de uma mulher diferente, única, memorável, com diferentes visões políticas, backgrounds, orientações sexuais ou identidade de género.


O que é a vida de uma mulher no Reino Unido? E se a mulher não for branca? No que é que factores socioeconómicos, culturais, de contexto, influenciam as vidas das pessoas, e em que momento podem ser considerados privilégio? Nunca lera um livro sobre a vida das mulheres de cor na Inglaterra, seja nos tempos actuais ou no passado, sendo o meu conhecimento de como a sociedade inglesa tratava e trata mulheres que são diferentes - seja por religião, cor de pele, sexualidade, ou outro - reduzido. Todas estas perspectivas fazem com que a leitura valha a pena.


privilege is about context and circumstance


As doze mulheres são agrupadas em quatro conjuntos de três; entre cada grupo é fácil ver as ligações imediatas de cada mulher, mas os laços entre cada grupo são mais ténues, embora acabem por se revelar. Temos Amma, a sua filha Yazz e a melhor amiga de Amma, Dominique; Carole, a sua mãe Bummi e a sua antiga colega de escola, LaTisha; Shirley, a sua mãe Winsome e Penelope, antiga colega de trabalho de Shirley; e Megan/Morgan, a sua bisavó nonagenária Hattie, e a história da mãe desta, a já falecida Grace. No fim, dois capítulos de conclusão; entre os vários capítulos dedicados a cada mulher, muitos personagens secundários riquíssimos.


ageing is nothing to be ashamed of

especially when the entire human race is in it together


A escrita, que vejo frequentemente criticada, é fenomenal: é um misto de prosa com poesia livre, com pontuação divergente da norma; mas a verdade é que, apesar de poder demorar um pouco a entrar no livro por este motivo, a leitura flui, a pontuação e os parágrafos acaba, por dar foco e importância a momentos e palavras.


É uma grande lição de empatia, de como nos somos capazes de relacionar com aqueles que percepcionamos como diferentes. Sobre como somos todos humanos, todos temos as nossas lutas, as nossas dores, as nossas falhas, e todos temos uma história para contar.


5/5


Podem comprar uma outra edição em inglês na wook, na Book Depository ou na Bertrand; ou em português, na wook ou na Bertrand.


Comentários

  1. Por simples curiosidade, porque não te vês a ler The Testaments?
    Porque te referes à obra como um romance polifónico?
    Gosto de te ver a ler obras mais recentes, a sair um pouco da zona de conforto! Ficaste com curiosidade relativamente a outras obras da autora?

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    Respostas
    1. porque não "acredito" em sequelas feitas em momentos de grande popularidade do livro - e acho que o livro valerá por si só e não quero continuar!
      porque tem 12 vozes diferentes :p
      fiquei com alguma curiosidade, sim, mas não saberia onde começar!

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