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Liza of Lambeth

O mote do #lerosclássicos2021 para Fevereiro era o simples "ler um clássico europeu". Pensei fugir ao cânone anglófono, mas decidi conjugar com o #médicosesritores do João Barradas.



Isso e aproveitar esta foto de 2019 (tirada no De Drie Graefjes ao pé da De Nieuwe Kerk em Amsterdão; o livro foi comprado por 3€ na New English Bookstore no mesmo dia).


De Somerset Maugham, já tinha lido, há alguns anos, o magnum opus: Of Human Bondage. Ou seja, entrei naquele ciclo em que comecei pela melhor obra do autor e, depois, nada será comparável. Liza of Lambeth é a primeira obra do autor, o que poderá não ajudar. Foi escrita quando o autor era ainda estudante de medicina, e fez algo que se poderá chamar de estágio de obstetrícia no Hospital St. Thomas em Lambeth, uma zona mais pobre da cidade. Esta edição inclui um prefácio do autor, no qual fala do seu processo de escrita e o contexto de Liza e a vida de Londres à data em que fora escrito.


Final do séc. XIX. A nossa protagonista é Liza, de dezoito anos, uma rapariga do bairro pobre de Lambeth que trabalha numa fábrica e vive com uma mãe de alguma idade e algo doente. Logo nas primeiras páginas percebemos que Liza gosta de atenção, ao sair com o seu vestido novo.


…She was getting excited at the admiration of the onlookers, and her dance grew wilder and more daring. She lifted her skirts higher, brought in new and more difficult movements into her improvisation, kicking up her legs she did the wonderful twist, backwards and forwards, of which the dancer is proud.

"Look at 'er legs!" cried one of the men.

"Look at 'er stockin's!" shouted another; and indeed they were remarkable, for Liza had chosen them of the same brilliant hue as her dress, and was herself most proud of the harmony.


Liza é alegre, divertida, popular entre os vizinhos. Tem uma melhor amiga e uma espécie de namorado, Tom. É extremamente responsável, apesar de gostar de sair e de festas: guarda o dinheiro para que a mãe não o gaste no álcool, não bebe, é assídua e trabalhadora.


Os problemas começam quando os Blakeston se mudam para a rua e Jim Blakeston, pai de família, com o dobro da idade de Liza, repara nela - e ela, inevitavelmente, nele. A sra. Blakeston está ocupada a tomar conta dos seus inúmeros filhos (dos quais a mais velha, Polly, é pouco mais nova que Liza). Liza não resiste a Jim, e a história não acaba bem. Não poderia acabar.


O poder de observação do autor é visível nesta história, não só pelo retrato de Londres e das suas ruas, mas pela forma como os personagens demonstram não só a má pronúncia (os diálogos estão escritos foneticamente) mas muitos dos problemas mais típicos de classes baixas nesta altura: o álcool, a violência doméstica, a maternidade múltipla, a pobreza em geral. Mas apesar destas dificuldades, Liza e os seus vizinhos têm momentos de festa, de diversão, de felicidade.


Não é uma narrativa única; talvez o desfecho pareça moralista, mas interpretei mais como um retrato de uma parte da sociedade, numa determinada época, do que como sendo um conjunto de julgamentos de valor. É realista. E, apesar de não ser uma obra-prima, é uma leitura que não deixa de valer a pena.


3,5/5


Podem comprar na wook ou na Bertrand. Actualmente, não se encontra disponível em português.




Comentários

  1. Não conhecia mas parece bem interessante :)

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    1. não é dos mais conhecidos dele, e não me choca :) em português, chama-se "Liza a Pecadora"... nada moralista, o tradutor...

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  2. "Against my better judgment" gosto bastante de Maugham. Ou seja, acho que ele é um belíssimo escritor, mas não é muito gentil para as mulheres. Ou são péssimas pessoas e/ou dá-lhes destinos terríveis. Concordo com tudo o que dizes deste livrinho.
    Também vou ler um dele este mês, o "Theatre", mas não vou usá-lo para o teu projecto. Em honra do nosso glorioso encontro na última FLL (are we there yet?), estou a ler com a Ana Lopes a Morgadinha dos Canaviais, do Júlio Dinis, que foi tão publicitado! Está a ser tão giro! É esse o meu clássico europeu de Fevereiro.
    Paula

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    1. também gosto! são boas histórias. quer dizer, só li este o of human bondage, mas são boas histórias e mostram grande capacidade de observação e sentido analítico e conhecimento de pessoas. e gosto disso - e embora a Liza fosse a personagem central aqui, acho que nenhum dos personagens ficou assim tão bem... o Tom que gostava dela e terá tido um enorme desgosto, o casamento do Jim que terá ficado pior do que estava e o seu sentimento de culpa, etc.
      uau! também tenho esse por ler, mas por esta altura já não me junto. espero que continue a ser uma boa leitura :) esse que infelizmente foi o único encontro presencial possível :( se te quiseres vir a juntar aos Skypes, apesar do que disseste no ano passado, avisa, que esses ainda os fazemos de vez em quando.

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  3. Eu li as Heróides de Ovídio - tão bom! :)

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  4. Estranhei a fotografia, tendo em conta os tempos que correm, mas rapidamente o post me esclareceu claro! Apenas quis começar com esta nota
    A New English Bookstore é aquela onde comprei o Dune?
    "Look at 'er stockin's!"
    Escreveu um livro quando era ainda estudante de medicina, já imaginaste? Fiquei algum tempo a pensar nisso
    Gostei do post, embora me tenha despertado mais curiosidade o autor do que a obra em si, esta em particular pelo menos

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    1. não estou aqui para enganar ninguém nem para incentivar a ir a sítios :$
      é essa mesma!
      uma devassa a mostrar os collants :p
      sim, é verdade, e no prefácio conta como tinha tentado escrever uma biografia de um compositor aos 17 anos! mas que a desconsidera como primeira obra, pela imaturidade da idade, fazendo desta a sua verdadeira estreia
      o of human bondage é melhor :p

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