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The Seven Husbands of Evelyn Hugo

Li este livro em mais uma leitura conjunta falhada (apalavrei que começaria a leitura em certa data, esqueci-me de avisar que o faria efectivamente).



Tinha bastante curiosidade com a obra de Taylor Jenkins Reid, que tem vindo a ser bastante falada nos últimos anos, com este livro e também com Daisy Jones and the Six. Por ter ideia que este último seria o melhor, optei por começar por Evelyn Hugo, livro que também me chamava a atenção há algum tempo por ter sido publicado sensivelmente pela mesma altura que o Seven Deaths of Evelyn Hardcastle (que tenho na estante, por ler).


The Seven Husbands of Evelyn Hugo é uma história complicada sobre uma pessoa complicada. Evelyn Hugo é uma antiga estrela de cinema, da época dourada de Hollywood, uma mulher lindíssima, loura, sensual, que prendeu todos aos ecrãs durante décadas, que espantou todos com os seus vestidos nas galas, que, apesar dos seus sete (!) casamentos, vive numa espécie de reclusão e não conta muito sobre a sua vida. Tudo muda quando, aos 79 anos, decide fazer um leilão solidário, vendendo os seus vestidos mais icónicos com o lucro a reverter para caridade, e contacta uma revista dizendo que quer ser entrevistada por uma jornalista pouco conhecida, Monique.


Monique é a narradora do livro. Com 35 anos, recentemente divorciada, jornalista de pouco sucesso, com a mágoa de o seu pai ter morrido quando ela era muito nova. Monique tem dificuldade em aceitar a sorte que tem quando percebe que Evelyn se recusa a dar a entrevista a outra pessoa - e mais ainda quando Evelyn revela que, mais que uma entrevista, quer contar-lhe toda a sua vida para que ela escreva um livro, uma biografia póstuma. Rapidamente, Monique apercebe-se que Evelyn é muito mais do que aparenta ser.


I'm under absolutely no obligation to make sense to you.


O livro está estruturado de modo a intercalar um pouco dos dias e sentimentos de Monique com aquilo que será a biografia de Evelyn, com alguns "recortes" de artigos que saíram sobre ela em inúmeros jornais ao longo dos anos. A estrutura, bem como a premissa de "ícone eremita decide contar a história da sua vida" lembraram-me um pouco de The Thirteenth Tale, o que não me repeliu, porque gostei do livro. Monique, aliás, como Margaret, é uma personagem um bocadinho sensaborona, com um desgosto de infância.


O livro vai avançando pela vida de Evelyn de forma cronológica, da sua infância e juventude na pobreza, e divide-se em váias partes, através de cada um dos seus casamentos. Evelyn revela-se e faz revelações chocantes; acima de tudo, mostra ser uma mulher pragmática, corajosa, vulnerável, determinada e cheia de falhas, tornando-se mais humana e menos "ícone" - precisamente o que ela pretende ao partilhar a sua verdadeira história - mas, ao mesmo tempo, a revelação dos seus gestos, dos seus actos, das suas motivações, tudo a torna larger than life.


Evelyn conta como fingiu ser mais velha para se casar com um rapaz do seu bairro e ir com ele para Hollywood, tentar a sua sorte como estrela de cinema - e como se divorciou dele, mais tarde, quando a chance surgiu. Evelyn admite tudo, sabe onde errou, sabe quem feriu no caminho, mas sabe que teria feito tudo da mesma maneira novamente, pela fama. É honesta, desconstrói o glamour associado aos anos dourados de Hollywood, mostra como é calculista, como se despediu de si própria, do seu nome, de quem amava, em nome do sucesso e da fama. É uma personagem fácil de amar e odiar ao mesmo tempo. É Elizabeth Taylor com os seus vários maridos, Rita Hawyworth com a sua herança cultural hispânica.


Don't ignore half of me so you can fit me into a box. Don't do that.


A entrevista começa com uma pergunta curiosa: quem terá sido o grande amor da vida de Evelyn? E o plot twist que serve de resposta é ainda mais fascinante. A história de Evelyn Hugo desafia o leitor, entre tragédias, dinâmicas de poder, morte, violência doméstica, famílias não convencionais e desgostos vários. E, apesar da multiplicidade de temas, a verdade é que o livro funciona, porque Evelyn faz com que seja tudo tão louco que faça sentido à medida que revela os bastidores da sua vida, dos seus casamentos, do pouco sobre si que era público. A sua vida, que se adivinhava escandalosa, acaba por o ser muito mais do que esperado.


A verdade é que Evelyn consegue vingar num mundo que a tentou alienar, entre pessoas que não queriam saber dela, ou cujo interesse nela era puramente sexual. Evelyn utilizou isso para sua vantagem, sabendo que errou em vários momentos, mas não deixando que nada a impedisse de alcançar o sucesso com que sonhava.


Este livro não é sobre a vida glamorousa de uma antiga estrela de cinema: é sobre uma mulher complexa, que viveu uma vida dupla durante décadas, escondendo várias facetas suas devido a uma compulsão por ser reconhecida, uma necessidade de ser apreciada, uma vontade de ser rica e famosa, num meio que promove as mulheres enquanto objetos sexuais, para poder contrariar a infância, vivendo no seu próprio inferno como consequência.


They are just husbands. I am Evelyn Hugo.


Porque Evelyn ficou. Casou sete vezes e sobreviveu a todos os seus maridos, ficou mais rica que todos eles, mais famosa, supostamente melhor. Conhecida por ter casado sete vezes, sim, mas conhecida. Não quero revelar muito sobre os vários factos que Evelyn escondeu ao longo dos anos; parti para a leitura sem os saber, e creio que o livro me prendeu mais precisamente por isso.


A vida de Monique, por outro lado, e o motivo pelo qual Evelyn a escolhe para a entrevista, acabam por não ser particularmente interessantes (percebi o que as ligava antes da revelação, infelizmente).


Não amei, mas prendeu-me. Queria sempre saber mais sobre a vida escandalosa e os segredos por trás das decisões de Evelyn Hugo. É uma personagem fascinante, e o livro não funcionaria de outra maneira, sem ser como uma "biografia", character-driven.


4/5


Podem comprar uma edição física na wook ou na Bertrandou em português, também na wook ou na Bertrand



Comentários

  1. Não consegui terminar este nem a Daisy Jones, por isso, só posso concluir que não é autora para mim. Acho-a muito de clichés e usa sempre a estratégia do mistério da pessoa que está a contar a história ser importante mas só revela no final. É pena, porque o audiobook do Daisy Jones é excelente, parece mesmo uma entrevista, mas já não aguentava aquela gente!
    Paula

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    1. pois, só tendo lido este, não o posso comparar ao daisy jones (que devo ler em breve, também, mais não seja porque são leituras leves e que não me ocupam muito a cabeça, o que também faz falta). achei interessante qb, mas li em ebook precisamente porque achei que não iria querer ter na estante, a ocupar espaço... mas percebo que possa ser muito de clichés. este acho que funcionou bem até ao quarto marido, depois achei um pouco forçado e é daquelas histórias que creio que poderia ter corrido melhor se tivesse ido por um rumo diferente.

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  2. Sete casamentos? Que brincadeira
    Um ser humano com vontade de ser rico e famoso, that's new
    Gostei da publicação apesar de não ter interesse nas personagens e, consequentemente, neste caso, na obra em si

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    1. isto vai soar absurdo, mas os quatro primeiros casamentos fizeram imenso sentido :$

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