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The Queen's Gambit

Sou possivelmente a única pessoa que ainda não viu a série.



O hype em torno da série quando saiu, no ano passado, não me passou ao lado, e por acaso até tenho subscrição da Netflix, mas ainda não aconteceu. A ideia de uma história no mundo do xadrez interessou-me, por tocar num mundo competitivo que conheço mal. Quando estava no básico, tinha um colega na turma que, em garoto, tinha ganhado um qualquer campeonato de xadrez, e às vezes jogava com ele, e é tudo. Não obstante esta falta de conhecimento da história em particular, decidi ler este livro, por motivos de recomendação.


A sinopse será, portanto, conhecida da maioria: numa narrativa situada algures nos anos 50/60 nos Estados Unidos, Beth Harmon, a personagem principal, fica órfã aos oito anos, vivendo os anos que se seguem num orfanato onde, privada de amor e afecto, toma tranquilizantes todos os dias (tal como todos os outros órfãos). Rapidamente se apercebe que pode ir guardando os comprimidos para uma altura em que lhe façam mais falta, para dormir melhor. Um dia, descobre Mr Seibel, um dos funcionários do orfanato na cave, a jogar xadrez sozinho, e começa a admirar os jogos, primeiro de longe, ignorada pelo funcionário.


Aos poucos, no entanto, e por o observar, começa a aprender o jogo sozinha e a fazer alguns comentários, levando o funcionário a ensiná-la até aos limites das suas próprias capacidades. E é aqui que Beth descobre a sua individualidade, o seu potencial e o seu talento.


It's an entire world of just 64 squares. I feel safe in it. I can control it; I can dominate it. And it's predictable. So, if I get hurt, I only have myself to blame.


Passado pouco tempo, Mr Seibel convida um amigo para jogar com Beth, sendo esta pouco tempo depois convidada a jogar num torneio de xadrez de uma escola secundária local. Beth parece estar a voltar a ganhar um propósito na sua vida, até que, após um incidente (relacionado com os tranquilizantes), é castigada e proibida de jogar xadrez,


Quando, aos 12 anos, é adoptada pelos Wheatley, Beth volta a procurar conforto e consolo no xadrez. Quando Alma Wheatley, a sua frágil mãe adoptiva, descobre o seu talento, torna-se quase sua agente e leva-a a todos os torneios, criando desculpas para ela faltar à escola, ainda adolescente.


E é esta a história de um prodígio do xadrez. À medida que a fama e as vitórias de Beth acumulam, a sua relação com os comprimidos, mas também com o álcool, torna-se mais dura e difícil, tornando-se talvez tão difícil de gerir quanto a sua rivalidade com o campeão mundial, um russo chamado Borgov. Porque esta não é apenas uma história sobre um prodígio de xadrez, sobre genialidade, mas também uma narrativa sobre vícios - Beth torna-se viciada nos comprimidos ainda no orfanato, mas depois descobre o álcool e utiliza ambos para fugir de si mesma e encarar os torneios cada vez mais competitivos.


She had flirted with alcohol for years. Now it was time to consummate the relationship.


Além do drama e da tensão dos jogos e competições (brilhantemente descritos), é de salientar também Beth. em geral. Não é fácil gostar dela, mas é fácil querer saber dela e do seu destino - introvertida, perdida desde muito nova, dando tudo de si naquilo que faz de forma admirável. A forma como se relacionava com todos em seu redor - desde Mrs Wheatley aos namorados e rivais dos torneios - demonstra claramente as suas dificuldades em lidar com pessoas, com o mundo, e mostra como, no fim, Beth estava apenas isolada e só, fosse por causa das circunstâncias trágicas da sua vida ou por ser um génio pouco compreendido.


She was alone, and she liked it. It was the way she had learned everything important in her life.


4/5


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Comentários

  1. Não és a única, também não vi a série! Honestamente, por mais que a premissa deste livro me pareça interessante, tenho um bocado alergia ao trope do génio incompreendido que se afoga no álcool, mas compreendo que seja uma parte importante da personagem da Beth. Já agora, li isto no outro dia: https://comunidadeculturaearte.com/nona-gaprindashvili-lenda-do-xadrez-processa-netflix-pela-serie-the-queens-gambit/

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    Respostas
    1. Sim, é um trope demasiado comum e que nem sempre é bem conseguido... aqui acho que funciona bem porque não começa no álcool, mas nos "tranquilizantes" que dão a todos, no orfanato, e acho que está bem escrito.
      também tinha lido isso :) dou razão à senhora! mas não me lembro de ler isso no livro...

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