Avançar para o conteúdo principal

The Girls Are All So Nice Here

Não é exactamente fácl escrever sobre este livro.


Novamente, talvez não o tipo de livro que eu costumo ler, mas às vezes sinto necessidade de um entretenimento mais simples. O que me atraiu na premissa de The Girls Are All So Nice Here foi saber que o livro tratava de uma reunião de turma, passados vários anos, e que o título era claramente uma mentira.

Se algum dia me convidarem para uma reunião de turma, seja da escola, seja da faculdade, garanto que não vou. As pessoas com quem ainda me dou são poucas, e tenho zero interesse nas demais. Quando Ambrosia Wellington, a narradora, recebe um convite por email para ir à reunião de dez anos do seu ano da faculdade (Wesleyan), a sua resposta imediata é apagar o email - um gesto que eu consigo compreender. No entanto, as nossas motivações são distintas.

Não tenho nenhum passado sombrio que procure esconder.

Quando, há mais de dez anos, li The Virgin Suicides, de Jeffrey Eugenides, gostei muito do livro, e a frase icónica de Cecilia ficou comigo desde então: "Obviously, Doctor, you've never been a 13-year-old girl.". O problema é que, a passo que Cecilia nunca soube o que era ter mais que 13 anos, os problemas de ser rapariga não desvanecem assim tão cedo. E este livro, de certa forma, aborda exactamente isso.

Ambrosia, de 31 anos, tem um emprego em relações públicas (não a carreira como actriz com a qual ambicionava quando foi para a faculdade), é casada com um homem alguns anos mais novo, Adrian, que a adora, que quer ter os filhos que ela não deseja, e vive numa casa demasiado pequena para o que gostaria, com uma vida casa-trabalho-casa que não é o que tinha idealizado. Mantém contacto com uma amiga da escola, e duas da faculdade. O seu desejo de ir à reunião é nulo (a ideia que os filmes passam é que essas reuniões são para mostrar as vidas incríveis de sucesso e riqueza que se alcançaram em dez anos), mas depois recebe uma nota anónima que diz:

We need to talk about what we did that night.

Ambrosia nunca esqueceu o que aconteceu "naquela noite", cerca de 14 anos antes, no freshman year. E é o medo que os acontecimentos dessa noite voltem a surgir e arruinem a sua vida, não perfeita mas confortável.

A narrativa vai alternando entre capítulos intitulados Now e Then. Em Then, descobrimos que Amb, ao ir para a universidade em Connecticut, só se queria livrar da sua vida suburbana de New Jersey, das memórias do namorado da escola que a traiu - no fundo, queria reinventar-se, junto de pessoas que não a conheciam de lado nenhum. Consigo compreender perfeitamente este desejo, enquanto pessoa que foi para uma faculdade onde não conhecia ninguém (onde ninguém saberia que eu era alvo de gozo constante em turmas anteriores). Assim, após anos a fingir que encaixava na escola, Amb decidiu fingir que encaixava com as raparigas de Wesleyan - mas, a passo que Flora, a sua efectivamente simpática colega de quarto, a enjoava com tanta simpatia, Sloane "Sully" Sullivan, colega de quarto de outra rapariga do mesmo ano, exerceu uma atracção magnética sobre Amb.

O problema é que "pertencer" ao mesmo grupo de Sully envolvia sexo casual, álcool, cocaína e crueldade aleatória para com diversos alvos.

She talked about guys like they were toys. But her favorite playthings were the girls.

E se este já é um preço elevado, tudo consegue piorar quando Ambrosia conhece o namorado-longa-distância de Flora, Kevin, e se apaixona por ele. É difícil sentir simpatia ao ver a altamente insegura Ambrosia entrar nos planos de Sully - ela era vulnerável, insegura, é certo, mas não parecia exactamente questionar o trainwreck em seu redor. Talvez fosse mesmo a vulnerabilidade, e o desejo intenso de ser aceite (de ser aceite por alguém que lhe parecia tão fixe e desejável) que a impediam de questionar as acções de Sully.

Não é comum ler um livro do ponto de vista do vilão.

Flora, entretanto, via Amb como sua melhor amiga, e Amb oscilava entre se sentir bem com a ideia e sentir asco, por achar que Flora era patética, um objecto de gozo, por confiar tanto em todos e aparentar ter uma vida perfeita.

Maybe that’s why I hated her - not because she had who I wanted but because she had what I wanted, qualities I could never embody when I tried. Because she was nice, and that was its own power.

À medida que a narrativa avança, vamos percebendo mais do passado tóxico de Amb, coisas que ninguém fora do seu círculo académico alguma vez soube. No presente, entretanto, Amb e Sully recebem mensagens cada vez mais ameaçadoras e apercebem-se que estão a ser perseguidas por alguém que, mais que querer a verdade do que se passou na tal noite, procura vingança.

Achei talvez os capítulos de Then mais interessantes (a maioria da acção está lá), mas o contraste com o Now foi interessante a vários níveis: o arrested development em que Amb se encontrava, ainda presa a uma paixão adolescente na qual não encontrou qualquer desfecho; as várias metamorfoses por que Amb passou, sem nunca ficar satisfeita; e o facto de que o trauma pode levar pessoas a acções inimagináveis.

3,5/5 não é brilhante mas gostei

Podem comprar edição física na wook ou na Bertrand; não existe (ainda?) em português



Comentários

  1. La cucaracha, la cucaracha
    Ya no puede caminar
    Porque no tiene, porque le falta
    Marihuana que fumar

    ResponderEliminar

Enviar um comentário