"Name one hero who was happy."
Após ter lido Circe, no ano passado, e gostado, fiquei convencida para ler The Song of Achilles e cheguei mesmo a projectar leitura conjunta com um amigo. Ele leu o livro, na altura, e não ficou nada convencido; eu por algum motivo só o li agora, mesmo tendo ouvido de várias pessoas que este seria ainda melhor que Circe.
A verdade (e sem rodeios) é que não fiquei 100% convencida com os Patroclus e Achilles que Madeline Miller aqui apresenta. Juntando várias versões do mito, tal como em Circe, Miller faz aqui uma narrativa mais coesa, cronológica e linear do que no outro livro, mas parece retirar (ou minorizar) muito do espírito e das maravilhas da mitologia grega.
Temos aqui a vida de Patroclus narrada pelo mesmo, com uma breve incidência sobre a sua infância até à sua ostracização de casa do seu pai, que o conduziu ao exílio em Phthia, casa do rei Peleus, pai de Achilles, que tinha por hábito albergar jovens órfãos ou exilados (para, percebemos depois, criar um exército). O interesse de Patroclus por Achilles é basicamente imediato, ao passo que o seu interesse por treinos bélicos é nulo; os dois rapazes acabam por formar uma amizade muito próxima, não aprovada por Thetis, a ninfa mãe de Achilles.
A atracção e a relação entre ambos não é apressada, mas construída de forma natural - amigos desde a infância, inseparáveis pouco depois, demasiado dependentes um do outro sem dúvida.
He was a marvel, shaft after shaft flying from him, spears that he wrenched easily from broken bodies on the ground to toss at new targets. Again and again I saw his wrist twist, exposing its pale underside, those flute-like bones thrusting elegantly forward. My spear sagged forgotten to the ground as I watched. I could not even see the ugliness of the deaths anymore, the brains, the shattered bones that later I would wash from my skin and hair. All I saw was his beauty, his singing limbs, the quick flickering of his feet.
Problema #1: apesar de estarmos a ler do ponto de vista de Patroclus, nunca compreendi ao certo o porquê de ele amar Achilles. É por ser bem-parecido e se ter dignado a reparar nele, ao contrário de todas as outras pessoas até então (Patroclus era desprezado pelo próprio pai)? Não sei - algo parece faltar, há momentos que parecem um pouco resumidos, o que, para mim, torna o livro enquanto romance muito pouco convincente. A vida de Patroclus resume-se a Achilles, há demasiada dependência, vai atrás de Achilles mesmo quando não era suposto ir, e Patroclus era, segundo a lenda, um guerreiro decente qb, ao passo que aqui é descrito como fisicamente fraco, existente praticamente apenas em relação a Achilles e nulo em quase todos os aspectos da vida.
Talvez por isto, o livro tende algo para o aborrecido. Tem como facto de redenção ser muito fácil de ler, mas é a tal questão - a relação principal não me convence. O livro tem momentos de grande beleza e profundidade emocional, sim - mas o ritmo é estranho, a narrativa arrasta e a repetição é demasiado frequente. Um outro problema é que o ódio ou desprezo que vários personagens demonstram sentir por Patroclus não parece advir de uma ideia de inferioridade por este ser mortal (ao passo que Achilles é semi-Deus), mas sim homofobia moderna (e qualquer pessoa que tenha lido O Banquete ou tenha algum conhecimento menos superficial da civilização grega sabe que as coisas não eram bem assim).
Achilles, talvez por ser a personagem que observamos pelos olhos de Patroclus, não está particularmente bem desenvolvido. Parece ter ideias de grandeza, alimentadas por todos em seu redor, mas está, simplesmente, destinado a morrer na batalha, a ser um dos grandes dos gregos, sim, mas não um Deus da guerra (nunca um Deus).
Vale a pena mais pelo final - gostei bastante a partir do momento em que a guerra de Tróia começa a ficar exaustiva -, no fim do livro dá, finalmente, para compreender um pouco mais da profundidade dos sentimentos de ambos, mas não acho suficiente e talvez tenha sido eu que não compreendi bem o livro, porque toda a gente o parece adorar absolutamente e eu achei que, apesar da atmosfera, do contexto, de várias subtilezas, há partes que roçam a fanfiction. Porque mesmo do ponto de vista mitológico, a vida amorosa e privada dos heróis não adianta muito sobre as bases da civilização clássica - e o romance de Achilles e Patroclus é 90% do foco do livro.
He is a man. Not a god. Shoot him and he will die.
Ponto positivo à interpretação de Miller da lenda de Achilles, que é mais conhecida pelo calcanhar, mas que não é a única possível apesar de, actualmente, lhe parecer essencial e inevitável.
3,5/5 juro que gostei do livro, as expectativas é que são lixadas e não acho a co-dependência extrema assim tão bonita
Podem comprar uma outra edição em inglês, sem breastplate sensual na capa, na wook ou na Bertrand; actualmente, esgotado em português, mas já ouvi dizer que vai haver reedição.
A mim por acaso intrigou-me mais o que é Aquiles viu no Pátrocolo e não tanto o contrário :p Mas foi um problema que não me incomodou muito, adorei o livro :)
ResponderEliminarmas isso acho que é porque o Patroclus, o narrador, foi deitado abaixo pelo pai na infância e é tudo o que sabemos dele - que o pai o via com maus olhos. por esse lado, não sei o que nenhum deles viu no outro :) o resultado é que a relação me pareceu muito vápida...
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