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The Woman In Black

Decidi ler este livro logo após The Woman in White, de Wilkie Collins, para fazer uma sequência de mulheres monocromáticas (a mim, fez sentido).


I did not believe in ghosts.
What other explanation was there?

Escrito nos anos 80 mas com um ambiente de gótico vitoriano, com um verdadeiro old-time feel, este livro, passado também algures em tempos mais remotos, é narrado por Arthur Kipps e, à boa maneira das histórias de fantasmas, o próprio narra com alguma incredulidade uma situação pela qual passou, vários anos antes, que o traumatizou, e que ainda não consegue bem racionalizar. Não sendo exactamente uma história de autêntico terror (se é que eu sei ao certo o que isso é), tem uma atmosfera específica, uma sensação premente de medo. 

Arthur é um homem algures nos seus 40-50 anos. É natal, e os seus enteados decidem seguir a boa velha tradição de contar histórias de fantasmas, o que acaba por tirar Arthur do sério, sendo que ninguém percebe o porquê; após alguma auto-reflexão e auto-psicoterapia, Arthur decide escrever uma história de fantasmas que ocorreu realmente, na sua própria vida, algumas décadas antes, numa espécie de exorcismo (hah!).

Regressamos então a quando Arthur era um jovem advogado, trabalhando numa firma em Londres, a quem é pedido que vá cuidar do património e da papelada desorganizada da recém-falecida Mrs. Alice Drablow, na terra fictícia de Crythin Gifford. No funeral, Arthur é basicamente o único presente, mas vê, ao longe, uma mulher de preto, de ar doente ou talvez fantasmagórico - a mulher do título, que o vê também.

Após o funeral, Arthur é levado a Eel Marsh House, a casa de Mrs. Alice Drablow, onde tem de organizar todos os papéis e perceber se há sequer algum documento relevante no meio do que é basicamente tralha. Com as marés, Eel Marsh House fica remota e isolada do resto da civilização, pelo que é preciso que Arthur Kipps vá e volte a horas muito específicas, na carroça do único habitante da aldeia que se digna a aproximar da casa. Arthur tem ainda a opção de pernoitar na casa, que ninguém lhe recomenda, mas que lhe permite despachar o trabalho o quanto antes, impressionar os patrões e voltar para o pé da sua noiva.

Eel Marsh House não é animadora - velha, em desuso, com barulhos que não deixam Arthur muito confiante. 

Whatever was about, whoever I had seen, and heard rocking, and who had passed me by just now, whoever had opened the locked door was not 'real'. No. But what was 'real'? At that moment I began to doubt my own reality.

Não direi nada de novo: esta é uma história de fantasmas, e Arthur rapidamente chega à conclusão que a casa está assombrada. Não se tenta convencer do contrário, e recebe muito pouca informação por parte dos habitantes locais, que sabem claramente mais do que lhe dizem. Entre os documentos que organiza, encontra cartas, certidões, e completa o puzzle que lhe diz quem é o fantasma e quem é a mulher de preto.

Arthur é um bom protagonista, sendo que o livro, curto, não foca particularmente em nenhum dos outros personagens. A atmosfera do livro é perfeitamente descrita, entre as reacções das pessoas aos vários eventos e a atracção que Eel Marsh House tem em Arthur. A narrativa demora algum tempo a arrancar, mas até lá temos belas descrições do cenário que enquadra a obra.

O fim é algo abrupto, e surpreendeu-me porque eu vi há uns anos o filme com o Daniel Radcliffe, que oferece closure e algum tipo de resolução ao conflito com a mulher de preto; aqui, pelo contrário, Arthur acaba por compreender que a força que está a enfrentar é maior que ele, o que também é compreensível (eu acho que teria fugido muito antes).

4/5

Podem comprar uma outra edição em inglês na wook ou na Bertrand; o livro foi traduzido para português pela Suma de Letras, com uma capa horrorosa com o Daniel Radcliffe, mas aparenta estar esgotado.



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