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Cats of the Louvre

Cats of the Louvre, de Taiyo Matsumoto, é um de uma série de livros comissionados pelo Louvre, nos quais se inclui Os Guardiões do Louvre, editado em Portugal pela Levoir (e que eu ainda não li).



Recebi este livro como prenda de Natal, acertadamente, porque Louvre e gatos. Li ainda no início do ano, chegando só agora a disponibilidade para escrever uma opinião.


Sem surpresas, a grande maioria da narrativa é dentro do Museu do Louvre, nos seus jardins ou nas Tuilleries. Temos dois grupos principais de personagens: um grupo de pessoas que trabalham no Louvre (guias, guardas nocturnos) e uma colónia de gatos que vive no sótão do museu, e que é cuidada por um dos guardas nocturnos. Gosto muito do conceito de um grupo de gatos que vive dentro de um museu que outrora fora um palácio.


À medida que a narrativa avança, descobrimos duas coisas: primeiro, que alguns indivíduos (humanos ou felinos, pouco importa) têm a capacidade de ouvir os quadros, a arte, e de entrar nos mesmos, como que por magia. Esta possibilidade é muito interessante e gostei muito da ideia. Segundo, que os gatos, quando sozinhos, são frequentemente retratados de forma antropomórfica assustadora reminiscente de estereótipos franceses (que, ressalvo desde já, se tornou num imediato impedimento de dar 5/5 ao livro).




O livro começa devagar. Cécile, guia, apercebe-se da presença de um pequeno gato branco no Museu enquanto faz uma tour. Pouco depois, conhece o guarda nocturno, que lhe apresenta todo um outro lado do Museu que não é visível nem durante as horas de abertura, nem a olho nu. Cécile fica cada vez mais entrosada neste lado do Museu, com os seus mistérios: os gatos, os quadros que convidam alguns indivíduos a fazer parte deles, e a pequena irmã do guarda nocturno, que desapareceu no Museu cinquenta anos antes, e que o guarda ainda procura.


É um livro único e, por vezes, difícil de seguir. O estilo do livro é muito bonito, com retratos detalhados do edifício do Palais du Louvre e de algumas das suas obras de arte e quadros. Os personagens são incomuns, tanto os humanos como os felinos, dos quais se destaca Snowbebé, o gato branco que Cécile vira, e que, apesar dos seus seis anos, aparenta ainda ser bebé. Snowbebé sente-se atraído e chamado por vários dos quadros, tendo uma forte afinidade com a arte, que talvez se prenda com a sua incapacidade de crescer (afinal de contas, a irmã do guarda nocturno também desapareceu em criança). A narrativa vai avançando com pequenas histórias sobre vários dos personagens ou obras do Museu, reunindo-se todos os eventos no final.


Não é o livro fofinho com gatos que se poderia antecipar pelo título (até por causa dos gatos antropomorfizados... teria preferido, e muito, se se tivessem mantido sempre felinos), mas é um conto surreal muito bonito, assombroso, assim que se entra na narrativa e se ultrapassa o factor felino-humano. É esquisito, sim, mas emocional e profundamente artístico.


Tradução de Michael Arias.


4/5


Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand


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