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Painting Time

Tinha muita vontade de ler Maylis de Kerangal porque consta que os seus livros são extremamente focados numa temática.


Assim, peguei no seu mais recente, Painting Time, que segue Paula, uma jovem adulta francesa que, à falta de melhor vocação, decidira estudar, em Bruxelas, numa escola especializada, a arte do trompe l'oeil - as imitações de materiais, de texturas, através da pintura. No início do livro, Paula reencontra-se com dois dos seus antigos colegas, Kate e Jonas, casualmente, anos após o final do curso.

Paula hugs them in front of the hotel entrance, see you tomorrow, the big day, but she doesn't leave right away, stays there watching them through the glass, not letting her eyes leave them as they cross the lobby to the elevator, slow and calm; and then her eyes progressively frame them in a reality that has finally detached from her own in order to become theirs, as if they suddenly belonged to another world, as if they were characters in a film, moving inside a story from which she was absent.

No Outono de 2007, os três, juntamente com outras pessoas, começam a aprender a reconhecer, para mais tarde poderem imitar madeira, mármores, outras pedras, de modo a que as suas pinturas pareçam tão reais quanto o material ornamental verdadeiro e mais caro, criando ilusões, enganando o olho. As descrições são muito detalhadas, opulentas, decadentes. Mais tarde, é suposto trabalharem em cenários de filmes, de exposições, fazerem artes decorativas. Após o final do curso (durante o qual Paula e Jonas tiveram uma não-relação), seguimos Paula nos seus biscates ao longo da Europa, até que regressa a França, às Caves Lascaux, para fazer parte do Lascaux IV.

Pelo caminho, sabemos mais sobre a família e a infância de Paula, o estrabismo, os seus complexos de inferioridade e incapacidade de acreditar em si mesma. Os outros personagens, porém, parecem meros acessórios, inconsequentes.

A forma como as frases são escritas, ligadas por algumas vírgulas, faz desta leitura algo desafiante ou, pelo menos, demorei a entrar no ritmo. Apesar da beleza da premissa, e de algumas passagens, fica a sensação de que o livro não será memorável.

There are shapes of absence as intense as presences, this is what she thinks to herself as she presses her forehead to the fence, leaning towards the world that opens here, concealed, no more than ten metres away, a cave where they had identified nothing less than the birthplace of art.

Fico curiosa para os outros, nomeadamente o do transplante de coração.

Tradução de Jessica Moore.

3,5/5

Podem comprar uma edição física na wook ou na Bertrand; ou em português, na wook ou na Bertrand (obrigada, Paula!!)


Comentários

  1. Quero lê-lo, porque ando sempre à procura de livros que me façam lembrar o Nervo Ótico, mas nunca vejo a opinião que me empurra definitivamente a fazê-lo.
    E tenho o da ponte e o do transplante ali encostados a ganhar pó. Deste último tenho algum medo, parece-me fortíssimo!
    Em Portugal, este foi editado pela Teodolito como Um Mundo ao Alcance da Mão.
    Paula

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    Respostas
    1. Sim, acredito que esse seja especialmente forte :) também gostei muito desse da Maria Gainza, pelo que o segundo (do qual também gostei, atenção) desiludiu um pouco... esperava que seguisse a mesma estrutura.
      Olha, pois foi! Tens razão. Não tinha lá chegado, pelo título... vou editar.

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