Avançar para o conteúdo principal

Death and the Penguin

Tinha este livro na estante desde o ido verão de 2016, mas soarei básica quando disser que o que finalmente espoletou a sua leitura foi a guerra na Ucrânia e o subsequente desejo de ler algo ucraniano.



(soarei menos básica porque não vi muita gente a fazer o mesmo, talvez)

Death and the Penguin é uma obra satírica, dos meados dos anos 90, da autoria de Andrey Kurkov, e que tem uma sequela que não possuo e nunca li, intitulada Penguin Lost. O Pinguim do título é literal: quando o Zoo de Kyiv deixa de ter capacidade de alimentar todos os seus animais, coloca-os para adopção, circunstância na qual Viktor, um escritor não realizado, adopta Mischa, o pinguim, com quem vive em total solidão.

Life was a road, and if departed from at a tangent, the longer for it. And a long road was a long life - a case where to travel was better than to arrive, the point of arrival being, after all, always the same: death.

Viktor alimenta Mischa com peixe congelado, e enche-lhe a banheira. Ainda assim, Mischa parece infeliz, talvez replicando as emoções de Viktor, pobre, sem sucesso com suas histórias infantis, sozinho. Um dia, Viktor é contratado para escrever obituários para ucranianos ricos, poderosos, famosos e influentes que não morreram ainda (algo que me recordou um pouco de Afirma Pereira); Viktor, apesar de escrever sob um pseudónimo colectivo, alcança o sucesso pela via da escrita, embora não da forma como sempre sonhara, e a sua vida começa a ficar mais absurda e a abarcar mais pessoas, como Mischa-non-penguin (um Mischa humano) e a sua filha Sonya, pinguinologistas (esta palavra certamente não existe em português, mas não irei investigar), Sergey um quase amigo de conveniência e a sua sobrinha Nina...

Odd times to be a child in. An odd country, an odd life which he had no desire to make sense of. To endure, full stop, that was all he wanted.

Com todas estas pessoas, e com o novo emprego, vem o dinheiro, e uma vida quase convencional (não obstante Mischa, o pinguim). No entanto, quando as pessoas cujos obituários inspirados Viktor escrevia começam a morrer em circunstâncias misteriosas, a sua vida altera, e Viktor começa a chamar a atenção da máfia russa (ou ucraniana).

The full story is what you get told only if and when your work, and with it your existence, are no longer required.

Não obstante o aparente absurdo, o livro é coerente, e tem comentário político e social satírico e relevante. Parece o tipo de narrativa que não irá funcionar (demasiado absurdo, demasiado pinguim), mas funciona. Gostava de ter gostado mais do livro, porque há muito que tinha curiosidade, mas acho que as circunstâncias do meu mês de Março não me permitiram desfrutar como gostaria.

Deixo também aqui esta recente entrevista do The Guardian ao autor, da qual gostei bastante.

Tradução de George Bird.

3,5/5

Podem comprar uma outra edição na wook ou na Bertrand, que no momento da escrita deste post está esgotada mas creio que será momentâneo; este livro chegou a ser traduzido para português com o título "Morte de um estranho", pela Temas e Debates, mas está esgotado


Comentários

  1. Básica ou não (não, digo eu!), fiz o mesmo. E descobri que alguns dos russos com que se enche a boca nasceram no que agora é a Ucrânia. Gogol, who knew?! Li nos últimos tempos os ucranianos Isaac Babel e Irene Némirovsky e, apesar de não teres considerado este livro do Kurkov nenhuma obra-prima, também quero lê-lo.
    Paula

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bulgakov também!
      Não li nenhum dos dois, ainda :) Némirovsky tenho aqui para ler.
      Li este muito durante a maleita da Mimi, nos primeiros tempos, o que pode não ter mesmo ajudado... gostei, mas ficou aquém, embora seja uma boa história :)

      Eliminar

Enviar um comentário