O Número 73304-23-4153-6-96-8

Aquilo que começou por me intrigar mais foi o estilo artístico de Thomas Ott.

Uma novela gráfica sem palavras pode não ser algo inédito para mim, mas a técnica de "raspar" com uma lâmina uma tela preta de modo a descobrir a camada branca por baixo é algo que nunca esperei ter o detalhe e emoção que O Número 73304-23-4153-6-96-8 me transmitiu, os sentimentos, as acções, mais ainda sem palavras, numa visão criativa sem os limites da linguagem (dá a impressão, nesta obra em particular, que palavras poderiam atrapalhar).

No fim de uma execução, um guarda prisional encontra um pedaço de papel que terá caído de um bolso ou da mão do condenado, com a sequência de números 73304-23-4153-6-96-8. Por curiosidade, apanha e guarda esse papel, cujos números não têm significado aparente - não até que estes começam a aparecer em vários locais na sua vida, na tatuagem na orelha de um cão (técnica identificativa que agora terá sido substituída por microchip), num jornal, num relógio, num contacto telefónico, sempre na sequência apresentada no papel.

 

O guarda começa a "seguir" o rasto destes números - e o que se segue é uma história estranha, fantástica, sobrenatural, com um toque de terror, ao passo que este homem outrora solitário (diria que a sua ocupação não favorece a vida em sociedade) encontra o amor, dinheiro, quiçá felicidade, mas toma depois um rumo mais sinistro.

Os números nesta obra parecem quase premonitórios, pesados, demasiado presentes, exercem terror psicológico sobre o protagonista mas também sobre o leitor. É impossível resistir a seguir a vida deste homem assim que é "apanhado" pela estranha sequência de números, nesta espécie de maldição, presente envenenado ou bizarra coincidência.

5/5

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