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Género Queer

Género Queer foi o livro mais banido de 2023 da American Library Association. O mundo está especialmente tenebroso ultimamente no que respeita a liberdade expressão e liberdade de simplesmente ser e estar, portanto achei que era a altura ideal para requisitar na minha biblioteca.



Nesta obra, Maia Kobabe detalha a sua vida e o seu crescimento, com foco especial na sua viagem em torno da sua sexualidade e identidade de género - claramente um livro escrito com propósitos de catarse, com a evolução do seu sentimento de "eu" e a muita confusão que daí advém, especialmente quando não se encaixa facilmente nas "caixas" definidas pela sociedade. Maia questiona desde cedo o que lhe é ou não permitido fazer tendo em conta o género que lhe foi assignado à nascença e, com a puberdade, a relação com o corpo tem contornos mais confusos que o habitual. Na juventude, começa a conhecer novos temas e termos que levam as suas questões mais longe e ajudam a que possa formar uma melhor ideia da sua identidade.

Foi muito interessante ler os sentimentos de Maia sobre o seu corpo em temas como a menstruação, a penetração, a falta de vontade de ter filhos, mas também como procurava a sua identidade de vários tipos de formas como, por exemplo, através dos seus crushes, interesses, livros e fandoms enquanto adolescente. Esperava uma história de coming of age forte, mas não sabia que ia ficar fascinada com todo o tipo de informação sobre, por exemplo, neuroquímica, que foi incluída.

 

A arte é simples e acessível, fácil de seguir, com apenas algumas páginas mais abstractas e, em geral, cores apelativas (como os laranjas, verdes e azuis da capa) e expressiva, o que, tudo junto, ajuda a transmitir bem as mensagens e emoções ao longo da narrativa.

Num livro de memórias maioritariamente episódico, nem sempre todos os episódios parecem ter o mesmo tipo de relevo ou reflexão - talvez porque a memória é um instrumento falível, ou talvez por alguns assuntos estarem "melhor arrumados" para Maia. Acho que este tipo de livro é extremamente importante não só para trazer visibilidade, como para mostrar que não se está sozinho neste tipo de questionamento. Não entendo por que motivo este livro é tão polémico e chocante que deva ser banido.


Nota: Maia Kobabe utiliza pronomes Spivak, explicando no livro como os descobriu, e como há diversas maneiras potenciais de uma pessoa se identificar de forma a sentir-se bem. Eu não percebo Spivak, portanto tentei escrever esta opinião da forma mais gender neutral possível sem recorrer a pronomes.

A tradução (cuja ficha técnica indica ter havido apenas revisão para linguagem neutra) estava, em vários momentos, confusa para dizer o mínimo (chamar solarengo a um dia, "entrada de jornal" para uma clara "journal entry", a diferença entre freshman/junior year na escola e na faculdade, ou "podíamos descalçarmo-nos" com um "mos" a mais). 

Tradução de Elga Fontes e revisão do texto para linguagem neutra de Marta Maia da Costa

4/5

Podem comprar esta edição na wook.




Comentários

  1. Nunca há razões para banir livro nenhum, digo eu...
    Desculpa ser velha do Restelo, mas meter a linguagem neutra ao barulho quando ainda não se domina a língua de partida nem de chegada numa obra é realmente estranho...
    Paula

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    Respostas
    1. Também não acho que haja razões, mas evocam-nas de vez em quando e eu nem percebi o que este livro tinha de tão chocante - mas, como já te disse uma vez em comentários algures perdidos neste blog, havia Milo Manara na biblioteca da minha escola do 5º e 6º ano.

      A tradução está de facto fraquinha, digo eu que não sou tradutora mas que tenho a idade de quem escreveu o livro (menos um ano, vá), escrevia em diários e nunca chamei aos meus escritos "entradas"...

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