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Onde Vivem os Monstros

Continuamos em #Marçoilustrado, desta feita com um clássico: Onde Vivem os Monstros, de Maurice Sendak.



Vi o filme que adapta este livro há muitos anos, não tendo guardado do mesmo quaisquer memórias, fora imagens vagas dos monstros. Diria que foi precisamente por ter achado o filme pouco marcante que demorei até chegar a este livro.

Um pequeno rapaz chamado Max veste-se de lobo, brinca com ferramentas, chateia o cão e ameaça comer a mãe (trigger warning: canibalismo?). Com todo o caos que ele cria na casa, claro que a mãe se chateia com ele e manda-o para o quarto de castigo, sem jantar.

 

Perante o castigo, Max decide ir na sua própria aventura, para escapar às suas emoções intensas e confusas, que tem dificuldade em compreender. Acompanhamo-lo na transformação do seu quarto, e enquanto ele viaja para uma ilha distante, habitada por criaturas tão selvagens/monstruosas quanto ele. 

Mas Max não tem medo dos monstros, nem dos seus enormes dentes - Max manda neles, e eles acham-no superior a eles em monstruosidade. Max é aceite e celebrado pelos monstros, que o compreendem como é, e às suas emoções.

Porém, também esta "liberdade" cansa - Max fica com saudades de casa, e regressa, vê que a mãe lhe deixou o jantar pronto, ainda morno, apesar de o ter mandado para a cama sem comida, numa demonstração de amor incondicional - não obstante o que ele faça, e como ela reaja (e como ele reaja!), ela estará presente para ele.

As ilustrações de Sendak são sempre maravilhosas. Li os livros do Urso Pequeno que ele ilustrou, e a expressividade em imagens que parecem, à primeira vista, tão simples, destaca-se sempre. Na verdade, Onde Vivem os Monstros tem pouquíssimas palavras, e páginas que não as têm de todo, o que atesta a capacidade destas ilustrações de conduzirem a história por si só.

 

Max utiliza a sua imaginação (selvagem, como ele) para lidar com a frustração, com a raiva, com a força que a raiva por vezes traz e como isto se pode tornar assustador - e, no fim do dia, o que se quer é voltar ao conforto do lar, ser-se amado pelo que se é, raiva e tudo. E talvez Onde Vivem os Monstros seja sobre a distância não física da família, sobre este desejo de se ser amado incondicionalmente. A solidão e o desejo de ser compreendido são palpáveis no livro, e o final é de um perdão tão absoluto (o jantar ainda quente) que parece ser também fantasia.

Tradução de Elisabete Ramos

5/5

Podem comprar esta edição na wook.


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