No livro de Fevereiro do FOMO Challenge 2025, Virginia Woolf convida-nos a seguir um dia na vida de Mrs. Dalloway.
Apesar de nunca ter lido Mrs. Dalloway, o mais conhecido dos livros de Virginia Woolf, esta não foi a minha primeira experiência com a autora: em adolescente, li Orlando (que carece de releitura, mais de meia vida passada), dez anos depois li The Waves e, mais recentemente, li Flush, que sai muito do âmbito da restante obra.
Mrs Dalloway é, como eu disse, um dia na vida de Clarissa Dalloway, uma mulher de alta sociedade em Londres no pós Primeira Guerra Mundial (circa 1925). Neste dia em particular, Clarissa Dalloway vai dar uma festa - uma de muitas que costuma dar. As suas preocupações habituais prendem-se com relações, ligações e sociedade (note-se o título - a identidade que lhe é conferida pelo casamento) e, desta vez, é indirectamente assombrada por fantasmas do passado, quando um interesse romântico de há mais de 30 anos resolve aparecer. Clarissa passa o dia a preparar-se para a noite, mas a pensar na vida, na morte e nas suas relações passadas - em Peter Walsh e Sally Seton - e no que aconteceu com a sua vida. Em como, algures no tempo, a sua identidade se tornou naquilo - em Mrs. Dalloway.
But - but - why did she suddenly feel, for no reason that she could discover, desperately unhappy?
Em paralelo, acompanhamos também parte do dia de Septimus Warren Smith, um jovem que serviu na guerra, se casou com uma rapariga italiana, Lucrezia, e sofre claramente de stress pós-traumático numa altura em que não se falava, nunca e de maneira nenhuma, em stress pós-traumático. Embora Clarissa e Septimus não se conheçam, nem se cruzem ao longo do dia (embora estejam ambos em Londres), as acções dele acabaram por a afectar.
Dos romances de Virginia Woolf - excluo, aqui, Flush -, senti que este era o mais fácil de seguir, sendo igualmente stream of consciousness mas talvez mais linear, apesar dos monólogos internos, dos temas pouco coesos em partes e das mudanças abruptas de ponto de vista da narrativa. Estes pensamentos e sentimentos dos vários personagens são, na sua maioria, mostrados sem julgamentos ou culpas, embora eu creia que Virginia Woolf não está totalmente ausente da obra, mas sim se inseriu no livro, não como Clarissa, mas como Septimus.
Entre várias camadas de questões mundanas e interacções entre vários personagens, temos acesso ao estado mental e ansiedade de muitos destes, os seus desejos escondidos, os seus amores nunca esquecidos. É fácil empatizar com Clarissa, apesar de ser, em vários momentos, descrita como snob, e aparente ter tudo, menos felicidade; é ainda mais fácil empatizar com Peter Walsh, cuja vida é o resultado de várias más escolhas que toda a gente reconhece como tal; e Septimus, que, ao olho moderno, será decerto mais que um jovem "fraco" ao ponto de ter ficado traumatizado, traz uma visão muito interessante da forma como a saúde, nomeadamente a psiquiatria, era vista na altura.
Há muito de crítica social e dos estratos da sociedade neste livro, mas não acompanhado do humor que, muitas vezes, permeia críticas de costumes. Gostava de saber mais da sociedade inglesa pós-vitoriana e pós-guerra para melhor compreensão do livro, mas acredito que muita da conhecida repressão vitoriana seja o que, nesta obra, palpavelmente impede os personagens de se exprimir em variados momentos.
Peter would think her sentimental. So she was. For she had come to feel that it was the only thing worth saying – what one felt. Cleverness was silly. One must say simply what one felt.
Foi-me muito difícil entrar neste livro - apesar de parecer tratar de eventos mundanos (festas, relações sociais e interpessoais, eventos passados num dia apenas), é um livro bastante denso e que requer bastante disponibilidade mental.
Ainda estou a ler. Comecei com muito entusiasmo, mas depois passou para a perspectiva do Peter e eu queria era Clarissa nos dias de hoje... Vai devagarinho.
ResponderEliminarPaula
Também foi muito, muito devagarinho para mim :) o primeiro livro do desafio lia-se num instante e este arrastou!
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