Avançar para o conteúdo principal

Luuanda

Minha estória. Se é bonita, se é feia, vocês é que sabem. Eu só juro que não falei mentira e estes casos passaram nesta nossa terra de Luanda.


Este livro surpreendeu-me de diversas maneiras, a primeira das quais o facto de ser um livro com três contos (algo que eu não sabia nem esperava - esperava uma narrativa contínua). Também não é uma leitura fácil: não só pelas expressões e frases inteiras em quimbundo, língua com a qual não estou de todo familiarizada (o que me levou a recorrer frequentemente a um glossário no final do livro) - o português usado é muito, muito africano -, como pelas situações de miséria descritas.

As personagens são sempre muito humildes: a avó pobre, desiludida com o passado, e o neto que , desiludido com o presente e com a falta de emprego, apesar da falta de dinheiro e da fome, da muita fome, quer camisas coloridas para arranjar namorada; o deficiente que só queria o amor de uma rapariga e o disputa com um papagaio, segundo entende; a luta por um ovo (quando uma galinha que anda de quintal em quintal mete o ovo em quintal alheio, a quem é que este pertence?), e a tentativa de apropriação do mesmo por agentes externos (tal como, no colonialismo, agentes externos entraram em Angola para se apropriar da sua riqueza).

Como é que o autor nos prende o interesse num ovo durante tanto tempo?

Há um forte sentimento de tradição oral nas histórias relatadas, seja pelas expressões utilizadas, seja pelas temáticas. Escrito num momento histórico para Angola (o início dos anos 60), este livro vira a atenção para os musseques, os bairros pobres de Luanda, numa perspectiva talvez utópica em que, em todas as histórias, tudo acaba bem - sendo talvez curioso salientar que o autor se encontrava preso na altura em que escreveu o livro.

Embora tenha considerado interessantes os três contos, a verdade é que a narrativa era lenta e muitas vezes frustrante por não parecer avançar. Compreendo a importância e o simbolismo da obra, sem dúvida - mas de leitura difícil não só pela escrita (lenta, com muitas expressões em quimbundo) como pelas temáticas, não foi a leitura mais agradável.

3/5

Podem comprar esta edição aqui.

Comentários