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Call Me By Your Name

Esta review foi particularmente difícil de escrever.


O motivo prende-se, naturalmente, com o facto de já ter visto tanta coisa escrita sobre o livro...

Vi o filme em Janeiro ou Fevereiro. Fui vê-lo cheia de entusiasmo - já tinha o livro na wishlist desde 2009, mas a saída do filme relembrou-me deste facto. Gostei bastante do filme (é visualmente muito bonito), embora não tenha ficado apaixonada. O interesse no livro voltou a despertar, mas só o li em Julho.

Apesar de ter este livro na wishlist há tanto tempo, a verdade é que este é o tipo de livro que não me apela particularmente... um romance de verão, linguagem floreada, introspecção romantizada de um adolescente. No entanto, a linguagem floreada acertou em cheio para mim, porque este é o tipo de livro que eu não apreciaria pelo conteúdo, pela história que é contada, mas sim na forma em que é narrada. Na linguagem. Que é, por vezes, um bocado pretensiosa.

Call Me By Your Name é, como toda a gente por esta altura saberá, um livro sobre Elio, um rapaz italo-americano de 17 anos que, todos os anos, é "forçado" a ceder o seu quarto na casa de verão da família, em Itália, a um hóspede que ajudará o seu pai, académico, na sua pesquisa e no trabalho mais burocrático da faculdade durante seis semanas. O hóspede é, desta vez, Oliver, de 24 anos, com quem Elio fica profundamente obcecado, de forma tão romântica como sexual. Passamos o livro na cabeça de Elio, e grande parte do livro é esta obsessão e as suas fantasias com Oliver, as preocupações que advêm da sua paixão. Por vezes, Elio sente que nunca se aproximará o suficiente de Oliver; por vezes, odeia-o. Na maioria das vezes, acha que Oliver é demasiado bom para ele. No fundo, são todos sintomas deste tipo de paixão, febril, obcecada.

Later that evening in my diary, I wrote: I was exagerrating when I said I thought you hated the piece. What I meant to say was: I thought you hated me. I was hoping you’d persuade me of the opposite—and you did, for a while. Why won’t I believe it tomorrow morning?

Ou seja, o que distingue este livro de outros romances de verão é o facto de não ser o cliché de duas pessoas que se conhecem, vão-se aproximando, chateando e acabam juntas. E, nesse ponto, toca naquilo que é a realidade - mais que isso, as personagens, longe da perfeição, chegam a aborrecer o leitor. O Elio é irritante porque tem um complexo de superioridade de criança inteligente que leu muito e fala de referências culturais, literárias, musicais e artísticas a mais. Pessoalmente, confesso que odeio o Oliver.

You'll kill me if you stop.

No entanto, e para contrabalançar, muitas das cenas - talvez por serem contadas tão "de dentro" da cabeça de Elio, talvez por todos os sentimentos, talvez pela escrita pretensiosa - parecem um sonho... os cenários idílicos, as pessoas demasiado bonitas, o facto de poderem ficar todos a preguiçar ao sol durante semanas a fio.

Mas regressemos às personagens principais: é belíssima a descrição de Elio a imaginar o que poderia dizer ou ter dito a Oliver, o que Oliver lhe poderia responder, os diálogos fabricados na sua cabeça, os cenários alternativos, tudo isto enquanto Elio nem sabe ao certo o que quer. A forma como Elio pensa de forma quase tóxica, como controla os movimentos de Oliver, as suas conversas com outros, como o vê quase como um objecto, uma posse sua. E todos os pequenos momentos, interacções, parecem um universo para Elio. Porque, recordemos, Elio tem 17 anos. Quando finalmente Elio se envolve com Oliver, também os seus sentimentos contraditórios são descritos e parecem reais.

Did I want him to act? Or would I prefer a lifetime of longing provided we both kept this little Ping-Pong game going: not knowing, not-not-knowing, not-not-not-knowing? Just be quiet, say nothing, and if you can't say "yes," don't say "no," say "later." Is this why people say "maybe" when they mean "yes," but hope you'll think it's "no" when all they really mean is, Please, just ask me once more, and once more after that?

A partir do momento em que Elio se envolve com Oliver, confesso que o livro perdeu algum interesse; possivelmente por o "conflito" se ter resolvido, e porque a parte de Roma é um bocado... aborrecida, confesso. Toda essa parte, bem como o final do livro, foram retirados do filme; o final do livro teve algum interesse, até por eu não estar à espera (esperava que o livro acabasse como o filme, no fundo), mas muito para mim se perdeu. As descrições da relação física entre ambos foram demasiado para mim e, pessoalmente, achei desnecessário.

Ou seja, o livro não me encantou como eu pensava que faria. Mas é um bom livro, poderoso, especialmente nas descrições da dor emocional, na forma como a escrita pega na obsessão e paixão juvenis e as torna poéticas.

E depois há o momento clássico em que o pai de Elio o conforta.

Most of us can't help but live as though we've got two lives to live, one is the mockup, the other the finished version, and then there are all those versions in between. But there's only one, and before you know it, your heart is worn out, and, as for your body, there comes a point when no one looks at it, much less wants to come near it. Right now there's sorrow. I don't envy the pain. But I envy you the pain.

4/5

Podem comprar esta edição aqui, ou em português aqui.

Comentários

  1. Esta última citação é realmente bonita e comovente, porque, como estou certamente mais perto da idade do pai do que da do Elio, identifico-me mais com essa introspecção e retrospectiva do que o deslumbramento de uma paixão de adolescência. Mas a verdade é que não cheguei a esta parte porque desisti do livro bastante cedo, com medo que os olhos me saltassem das órbitas de tanto os revirar. E eu até costumo gostar de escrita pretensiosa, mas neste caso, não me impressionou.
    Também deve ter pesado o facto de antes ter lido Tin Man de Sarah Winman, em que uma relação entre dois homens é tratada com tanta sensibilidade e subtileza que até me tirava o ar.
    Paula

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    1. Paula, recomendo então que vejas o filme. Essa última citação - e a cena envolvente - aparece, e o filme é mais visualmente bonito que de prosa floreada e, sim, pretensiosa. Compreendo a tua desistência, porque especialmente quando ficou gráfico fiquei reticente com o livro...
      Sarah Winman não conheço, porém, e vou anotar! Na mesma "onda": Giovanni's Room, de James Baldwin. Há uma review aqui minha com cerca de um ano. É maravilhoso!

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  2. Tenho de procurar a tua review então! Também tenho esse livro do Baldwin, mas ainda só li outro de contos. Uma escrita realmente primorosa.
    Paula

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    1. contos? preciso de saber mais! :)
      se ajudar, aqui fica: http://barbarareviewsbooks.blogspot.pt/2017/10/giovannis-room.html

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  3. Como sabes, eu amei este livro, sobretudo a sua parte final - não consegui, nem tentei resistir a tão poderosa história de amor!

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    1. O final para mim vale muito, até a parte secante em Roma, e quase compensa os detalhes mais sórdidos que teria dispensado... tenho pena que não tenha surgido no livro. Compreendo quem, como tu, se tenha rendido completamente, mas infelizmente para mim o livro no seu último terço começou a perder um bocado :(

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  4. Já estive várias vezes para ver o filme e ainda não o cheguei a fazer, sempre pensei que não fosse nada de interessante. Após ler este post, provavelmente vai ser dos próximos filmes que vou ver :) Beijinhos*

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  5. Poderoso final de post
    Não li o livro, apenas vi o filme e gostei, acho que consigo perceber o porquê de ser o favorito de algumas pessoas (seja o livro seja o filme), tudo depende das suas experiências de vida, eu por mim fico-me pelo filme, demasiados livros com outras prioridades me aguardam :p

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    1. Compreendo que fiques pelo filme :p o livro é bom mas não diria que é essencial, achei mesmo que fica aquém do filme!
      Poderoso no filme também, esse momento :p

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