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Heroínas Portuguesas: Mulheres que Enganaram o Poder e a História

A primeira leitura do Ler os Nossos, na categoria de livro recomendado.


Este é um livro para o qual eu tinha elevadas expectativas (apesar de quem mo recomendou não o ter adorado por aí além) - e que clarifico desde já que saíram um bocadinho goradas.

Houve tempos em que as heroínas eram as que morriam em defesa da sua fé. Nasceram assim as santas.
As “minhas” heroínas não estão em paralelo com os heróis. São outras.
Não sei se as heroínas selecionadas para esta obra serão heroínas para toda a gente. Mas são as “minhas” heroínas, aquelas que considero valorosas em nosso tempo.

Fina d'Armada foi historiadora e mestre em Estudos sobre as Mulheres, tendo escrito diversos livros sobre o papel das mulheres na história de Portugal. Note-se o papel fraquíssimo que é dado às mulheres nas narrativas históricas, em geral, excepto quando é para fazer delas uma versão de Lady Macbeth - destacarei Marie Antoinette, ou Erzsebet Báthory, vilificadas como ambiciosas ou cruéis,  as que a gente tem noção que existiram mas muitas vezes não se lhes sabe o nome (ou sabe-se mas são pouco faladas, como muitas das mulheres daqueles livros giríssimos que nunca li das Goodnight Stories for Rebel Girls) ou aquelas que, como na citação acima, ficaram conhecidas como santas e não propriamente por actos de bravura (Jeanne d'Arc).

Ou seja, as poucas mulheres que são lembradas, ou o são por maus motivos, ou são mal lembradas, ou colocadas na história de maneira um pouco... bizarra. E as mulheres lembradas por Portugal são pouquíssimas e geralmente ou foram rainhas ninfomaníacas/esbanjadoras, ou nobres (Marquesa de Alorna) ou deram porrada nuns quantos espanhóis. Mas há tão mais que isso!

O livro divide-se em quatro partes: mulheres navegantes, mulheres que exerceram cargos de poder, mulheres que foram pilotas de avião, mulheres que contrariaram, de algum modo, a Igreja. É elucidativo sobre o papel ao qual as mulheres eram remetidas na sociedade portuguesa - especialmente o último, sobre aviões e para-quedismo -, mas tem um enorme defeito: sabe tudo a pouco. De louvar, obviamente, o trabalho de investigação por parte da autora, pois percebo que a história reza muito pouco sobre mulheres e os seus feitos, mas há capítulos muito curtos que não me convenceram a 100% sobre a grandeza e heroísmo das mulheres de quem se falou. E é pena.

Outros capítulos, como aquele em que se fala como a Infanta D. Beatriz dividiu o mundo com Isabel, a Católica, pecam por serem meio confusos para quem, como eu, não está mega familiarizado com a história dinástica; mas isso pode ser falha pessoal minha, é claro.

Mas gostei muito da história de Catarina Pires, a mulher que, por amor, não casou - foi com Garcia de Sá, um homem de origem nobre para a Índia, sabendo que este não lhe podia prometer casamento dada a diferença de ranking social, e com ele ficou do seu lado, sempre, como se sua esposa fosse. Também a narrativa sobre a Bondade das mulheres vendicada e malícia dos homens manifesta é bastante interessante.

Interessante, mas sabe a pouco, pouco. Recomendo a quem goste, realmente, de história, de não-ficção, e tenha aquele "bichinho" de ir pesquisar mais no fim. Quero, ainda assim, ler o livro da autora sobre as republicanas.

3/5

Podem comprar esta edição aqui.

Comentários

  1. De facto na foto que tiraste aparenta ser um livro curto, mais valia concentrar-se em menos mulheres ou mesmo só numa mas com mais conteúdo para cada uma eu acho, prefiro conhecer bem uma história do que conhecer mal muitas, o potencial efeito é muito menor da forma abordada (mas também não sei qual foi o efeito pretendido por quem escreveu o livro) e este é um tema que devia ser mais debatido, como dizes '(...) as poucas mulheres que são lembradas, ou o são por maus motivos, ou são mal lembradas, ou colocadas na história de maneira um pouco... bizarra.'

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    Respostas
    1. É um livro bastante curto sim! Concordo - preferia menos mulheres e mais conteúdo, embora perceba que sobre muitas destas mulheres simplesmente não há informação suficiente... seria uma pesquisa muito mais difícil do que esta já terá sido, possivelmente material para um trabalho histórico mais a fundo.
      Mas sim, o efeito não foi grande, no final :/ serviu mais para aguçar alguma curiosidade sobre a história "perdida" que outra coisa...

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