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Manual de Prestidigitação

Prestidigitação é uma palavra incrível.


Tinha curiosidade há muito tempo para conhecer o trabalho do autor; esta obra, em particular, estava na minha mira desde que vi a palavra "prestidigitação" no título de uma música, nos tempos em que eu não sabia que o B Fachada era a pessoa que parava no meio do corredor no edifício de inglês/geografia da faculdade (esta música, mais de dez anos volvidos, parece-me horrível; na altura, o álbum esteve em alguma rodagem por estes lados...).

Este volume é, na verdade, constituído de vários grupos de poemas, e não só aquele que lhe dá o título, sendo possível acompanhar várias das fases da poesia de Cesariny. Talvez por isso, houve momentos dos quais gostei mais do que de outros - infelizmente, logo o primeiro, Burlescas Teóricas e Sentimentais, não me apelou particularmente, na sua linguagem codificada e desmontagem de imaginário popular.

Outros poemas, posteriores, como os de Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor, são mais agradáveis; diria surrealistas e quiçá absurdos, com definições e trocadilhos vários, neologismos, como se de um dicionário se tratasse.

vinte e quatro tragédias burguesas
dois casais cheios de felicidade
nove mulheres casadas (portuguesas)
e um caso de mendicidade
um coronel reformado um visconde nazi uma sorte adversa
uma vista para o campo uma menina Ester
um prédio em construção dois dedos de conversa
um lindo rapaz que adora perder

uma prostituta elegante dois galos sem crista
uma vida sem vida um defunto a viver uma vida asquerosa
dois carris de ferro o filósofo existencialista
e
um cínico e a esposa

Há vários momentos sem sentido, uma parte que parece uma peça de teatro/ópera que perdeu totalmente o meu interesse, alguma prosa, poemas de duas linhas ou poemas que não o chegam a ser. Há rimas clássicas e fonéticas, há desconstruções frásicas e de palavras. Há humor e paródia, há referências a Ave Maria, alusões e imagens.

Mário Cesariny, a pessoa, sempre me pareceu interessante; acho que, neste momento, gostaria mais de ler sobre ele do que propriamente ler mais da sua obra. Se calhar o surrealismo é mesmo isso: é o significado ou o propósito da obra ter-me passado bastante ao lado...

3/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. É mesmo uma palavra gira, mas a língua enrola-se-me se tentar dizê-la em voz alta!
    Viste a série "Sara" na RTP? Por acaso, o B Fachada é uma das personagens mais engraçadas. (Nunca tinha ouvido a música dele. Entre parêntesis, porque o diria em voz baixa, para não parecer muito "off").
    Nunca li Cesariny, porque surrealismo, para mim, só na pintura. Mentira, fiquei impressionada com "O Arranca Corações" do Boris Vian, mas nunca mais consegui entrar naquela onda alucinada.
    Paula

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    Respostas
    1. Verdade, não é a palavra mais fácil :)
      Não vi essa série! Confesso que só acompanhei a 3 Mulheres... (não pareces off - nem acho que estejas a perder muito!)
      Nunca tinha lido surrealismo, creio, mas tenho ali um do Mário Henrique Leiria por ler!

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