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Nadar na Piscina dos Pequenos

Ainda na luta da poesia.


(honestamente? Já estive mais longe de desistir)

Golgona Anghel chamou-me a atenção quando li o seu poema Vim porque me pagavam, que pertence a um livro com o mesmo nome. Procurei esse livro na Mariposa Azual, na Feira de Poesia de Campo de Ourique, em Março, mas sem sucesso. Estava esgotado, a autora é agora editada por outra editora, etc. Quiçá um dia.

Decidi, assim, passar para este título, mais recente, do qual já tinha reunido algumas, boas, opiniões.

Golgona Anghel é de origem romena, mas está radicada em Portugal há muitos anos. A sua poesia, tal como muita da que se escreve e se faz actualmente, tem pouca estrutura - ou terá uma estrutura original, talvez. As temáticas são quotidianas, críticas da sociedade, demonstrando uma ironia e um humor fortemente agressivos.

Devia escrever coisas mais divertidas,
entreter as massas.
Evitar, ao menos, cenas tristes,
mudar de roupa uma vez por mês.
Podia, decerto, afastar-me, sair do corpo,
dos seus humores.
Entrar na biopolítica, usar os seus métodos.
Engravidar uma ideia alegre.
Enfim, nada contra os suicidas de carreira
e os demais performers do além.
Não é que não me apeteça largar-te
num eléctrico sem travões.
Deixar-te num país estrangeiro,
sem dinheiro e sem memória.
Não se iludam, ainda sei baixar as calças.
Fazer o truque.
Mas se o meu psiquiatra ler isto,
vai achar que o tratamento
já não funciona.

Os temas são actuais, focando-se no fracasso individual (ou a sua aparência), e abordados em vária poesia contemporânea e outros escritos, mas é uma leitura interessante e consegue manter a atenção.

É seguro nadar na piscina dos pequenos - não se perde o pé, eu própria a prefiro apesar de não ter paciência para garotos (não obstante os sete anos de natação, tenho um pavor enorme quanto à parte mais funda da piscina). Os diferentes momentos de ironia ao longo da obra mostram que a segurança é falsa, é apenas aparente, que a vida e o mundo estão desajustados.

Sabem qual é o (meu) problema? É que, e apesar da (novamente, aparente) simplicidade da sua leitura, poesia aborrece-me. Retiro maioritariamente pouco, e retenho ainda menos. O prazer retirado no momento da leitura não fica muito tempo... talvez ainda esteja por descobrir poesia que me complete (sem ser Sylvia Plath e Walt Whitman).

Sugestões?

3,5/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. Nenhuma, a não ser variar. Quando passares nas BLX, podias ir trazendo um(a) autor(a) de épocas e países diferentes, só para espreitar. Dos ingleses gosto do Philip Larkin. A última portuguesa que li e gostei foi Alice Veira com "Dois Corpos Tombando na Água". Também estou a gostar da poesia da Hilda Hilst. Mas eu sou mais antiquada com a poesia, não gosto desta nova vaga como a Rupi Kaur.
    E se concluíres que não nasceste para a poesia, paciência. Eu já me conformei que não tenho paciência para memórias. Quero lá saber da vidinha dos outros!
    Paula

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    Respostas
    1. Li esse da Alice Vieira há uns bons meses e gostei muito também :) para o ano devo trazer o mais recente dela da Feira do Livro (com uns simpáticos 50%). Estou perto de me conformar - e sem mágoas nem arrependimentos :)

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    2. E Carlos Drummond de Andrade, já leste? Como gostas de autores brasileiros, talvez te caia no goto.
      Paula

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  2. Desconhecia por completo! Beijinhos*

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