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A Guerra dos Mundos

Sci-fi, oh my.


Este é um clássico (género que leio com frequência) da ficção científica (género que não costumo apreciar). Desde cedo que tenho conhecimento da saga que foi Welles a narrar Wells, em plena rádio (adoraria ter acesso a esse áudio, mas nunca o procurei, porque sei que nunca o iria ouvir, dado que conteúdo áudio me aborrece e não me prende - não, não ouço audiobooks nem podcasts), algo que sempre me despertou enorme curiosidade.

A Guerra dos Mundos é, de facto, um livro fundador daquilo a que hoje chamamos de ficção científica, ou ficção especulativa, tratando-se, à época, de um texto ficcional com tendências científicas e de uma imaginação única. Claro que, dada a época, a ciência e a verosimilidade não são o que poderiam ser hoje; mas, é claro, também à data, ninguém se atreveria a pensar que os acontecimentos, relatados com tanta minúcia, não fossem, talvez, ficção. Daí o impacto da narrativa teatral da rádio que, em 1938, espalhou o pânico, por ter sido adaptada como se de uma reportagem se tratasse. Quem ouvia, presumia que era verdade.

Há que admitir, então, que a forma como o livro foi escrito permitiu este pânico - está escrito com tanta imaginação que se torna difícil não visualizar a cratera da qual os marcianos, com alguma dificuldade devido à gravidade, se arrastaram, após a aterragem das suas naves. É intenso e imersivo (possivelmente auxiliado pelas ilustrações desta edição em particular).

Em Surrey, o nosso protagonista e narrador é "apanhado" na invasão, que rapidamente chega a Londres e todas as cidades e condados envolventes. Acompanhamo-lo, e ao seu irmão, em várias peripécias desesperadas, num cenário de guerra total, em que os marcianos utilizam todos os seus meios possíveis para causar a maior destruição possível.

Não há uma grande batalha, ou algum tipo de cenário em que a humanidade pareça ter capacidade de retaliar. Eles aparecem, e nós, humanos, observamos horrorizados enquanto eles nos matam sem piedade e sem grande esforço. Há, aliás, poucas descrições do que era a tecnologia ou o armamento marciano (algo inconcebível hoje em dia) - o que se poderá prender com a ciência ainda primordial de 1897.

A narrativa, em si, é, admito, pouco interessante e nada de especial. O narrador está desesperado, num cenário desesperado. O final não é particularmente dramático, e a resolução do conflito é algo anti-climática. Tem momentos que considerei aborrecidos, repetitivos. Não minto. Mas a imagem, a imaginação, especialmente para a época em que foi escrito, são memoráveis. A Guerra dos Mundos foi copiado e reescrito e reincorporado em várias formas de arte de várias maneiras desde então. É original - tudo o que veio depois partiu daqui.

Há, ainda, toda a questão interpretativa. O livro insere-se, em parte, na onda literária da literatura de invasão, militarista, que fala na destruição de países ou povos inteiros, em jeito de denúncia, mas traz o inimigo desde fora do planeta; mas, por outro lado, o livro pode ser menos sobre os marcianos, sobre ficção científica, sobre o mundo "lá fora", mas sim sobre como o ser humano se vê como dono do planeta, megalómano, não obstante toda a porcaria que fez e continua a fazer contra a Terra e todos os outros seres vivos que nela habitam. Os marcianos mostraram aos humanos como era estar um pouco abaixo, não ser dominante.

É uma história de sobrevivência face ao terror absoluto. O protagonista não tem qualquer hipótese, e observa a civilização e a humanidade a serem destruídos por invasores.

Mas o homem é tão vaidoso, tão cego pela sua vaidade, que nenhum escritor, até ao final do século dezanove, expressou qualquer ideia sobre a possibilidade de desenvolvimento de vida tão longe, ou de todo, para além do nível da Terra. (...)
E nós homens, as criaturas que habitam esta Terra, devemos ser para eles pelo menos tão estranhos e modestos como os macacos e lémures são para nós. (...)

Talvez sejamos nós, também, invasores no nosso próprio planeta.

3,5/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand; ou em inglês, na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. Lido há muitos anos, mas ele tem muitas outras obras geniais como a maquina do tempo que é ao mesmo tempo ficção científica, distopia e um livro de reflexão politica, apesar de parecer uma mera obra de entretenimento

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    1. A Máquina do Tempo li há cerca de dez anos - achei interessante, mas não me prendeu particularmente, à data, não obstante ser curto. Tenho curiosidade com a Ilha do Dr. Moureau.

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