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O Homem Revoltado

O que é um Homem revoltado?, questiona, logo no início, Camus.


O Homem que decide que chegou o limite, que tem de haver mudança.

Esta é, no fundo, a minha terceira obra de Camus: li O Estrangeiro em inglês, português e em adaptação a novela gráfica. Algures no meio, li L'Été, que é, tal como O Homem Revoltado, um ensaio. A premissa do livro é extremamente relevante: odiamos injustiça, logo, intuitivamente, parece correcto revoltarmo-nos contra a autoridade indevida, injusta. Então por que motivo corre sempre tão mal quando nos revoltamos, e nos deparamos então com uma injustiça ainda maior?

(exemplos fáceis: Revolução Francesa, Revolução Russa)

Camus guia o leitor através de pensamentos de vários filósofos, bem como através de causas e efeitos de revoluções históricas, religiosas, políticas ou mesmo artísticas (o que me levou aos tempos de faculdade e a aplicação do marxismo para as correntes artísticas dominantes). Explica como as iniciativas revolucionárias partem de um sentido de justiça, e como a fé absoluta na causa revolucionária leva a consequências drásticas - ao oposto da sua intenção. Assim, constrói uma tese sobre a revolução e o desenvolvimento da humanidade.

O poder destrutivo da justiça sem liberdade para os indivíduos, ou a liberdade sem justiça que a limite?

No contexto de um mundo desastroso pós Segunda Guerra Mundial, os pontos de vista que Camus apresenta são históricos e filosóficos. A rebelião, a revolta, a procura pela natureza e as consequências de revoltas e revoluções, pelos limites até aos quais é possível justificar a violência sem perder a humanidade. Camus apela à responsabilização dos indivíduos pelas suas escolhas e responsabilidades, numa altura em que o colectivismo de Sartre estava em voga.

É um livro interessante, e uma leitura nada, mas nada fácil. Não é uma leitura para uma tarde relaxada. Não sei o suficiente sobre literatura ou filosofia francesa, ou sobre os vários nomes que Camus menciona, como Epícuro, Marquês de Sade, Hegel, Dostoevsky, Nietzche... a secção sobre Sade foi muito, muito interessante, até porque a repulsa que o autor me causa sempre me distanciou da sua obra (nem pelo subtexto o quero ler).

4/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. Não sabia que era um ensaio, tenho cá em casa "O Mito de Sísifo" que é também um ensaio, neste caso sobre o absurdo, mas já li vários romances de Camus e de todos gostei: A Peste é muito diferente de O Estrangeiro, embora ambas se passem fora de França, A Queda é também interessante mas bem diferente dos outros dois que lera antes.

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    Respostas
    1. Quero muito ler mais do autor! Tanto os ensaios como a sua ficção.

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