Avançar para o conteúdo principal

O Azul é uma Cor Quente

Será o azul a cor mais quente?


Para Clémentine, a adolescente que se apaixona por Emma, a estudante de arte, activista, de cabelo e olhos azuis, decerto é.

Em O Azul é uma Cor Quente, Julie Maroh narra a história de Clementine, uma adolescente de olhos grandes e sonhadores, cuja vida, sem cor, seguimos numa série de painéis cinzentos. Clementine vive o seu dia-a-dia sem qualquer paixão em particular, sem compreender por que é que tem receio de intimidade com o namorado, sem se conseguir relacionar totalmente com os seus pais e os seus colegas.

E tudo muda quando vê, na rua, uma rapariga de olhos e cabelo azuis, Emma. A expressão de Clementine quando vê Emma pela primeira vez, numa rua de Lille, é reveladora: demonstra atracção, inveja e, acima de tudo, a confusão completa acerca daquilo que Emma a faz sentir. É o momento em que percebe que se sente atraída por alguém do mesmo sexo, e dá para ver a confusão que Clementine sente.


A partir daqui, o mundo de Clementine começa a ganhar cor; e, quando as duas estão juntas, fica absolutamente colorido, cheio de paixão, com Emma e os seus olhos e cabelo azuis no centro da vida e do coração de Clementine. É Emma quem traz esta cor, que ficamos a conhecer nos diários de adolescente de Clementine, onde tudo era, até então, preto e branco. A narrativa concentra-se em Emma e Clementine a apaixonar-se, na sua história de amor, nas dificuldades da auto-aceitação.

A prosa fala sobre o crescimento pessoal, a vida, a morte, o amor, a traição e o perdão, concentrando-se na vida de duas pessoas. A mensagem de que o amor é aquilo que vai salvar o mundo apresenta-se como necessária, porque é uma história de amor, mas também uma mensagem sobre sermos nós próprios, pois alguém nos irá amar e aceitar assim mesmo.

  

O que faz a obra funcionar tão bem é que Clementine é encantadora - de olhos grandes e insegura, com 15 anos a demonstrar as suas dificuldades com a escola, com os pais, com o seu namorado Thomas - até ao dia em que conhece alguém que a faz sentir algo que nunca sentira antes. Apesar de me ser difícil compreender a obsessão que Clementine sente por Emma após a ter visto uma única vez, a relação das duas cresce de forma realista e honesta, com os seus altos e baixos.

A arte é maravilhosa - a vida monótona que começa a ter laivos de azul, as texturas.

E é quando o cabelo de Emma passa de azul para um louro banal, após anos a viver com Clementine, que sabemos que Julie Maroh tem algo mais para nos contar.

5/5

Podem comprar esta edição directamente à editora

Comentários

  1. Olá Barbara,
    Aconselho vivamente o filme. É verdade que li o livro depois do filme e a primeira obra impacta sempre mais, mas o filme eleva o livro para todo um outro patamar emocional, por causa da excelência das atrizes envolvidas. Acho que na altura escrevi sobre isso no blog.
    Mas não deixa de ser um belo livro como aqui tão bem dás conta.
    abraços

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Terei de ver o filme (algo que ainda não fiz). A novela gráfica apelava-me há muito, pelo que tinha ouvido falar, e não desiludiu.
      Abraço!

      Eliminar
  2. Só depois de iniciar a leitura me apercebi que é uma banda desenhada. Não desgosto, mas não sou um leitor habitual do género.
    Faz-me impressão que a sociedade pense que o amor que pode salvar o mundo seja o da paixão sexual, até porque este por norma é a dois, vivido na intimidade e frequentemente com um afastamento parcial da sociedade e não na integração social, esta confusão não me parecer ajudar a sociedade a salvar-se-

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É um género que, de facto, tendo a ler cada vez mais. Compreendo a apreensão (também a tinha), mas sinto que há muito a oferecer dentro do género!
      Creio que a ideia do livro passava mesmo pelo amor enquanto sentimento positivo - enquanto aceitação, enquanto ver o outro e apreciá-lo por quem é. Uma mensagem bonita numa narrativa trágica.

      Eliminar
  3. Já li e adorei! O filme comecei a ver e fiquei a meio. Tem cenas de sexo entre elas que são muito demoradas e explicitas por isso não posso ver em qualquer altura (ou seja, os filhos já têm de estar bem adormecidos).

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nunca tentei ver o filme, mas, se seguir minimamente o livro, acredito que haja esse tipo de constrangimento! Mas só ouço maravilhas.

      Eliminar

Enviar um comentário