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Clássicos para quem tem medo de ler clássicos

Um post com uma lista de recomendações, obviamente relacionada com o desafio para 2020 que lancei há dias.


Há toda uma ideia pré-concebida (no literal sentido de preconceito, diria mesmo) que os clássicos são aborrecidos, longos, maçudos, entediantes, difíceis... Mas, tal como na literatura contemporânea, há livros e livros - de todo o tipo de dimensões, temáticas e até mesmo géneros.

Assim, decidi compilar alguns dos meus clássicos favoritos - livros que não considero aborrecidos (um julgamento pessoal, é certo), e que não são calhamaços à la Guerra e Paz (que também já li - e as partes da "paz" são uma quase telenovela sobre os amores e desamores de uma rapariga de 15 anos, imagine-se).

CLÁSSICOS QUE NÃO SÃO ABORRECIDOS

Adoraria, já agora, ter links para opiniões sobre todos os livros que irei aqui elencar; mas a maioria foi lida antes da incepção deste tasco virtual...

The Bell Jar, Sylvia Plath
Pensava que ia ler um livro sobre doença mental, depressão clínica - mas este livro é e oferece tão mais que isso. Sylvia Plath, através de Esther Greenwood, coloca-nos no lugar de uma jovem mulher que não consegue aguentar aquilo que o mundo e a sociedade parecem pedir dela, e e tão envolvente que sentimos e pensamos o mesmo que a protagonista, a todos os momentos - incluindo a confusão e a alienação.
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Um misto de drama psicológico e mistérios, com um narrador no qual não podemos confiar, uma personagem central extremamente ambígua, e um final que, de tão aberto e difícil de decidir, fica na cabeça (a mim, três anos mais tarde, ainda não saiu). Quem me dera saber mais detalhes sobre tudo o que a autora pensou enquanto escrevia esta obra, saber mais sobre os eventos por detrás dos eventos que Phillip nos relata.
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Tender is the Night, F Scott Fitzgerald
Melancólico sem ser deprimente, real sem ser demasiado pesado ou negro, tocante sem ser lamechas. É um daqueles livros que dá vontade de viver nos anos 20, mas, ao mesmo tempo, nos faz dar graças por não viver numa sociedade de repressão emocional. Dick Diver apercebe-se que não é bem a pessoa que sempre julgou ser - tão relacionável que ou se adora, ou se odeia.
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The Master and Margarita, Mikhail Bulgakov
Este livro tem o Diabo a causar o terror em Moscovo e um gato preto gigante que bebe vodka. Há uma mulher nua a voar. Mais que isso, é um comentário belíssimo e brilhante sobre o Estado Soviético opressivo, que nunca deixa de ser relevante e sarcástico.

The Code of the Woosters by P. G. Wodehouse
Este é o único livro que li de Wodehouse; faz parte da série de Jeeves & Wooster, e é um dos seus mais conhecidos. Aqui, Bertie Wooster e o seu mordomo Jeeves envolvem-se num drama intricado e hilariante para roubar (ou recuperar) uma leiteira em forma de vaca. O que pode correr mal?
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Catch-22, Joseph Heller
Um dos livros com melhor sentido de humor que já li. Os personagens são enormes, o pano de fundo é dramático e sombrio (a Segunda Guerra Mundial), e a narrativa consegue entreter e perturbar ao mesmo tempo. Não há livro que capture melhor a natureza humana, a futilidade da guerra - e há poucos livros que consigam suscitar tantos sentimentos, especialmente tão contraditórios, do leitor.
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The Catcher in the Rye, JD Salinger
Este é polémico, mas não deixa de ser um dos meus livros preferidos de sempre e, como tal, não o posso deixar de recomendar. Holden, o personagem principal, encara uma perda trágica (como todos nós, em tantos momentos das nossas vidas) - a morte do seu irmão. Enquanto vagueia pela cidade, perdido tão literal como figurativamente, encontra felicidade e esperança em coisas pequenas.
Pride and Prejudice, Jane Austen
Impossível falar em clássicos sem falar em Jane Austen. Orgulho e Preconceito é o primeiro livro que ocorre quando se fala ou se pensa na autora, e com boa razão. As interacções são subtis, o humor é inteligente e envelheceu bem. Merece toda a atenção que recebe.
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Fahrenheit 451, Ray Bradbury
Narrado por um bombeiro cuja função é atear fogos em vez de os extinguir, Fahrenheit 451 é um clássico distópico que lida com questões como a censura, pessoas que seguem as normas cegamente, sem as questionar e/ou formar as suas próprias opiniões. Guy Montag, o bombeiro, começa a questionar o mundo em seu redor. Está maravilhosamente construído.
The Importance of Being Earnest by Oscar Wilde
O título deste perde imenso com a tradução, porque não joga com o double-entendre anglófono. É uma peça que faz pouco dos ricos e materialistas e da sociedade, em plena época vitoriana. O comentário social, porém, não está datado e mantém-se relevante, levantando pontos claros e inteligentes sobre a elite da sociedade vitoriana, com humor em praticamente todas as linhas. Wilde era brilhante.
The Phantom of the Opera by Gaston Leroux
Todos já ouviram, pelo menos, falar no musical baseado neste romance, que tem o seu próprio mérito e merece o seu próprio reconhecimento. O Fantasma, Erik, é das personagens mais fascinantes que já li. Erik é mais que o Fantasma que assombra a Opéra Garnier, mais que o Anjo que engana Christine Daaé, e são a sua loucura e desespero que o levam a determinados actos - mas só o descobrimos perto do final da obra. É aterrador e devastador ao mesmo tempo.
Animal Farm, George Orwell
Um grupo de animais maltratados e que trabalham demais apoderam-se de uma quinta. Enlevados pelo idealismo e por slogans sonantes, procuram criar um paraíso de progresso, igualdade e justiça. Assim, entramos numa fábula satírica que nos mostra como a revolução para sair da tirania pode levar ao totalitarismo, igualmente terrível.
Of Mice and Men, John Steinbeck
Este é o meu Steinbeck favorito (diz a pessoa que nunca leu os livros mais longos do senhor). Dois homens, George e o seu amigo com deficiência mental, Lennie, procuram encontrar o seu lugar no mundo, em busca de trabalho. Só se têm um ao outro, e sonham com o dia em que terão a sua quinta em Salinas. Mas as suas esperanças vão por água abaixo quando Lennie se torna vítima da sua própria força, num cenário de crueldade, incompreensão e inveja.
David é um jovem expatriado americano que acaba de pedir Hella, a sua namorada, em casamento. Na ausência desta, David conhece um empregado de um bar, Giovanni, que o seduz imediatamente, apesar de David querer resistir. O quarto de Giovanni não tem cortinas, mas é escuro. E o regresso de Hella a Paris leva a relação dos dois a um extremo, que rapidamente cai em tragédia. Preso entre os seus desejos reprimidos e a moral convencional, David luta contra si mesmo.
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Night é o relato das memórias de Elie Wiesel que, com 15 anos, foi preso em Auschwitz, em 1944. Este livro é uma lição sobre a humanidade como não tratar o próximo. Palavras não servem para descrever as emoções que o livro evoca.
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A versão boa de Jane Eyre, esta prequela relata os eventos que precederam o casamento de Mr Rochester e Bertha, ou Antoinette Conway, que viemos a conhecer como a "louca" no sótão. Rhys pegou numa personagem de um clássico e trouxe-lhe nova vida, através das suas próprias experiências e visão do mundo. Um livro impactante, no calor abrasador do Caribe.
To Kill a Mockingbird, Harper Lee
Neste clássico dos 1960s, o advogado Atticus Finch tenta defender um homem de cor injustamente acusado de violação, sem esperança, mostrando assim aos seus filhos, Scout e Jem, os terrores do racismo. Relatado por Scout, este livro captura perfeitamente a inocência da infância, ao mesmo tempo que apresenta uma narrativa complexa.
I Know Why the Caged Bird Sings, Maya Angelou
A memória da infância de Angelou no Sul dos EUA, nos anos 30. Deixada com a avó (uma mulher muito independente e auto-suficiente) juntamente com o seu irmão, Bailey, Maya vive a dor do abandono e os preconceitos da comunidade branca local. Maya aprende a amar-se a si própria, apesar de todas as dificuldades e a dor, e descobre a bondade dos outros e a sua própria força.
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Comentários

  1. Eu vou sempre com receio para os clássicos e acabo quase sempre por me surpreender pela positiva. Ainda tenho muitos desta lista por ler!

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    1. Nos clássicos, como no resto, há livros e livros :) estes que listo, pelo menos, pessoalmente (como tudo, na leitura), não creio darem motivo para receios!

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  2. Não sei se todos da lista se poderão chamar clássicos, mas dos muitos dos que nesta constam e li gostei de todos eles. O mais difícil foi o do Mestre e Margarida.

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    1. O conceito de clássico nem sempre é 100% consensual, é facto. O do Bulgakov tem uma narrativa menos linear, o que dificulta um pouco a leitura, mas nunca deixa de prender a atenção. É um dos meus livros favoritos.

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  3. Tenho tantos desta lista por ler...
    Dos aqui presentes adorei "Orgulho e preconceito". Acho que é a ideia de que os clássicos são aborrecidos que me fazem ler menos.

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    1. Acho que esse receio é transversal :) mas, como há muita literatura contemporânea aborrecida, também há muitos clássicos que não o são!

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  4. O The Catcher in the Rye é tão lindo <3
    Se gostas do Salinger aconselho muito o filme 'Rebel in the Rye' sobre a vida e escrita dele :)

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  5. É uma óptima sugestão de leitura para 2020, só não adiro ao desafio porque não dá para mim, mas acho que vou aderir à área!!

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    1. Compreendo a reticência, mas há muitos clássicos para explorar :)

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  6. Os clássicos acabam sendo muito importantes porque o facto de terem perdurado no tempo (ou seja, terem sido lidos pelas diferentes gerações) impregnaram a sociedade de valores, e por isso torna-se quase obrigatória a sua leitura para compreender a tal sociedade em que vivemos. Além do claro prazer que têm para oferecer :)

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    1. Ou a impregnam de valores, ou retratam pontos no tempo de modo que se torna muito importante para compreender como chegámos a onde estamos hoje. Isso e, sim - são leituras de elevado prazer, embora muito haja quem os tema!

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