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The Threepenny Opera

O que eu adoro teatro.


Há aquela eterna questão de as peças terem sido criadas para serem vistas, e não lidas; concordo, em grande parte, mas não consigo deixar de adorar ler peças (até devido à falta de oportunidades de ver muitas obras encenadas).

Bertolt Brecht é um nome que há muito figurava do meu imaginário, e que há muito queria ler, vontade essa exacerbada quando vi A Boda no CCB, em 2019. Assim, adquiri aquela que é a peça mais conhecida do autor - The Threepenny Opera, baseada na obra de John Gay, The Beggar's Opera, que nunca li.

Coisas que não sabia (além de desconhecer a peça na qual esta se baseou): esta obra é um musical, tendo sido pela primeira vez encenada em Berlim, em 1928, e foi, à época, mal recebida, tendo-se posteriormente tornado um sucesso. Quando, em 1933, o regime Nazi forçou Brecht a sair da Alemanha, a peça fora já traduzida para várias línguas e encenada mais de 10.000 vezes. Fantástico?

The Threepenny Opera é uma dura sátira à República de Weimar burguesa, uma crítica ao capitalismo, que nos mostra como os membros da sociedade, mesmo dos estratos mais baixos, usam as ferramentas do capitalismo para aumentar o seu sucesso pessoal. Mostra como todos se exploram uns aos outros para preservar a sua segurança pessoal, que a sociedade está moralmente corrompida.

Imaginem o olhar do Nazismo incipiente sobre esta peça, na qual Brecht se opõe veementemente aos movimentos Nacional-Socialistas e Fascistas, sendo uma voz dos oprimidos.

Apesar de oferecer crítica à sociedade alemã, a peça passa-se em Londres, tendo como personagens principais Macheath "Mack the Knife", o maior e mais conhecido criminoso da cidade, Jonathan Peachum, que é o "patrão" dos pedintes (tornando-os numa cooperativa, dando dicas sobre como se tornarem melhores pedintes) e a sua filha, Polly. Quando Polly não volta para casa uma noite e Peachum descobre que ela fugiu com Macheath, o drama desenrola-se.

And I did work out something: that the rich of the earth indeed create misery, but they cannot bear to see it. They are weaklings and fools just like you. As long as they have enough to eat and can grease their floors with butter so that even the crumbs that fall from your table grow fat, they can't look with indifference on a man collapsing from hunger - although, of course, it must be in front of their house that he collapses.

O que não sabia antes de ler a peça (apesar da minha experiência ao ver A Boda) era o nível de humor do drama. Brecht era bom na sátira. Também esperava ser uma leitura muito mais complexa, mas é bastante acessível e agradável de ler. Claro que, sendo uma peça, se perde algo em ler e não ver (o eterno debate) - e mais ainda quando se trata de um musical. Não estou, de todo, familiarizada com a música de Kurt Weil, que dá vida e alma a esta obra. Também nunca gostei de musicais, pelo que não sei se iria ajudar.

Talvez por isso, foi uma certa desilusão. Entre o musical, as canções que permeiam o livro, a dimensão algo curta - talvez não o tenha lido, também, na altura certa -, sinto que ficou aquém da expectativa. Há um belo diálogo entre comédia e comentário social, e os personagens são divertidos e interessantes de seguir; mas os temas de consciência de classe, corrupção social, egoísmo e ambiguidade moral, embora intemporais, não sobrevivem da mesma maneira, suponho. Já não são novos, subversivos, como à data da publicação; já não há tantos olhos que precisam de ser abertos para este assunto.

Talvez mais impressionantes sejam as letras das canções (como odeio musicais), que se versam sobre temas como homicídio, aborto e sexo, em 1928 - mostram que Brecht não tinha receios, e que a censura ou ainda não tinha chegado, ou falhou aqui redondamente.

3,5/5

Podem comprar esta edição na Book Depository; uma outra em inglês na wook ou na Bertrand; ou um omnibus em português que inclui esta peça, na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. Curiosamente não conheço o livro de John Gay, nem sabia ser teatro, conheço esta peça por ser um musical ou, até mais, uma ópera (depende mais do modo de interpretação e orquestração do que da música e do libreto) resultante de um compositor alemão do século XX que muito gosto Kurt Weil com o escritor Bertold Brecht. Existe também uma obra importante na história do cinema, ainda a preto e branco, que transpõe para a tela este trabalho conjunto.

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    Respostas
    1. Confesso-me profundamente ignorante, tanto de musicais (e mais que isso, no que respeita a ópera) como da obra de Kurt Weil, mas fiquei com muita curiosidade. Tenho de investigar o filme.

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