Queria ler este livro por ser do Díaz Canales.
Ora, este critério é muito vago, porque eu só tinha lido o Blacksad, e nem nunca li a série inteira, mas o quinto volume, isolado, Amarillo (como se poderão lembrar). Blacksad pareceu-me sólido, mas não posso avaliar muito; portanto, fui sem ideias pré-concebidas sobre o autor e a sua obra (embora tivessem sido a motivação principal aqui). E não sabia sequer a temática do livro - adquirido às cegas, confiando, também, no selo da editora (há pessoas com quem adoro falar em eventos literários. Uma delas é a Vanda).
Como Viaja a Água é um livro com o seu quê de noir, protagonizado por um grupo de idosos, Niceto, de 83 anos, e os seus amigos. Este grupo tinha lutado activamente contra a ditadura, e agora roubam e revendem objectos no mercado negro, para, com os lucros, jogar poker.
O filho e o neto de Niceto estão cada vez mais preocupados com as alterações de humor do avô, com novas manias, por sair de casa e acabar perdido algures, por andar estranho. Mas, mais do que um segredo, é uma crise existencial. Porque a premissa já me conquistava com facilidade - mas veja-se que o grupo de velhinhos simpáticos só o faz porque tem dificuldades em enfrentar o vazio, a solidão, a falta de propósito da terceira idade. São o roubo e o poker que os ajudam a sentir-se vivos.
E, de repente e aos poucos, os homens começam a surgir mortos de formas misteriosas e violentas.
Assim, a narrativa muda para uma reflexão quase existencial sobre o sentido da vida ou a sua falta, a morte, de vários pontos de vista (recordo que estão representadas três gerações de uma mesma família), é quase uma história familiar - oferece reflexão sobre a velhice, as relações familiares e intergeracionais, a marginalização dos idosos, e as simples dificuldades do dia-a-dia.
E, em torno da narrativa, uma arte muito expressiva, retratando Madrid de forma absolutamente identificável, com a Gran Vìa, o Parque del Retiro, a Puerta del Sol, mas sem mostrar a cidade dos turistas - uma cidade com as suas sombras, com as suas pessoas.
Clássico Vanda
ResponderEliminar'e agora roubam e revendem objectos no mercado negro, para, com os lucros, jogar poker' roubam ou furtam? :p :$
E esses objectos são relacionados com a ditadura ou são random?
'mas veja-se que o grupo de velhinhos simpáticos só o faz porque tem dificuldades em enfrentar o vazio, a solidão, a falta de propósito da terceira idade. São o roubo e o poker que os ajudam a sentir-se vivos.' Dando-se ao luxo de não pensar muito no futuro porque sabem que mais tarde ou mais cedo vão morrer, então vamos cometer crimes! Nada contra, deve ser um sentimento incrível, e a justiça que funcione; a vida não pode ser passada só a pensar nos outros, temos de pensar em nós também, mas que herança vão deixar? Não só aos filhos e netos como à sociedade em geral? Estamos a falar de crimes contra o património, praticados intencionalmente, muitas questões eu tenho acerca disso
Bem, fui comentando o post à medida que ia lendo ao invés de ler tudo e depois comentar, por isso não estava à espera que começassem a surgir mortos, pena demasiado gravosa para os crimes cometidos
Bom final de post, uma boa conclusão para mais uma excelente publicação, tinha saudades e gostei muito de o ler Ba
Terás de ler o livro para saber se roubam ou furtam! Comentário bué jurista em geral :(
EliminarOs objectos são random, não roubam sem pensar no futuro, mas porque não vêem futuro, não vêem sentido na vida, após terem dado tanto de si - o livro é mais sobre isso do que sobre os crimes em si.
Mas comentário bué jurídico! :(((
Trouxe-o há uns tempos da BLX e gostei de tudo, da história e das cores, tudo deprimente, mas muito bem feito.
ResponderEliminarPaula
É um belo livro, não é? Também gostei muito. Tenho de completar a minha colecção Blacksad - os volumes 1 e 3 estão esgotados na Leya, pelo que devo apostar no espanhol.
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