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A História de uma Serva (Novela Gráfica)

Continua a ser uma história incrível.


Já tendo visto parte da série da Hulu, tinha grande interesse em descobrir o rumo que a adaptação de Renée Nault ia tomar ao adaptar e ilustrar a obra de Margaret Atwood. Ao contrário da série, aqui, segue-se fielmente o original, capturando maravilhosamente o sentimento da narrativa - o horror, a resistência crescente, a rebelião que não desiste.

Em Gilead, as mulheres férteis são como objectos, são matéria-prima, recurso natural, utilizadas como receptáculo, como um meio para procriação; e A História de uma Serva é, principalmente, a história de opressão, solidão, tristeza e perda de Defred, que um dia teve um nome, mas agora é conhecida como sendo um pertence de um homem chamado Fred.

 

Mas esta review não se deve focar na narrativa, nos personagens ou na construção do mundo, todos eles já conhecidos com a crescente popularidade do livro (os paralelismos possíveis para o nosso mundo actual são evidentes e aterradores); deve-se focar no sucesso da adaptação de Renée Nault. A arte é belíssima e ilustra um mundo distópico horrível, especialmente para as mulheres. E, embora a beleza das ilustrações funcione, é tudo demasiado belo, delicado e esteticamente apelativo para conseguir implantar o medo devido, com total sucesso, no leitor. Mas talvez funcione precisamente por isso: porque, de fora, parece potencialmente idílico. Para os turistas japoneses como para o leitor.

O facto de não ser possível determinar, a partir dos flashbacks, em que altura se deu a transformação do regime, em que ano se passa a narrativa, torna a adaptação tão intemporal quanto o original, escrito sobre um futuro indefinido. Não deve ter sido fácil resumir esta obra de modo a que continuasse a fazer sentido, mas Nault conseguiu. Li o original quando tinha 22 anos, e não sei dizer ao certo que material foi cortado, mas aquilo que ficou faz sentido e encaixa perfeitamente.


Novamente: é uma óptima história.

4/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. Li The Handsmail's Tale no original há muitos anos, curiosamente estou a ler The Testaments. Tem piada descobri como as traduções fazem transparecer pormenores do inglês, neste caso verifico que a serva Offred pertença de Fred passa em português a Defred, "de" como propriedade tal como of no original no livro que estou a ler esse detalhe do inglês surge bem explicado com Ofkyle.
    Também é interessante ver que há uma questão importante que poucos falam, Atwood não dá a democracia como assegurada no futuro dos Estados Unidos, Gilead nada mais é que a transformação de um estado democrático laico que se torna num Estado ditatorial com uma religião oficial com semelhanças ao Irão, o amigo figadal dos EUA.
    A forma como aos poucos se dá a metamorfose do país, em que Defred se deixou acomodar não fugindo a tempo, é um aviso a nós que vemos nos tempos atuais extremistas e políticos lunáticos populistas a tomar o poder no ocidente com o voto inconsciente popular... até que possa vir a ser tarde como foi para a serva.
    Não vi a série, pelo que não sei como trata esta vertente da obra. Atwood é uma ativista militante no Canada, onde nasci eu também, pelo que estas obras não podem ser descontextualizada da mensagem política e feminista da autora.

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    Respostas
    1. Também li o original, ainda antes da criação deste blog. Quanto ao The Testaments, confesso não ter grande curiosidade... mas fico a aguardar a opinião do Carlos.
      Sim, no original, Of Fred (tal como Ofglen, etc), mas em português traduziram o "of" da pertença para "de"; também não sabia.
      É verdade - enquanto muitas distopias não mostram ao certo a localização geográfica, ou abrangem o mundo inteiro como oprimido pela ditadura ou regime despótico, aqui vemos que se passa, preicsamente, nos EUA. A comparação com o Irão é interessante, e nunca me tinha ocorrido.
      E sim, a lentidão visível, certeira mas dissimulada com que a transição se dá é assustadora. A remoção de direitos por pequenos passos, até que é uma remoção total.
      Vi apenas parte da série, mas não é totalmente fiel ao livro. Esta adaptação é-o mais. É uma obra com mensagem muito importante.

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