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The Dud Avocado

Desafio para Maio: um clássico do séc. XX.


Tendo já lido muitos dos clássicos mais conhecidos deste século (e não tendo andamento para os grandes do Steinbeck, por estar ainda a braços com o Infinite Jest), decidi dar uma hipótese a um clássico mais rebuscado: The Dud Avocado, de Elaine Dundy. Falei com várias pessoas sobre esta minha leitura, e ninguém parecia ter ouvido falar neste livro. Aliás: comprei no Awesome Books por uma ninharia, e o meu único critério para querer ler esta obra prendia-se com o facto de confiar na editora, a Virago.

Também é isso que, para mim, torna este desafio divertido: a partilha de leituras menos óbvias.

Escrito e situado na década de 1950, apresenta-nos Sally Jay Gorce, a protagonista, uma rapariga norte-americana sozinha em Paris. Sally Jay tinha tentado frequentemente fugir de casa (para ser toureira, inclusive) e, cerca do seu 13º aniversário, o seu tio Roger fizera um trato com ela, segundo o qual, quando ela terminasse os seus estudos, ele pagaria para ela estar dois anos onde quisesse, com a condição de não o chatear - e, quando regressasse, teria de lhe contar tudo.

And then one day, one memorable day in the early evening, I stumbled across the Champs-Élysées. I know it seems crazy to say, but before I actually stepped onto it, I had not been aware of its existence. No, I swear it... All at once I found myself standing there gazing down that enchanted boulevard in the blue, blue, evening. Everything seemed to fall into place. Here was all the gaiety and glory and sparkle I knew was going to be life if I could just grasp it. I began floating down those Elysian Fields three inches off the ground, as easily as a Cocteau character floats thru Hell...

O maior desejo de Sally, desde sempre, fora a liberdade, estar sozinha e não ter de responder a ninguém. Assim, está em Paris sem um propósito claro ou fixo; pinta o cabelo de cor-de-rosa, veste-se sempre de forma inadequada, passa noites fora, come e bebe o que quer, dorme com quem quer (incluindo um diplomata italiano casado) - passa de uma paixão para a outra e, mais importante, está sempre a perder os seus pertences.

Apercebemo-nos, a certo ponto, que Gorce é aspirante a actriz, e procura o seu lugar no mundo. Eventualmente, envolve-se, sem se aperceber, num esquema perigoso que poderia ter terminado muito pior para ela. A vida dela é absolutamente caótica, o que torna o livro absurdamente divertido.

I always expect people to behave much better than I do. When they actually behave worse, I am frankly incredulous.

Não há uma linha condutora clara, mas isso não perturbou o meu interesse pelo livro, que é tão disperso quanto a mente da protagonista. O interesse da obra prende-se com os vários cenários da liberdade de Sally Jay, uma rapariga nova, finalmente livre, sozinha no estrangeiro e a tentar aproveitar cada minuto - com os desgostos amorosos, a humilhação e todos os problemas que isso acarreta. Cada personagem é apresentado com enorme entusiasmo, tem a sua própria voz e é distinto.

The vehemence of my moral indignation surprised me. Was I beginning to have standards and principles, and, oh dear, scruples? What were they, and what would I do with them, and how much were they going to get in my way?

E a voz de Sally Jay Gorce (ou da própria Elaine Dundy, dado que o livro terá algo de auto-biográfico) destaca-se por ser tão limpidamente honesta. Sally Jay quer luxo, festas, cocktails, mas mostra claramente a sua falta de auto-estima e o quão errados correm os seus planos. A viagem ao Sul de França que se transforma num passeio pelo dilúvio, a pintura do cabelo que corre mal, a sua carreira no cinema, o seu amante não-tão-sofisticado-assim...

O final não é particularmente satisfatório, mas eram os 1950s.

4/5

Podem comprar esta edição em inglês na wook, na Book Depository ou na Bertrand; a obra não se encontra traduzida para português. Quem se chega à frente?

Comentários

  1. Não conhecia, nem nunca tinha ouvido falar...

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    buestrass.blogspot.com

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    1. Precisamente: não é um livro muito conhecido, e menos ainda por cá, onde nunca houve tradução.

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  2. Não falaste comigo, eu conheço! Já o tive no meu carrinho da Awesomebooks, mas na versão da NYRB, que tal como a Virago tem daqueles catálogos de clássicos modernos de babar. Infelizmente, naquilo de tanto escolher o que comprar, alguém se adiantou a mim. Depois da tua opinião, continuo de olho nele, porque 4/5 é bem bom para mim. Também estou a ler um Virago para o desafio, o Angel da Elizbeth Taylor, que está a ser delicioso.

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    Respostas
    1. Era eu, aqui em cima, a Paula.

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    2. Ora pois :) sim, também há edição NYRB, editora que também tem um catálogo fenomenal de clássicos modernos menos conhecidos, que é algo que aprecio muito. Compreendo bem o dilema Awesomebooks ("estou a comprar 10 livros por 30€, QUE BARATO, vou adicionar mais 5... ai, será que devia mesmo comprar todos?") :)
      É um livro com muito sentido de humor e vale enquanto leitura leve. Não é um clássico arrebatador e life-changing, mas eu não preciso de life-changing em todos os livros que leio.
      Também tenho dois Elizabeth Taylor da Virago na estante, incluindo o Angel! Estive mesmo mesmo para lhe pegar para este desafio. É outra autora que adquiri via AwesomeBooks, e que ainda não li...

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