O segundo volume desta série fabulosa.
O primeiro volume desta edição, Os Mortos e os Moribundos, passa-se algures em 1972, sendo assim talvez uma prequela aos arcos anteriores. Temos aqui Jake e Sebastian, dois jovens que crescem juntos por os seus pais terem construído um império do crime juntos - mas ambos de mundos muito diferentes, mais não seja pelo estatuto social de Jake, filho do suposto guarda-costas do pai de Sebastian Hyde, sendo que este assume o papel de herdeiro rico e chefe do crime. Jake é um promissor boxer e tenta focar-se nessa sua carreira, e a amizade de ambos começa a desfazer-se graças a uma rapariga: Danica.
É a paixão de ambos por Danica - que acaba por escolher Sebastian, com o seu atractivo de bad boy branco e herdeiro do crime - que leva ao fim da amizade de dois rapazes que cresceram como irmãos; e é o seu regresso a Central City que desencadeia todos os eventos trágicos de 1972.
Esta história é-nos narrada em três capítulos, mostrando três pontos de vista diferentes: o de Jake, o de Teeg Lawless (o patriarca mencionado em Lawless) e a própria Danica. Com alguns flashbacks até 1967, temos acesso à trágica e feia história que envolve os quatro personagens, e este "salto geracional" acaba por nos mostrar as origens mais escuras que levaram aos eventos de Cobarde e Lawless. Porque parece, tal como no primeiro volume, que estes personagens não têm como evitar os seus destinos - é fútil, é inútil, e é isso que define o ambiente noir da série.
É extremamente violento, mais ainda que os volumes anteriores. Voltamos ao Undertow, o bar em que todas as más trágicas são tomadas, onde planos de vingança são desenhados, e aqui o universo de Criminal começa a tomar contornos mais definidos, com novas ligações estabelecidas entre os vários personagens e temas recorrentes.
Em Uma Noite Má, reencontramos Jacob Kurtz, que aparecera em Lawless, voltando assim a estabelecer uma ligação entre os personagens deste universo. Jacob Kurtz passa as madrugadas acordado após a morte da sua esposa num trágico acidente de viação, tendo sido acusado da sua morte e estropiado como resultado.
Todo este passado o assombra terrivelmente, e tudo o que ele retirou do trauma foi um emprego como cartoonista, sendo o autor de Franz Kafka, Detective (as vinhetas que aparecem no jornal local, estilo Dick Tracy), do qual nem se consegue livrar, por lhe ter sido oferecido por Sebastian Hyde.
É no Blue Fly Diner, um café aberto 24/7 que Jacob vê Iris, uma estonteante mulher ruiva que parece estar em apuros, a discutir com uma espécie de namorado. Apanhando-a na rua de madrugada, dá-lhe boleia, e a noite acaba de forma previsível (que funciona extremamente bem neste tipo de obra). O que parece ser uma noite boa dá origem a vários dias maus; Iris e o seu respectivo acabam por arrastar Jacob de volta para o mundo do crime, e a vida de Jacob começa a cruzar-se com a do seu Franz Kafka.
A noite má de Jacob mal começou, e torna-se numa viagem por vários níveis do inferno. Há, num clássico registo noir, muito crime, luxúria e traição, sexo e homicídios, polícias e ladrões, linhas ténues entre o bem e o mal. É difícil não adorar os vários twists da narrativa, que tornam difícil não adorar este arco, o melhor até agora na série.
Qualquer um dos arcos de Criminal pode ser apreciado por si, sem ligação com os demais, mas a leitura da obra na sua íntegra ajuda a apreciar o trabalho intenso de world building deste mundo do crime que nos é trazido por Brubaker. Aliás, o facto de os personagens aparecerem em mais que uma narrativa traz-lhes complexidade acrescida (veja-se Teeg Lawless). Novamente, qualquer momento de aparente felicidade é desfeito rapidamente. É difícil não se ficar colado ao mundo de Criminal. A arte de Phillips apresenta evolução desde o primeiro volume, e cativa igualmente.
Comentários
Enviar um comentário