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The Woman in White

O desafio para Outubro era ler um livro gótico, ou de terror.



Peguei, então, neste clássico gótico, que residia há anos na estante, devido à sua dimensão, em parte, e a algum desinteresse recente quando a vitorianos (após ter lido vários dos mais populares). Foi, ainda assim, uma surpresa quando percebi aquilo que tinha aqui por ler: um percursor do género do mistério.


Este é um livro narrado por vários narradores diferentes, com vários intervenientes da história a juntar a sua peça do puzzle, o seu testemunho, sendo aquele que inicia e termina a história Walter Hartright. Walter é um professor de desenho que, graças a um amigo de origem italiana, cuja vida terá salvado, encontra uma posição numa casa remota em Cumberland, enquanto tutor de duas jovens raparigas órfãs de alta sociedade. Este contexto orientou-me logo na direcção errada da história - a mansão remota, meio vazia... - e isso foi uma agradável surpresa. Logo nas primeiras páginas, na noite antes de rumar a Norte, encontra uma jovem mulher, loura, vestida de branco, totalmente desorientada, e ajuda-a a encontrar o caminho para Londres. Esta tem uma conversa bizarra sobre um baronet, e Walter vem a descobrir que ela terá escapado de um asilo.


In one moment, every drop of blood in my body was brought to a stop by the touch of a hand laid lightly and suddenly on my shoulder from behind me. I turned on the instant, with my fingers tightening round the handle of my stick. There, in the middle of the broad, bright high-road – there, as if it had that moment sprung out of the earth or dropped from the heaven – stood the figure of a solitary woman, dressed from head to foot in white garments, her face bent in grave inquiry on mine, her hand pointing to the dark cloud over London, as I faced her. I was far too seriously startled by the suddenness with which this extraordinary apparition stood before me, in the dead of night and in that lonely place, to ask what she wanted. The strange woman spoke first.

"Is that the road to London?"


Divertido, certo?


Absorto no mistério, mas já em Limeridge Hall, Walter Hartight conhece Marian Halcombe, a sua meia-irmã Laura Fairlie, e o tio inválido destas, um senhor que só quer que ninguém o chateie. A amizade com Marian - descrita como morena, masculina, forte, o pilar da sua irmã - é imediata, bem como a paixão por Laura - loura, pálida, órfã, frágil e necessitada de protecção - que, curiosamente, é bastante parecida com a mulher de branco, que descobrem ser Anne Catherick, que já tinha vivido na zona. E é por causa desta paixão que Walter acaba por sair de cena - Laura estava prometida a Sir Percival Glyde.


Any woman who is sure of her own wits, is a match, at any time, for a man who is not sure of his own temper.


O drama intensifica quando Laura recebe uma carta, pouco antes do casamento, a avisá-la para ficar longe de Sir Percival - que, entretanto, faz exigências legais estranhas quanto ao dinheiro de Laura no acordo pré-nupcial. Laura, ainda assim, acaba por ccasar com Sir Percival, porque é o que tinha prometido ao seu pai. O seu único pedido é que a sua adorada meia-irmã, Marian, possa viver com ela para sempre.


No regresso da lua-de-mel, Marian encontra uma Laura muito desencantada, acompanhada do seu marido, do melhor amigo deste, o Conde italiano Fosco, e a sua esposa (curiosamente, tia de Laura, deserdada após o casamento). As semanas que se seguem são tensas, e é aqui que a trama intensifica e o mistério fica mais denso.


Lento no início e nalgumas partes, é certo, mas os personagens crescem e são detalhados e interessantes; a narrativa é intrigante, a conspiração e o mistério prendem, bem como os vários twists and turns que vão sendo revelados.


Wilkie Collins, consta, era defensor dos direitos das mulheres, e opunha-se ao casamento por achar que, enquanto instituição legal, era uma injustiça para com as mulheres - cujos direitos não eram protegidos da mesma maneira. Essa ideia é explorada neste livro, mas o "feminismo" de Collins é problemático, porque a irmã inteligente é descrita como masculina, a irmã feminina é fraca e quase nula, e outras personagens femininas do livro são tontas ou más.


My hour for tea is half-past five, and my buttered toast waits for nobody.


4/5 boa narrativa


Podem comprar uma outra edição em inglês na wook ou na Bertrandou em português, também na wook ou na Bertrand



Comentários

  1. Muito curiosa, essa vertente feminista do Wilkie!
    Eu gostava de o ler, mas o tamanho intimida-me, é um facto.
    Acabei por optar por um conto da minha querida Edith Wharton, "Afterward", para o desafio porque tem sido um mês cheio de trabalho e de novidades literárias a distraírem, por isso, ficou difícil cumprir os planos iniciais.
    Paula

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    Respostas
    1. Apesar da dimensão, afirmo que se lê de forma bastante célere :) pelo menos eu achei.
      Tenho mesmo de voltar a ler Edith Wharton! Só li o The Age of Innocence, vai para dez anos...

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  2. Boa citação no final
    Interessante essa vertente de defensor dos direitos das mulheres; por outro lado, achas que um escritor, no caso, apenas deve criar personagens que sejam identificáveis com os seus ideais?
    Algum dos teus livros favoritos contém variados narradores ao longo da história?
    Alto bolo na fotografia, é o de canela? Tão bom
    Tiveste medo ao ler? O Drácula continua a ser o que mais medo te causou?
    Tantas perguntas

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    Respostas
    1. Sim, era esse bolo delicioso!!

      Não tive medo deste, não :p e não, não diria que um autor deve apenas criar personagens identificáveis com os seus ideais; no entanto, acho que se tentar criar um personagem totalmente oposto, pode cair na caricatura.

      O The Sound and the Fury tem quatro narradores!

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