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The Railway Children

Logo após um post em que mostro um haul de infanto-juvenis, uma opinião bem atrasada de um livro do mesmo género.


The Railway Children foi o meu primeiro encontro com a obra de Edith Nesbit (e com a colecção infantil da Virago Books!), creio que em grande parte porque não estaria disponível em português à data em que eu teria a idade "indicada" para o ler - a oportunidade pode ter sido tardia, mas não foi agora desperdiçada.

Esta é a história de três irmãos - Roberta "Bobbie", Peter e Phyllis - que passam por um conjunto de aventuras algo episódicas, numa situação talvez com menos privilégio que as crianças que habitualmente se encontra nos livros infantis clássicos. A mãe e os três filhos mudam-se para o campo, de forma algo forçada, após o pai ter de "ir embora durante algum tempo", algo que não é exactamente explicado às crianças (mas a mãe sabe o que se passa).

A sua nova casa de campo é perto de uma linha de comboio, algo que as crianças adoram; e, à falta de melhor entretém (talvez), os três irmãos habituam-se a ir ver passar os comboios, acenar aos passageiros, e até a ir passar algum tempo na estação, onde fazem novas amizades. Um passageiro habitual do comboio das 9:15, um senhor mais velho com ar distinto, começa a acenar-lhes de volta, numa espécie de amizade platónica.

O motivo pelo qual digo que as aventuras parecem episódicas é porque, aparte o envolvimento quase constante do comboio, as aventuras são sempre em torno de salvar ou ajudar os habitantes locais, mas sem grande continuidade. Mais interessante que as aventuras, ou que a forma como esta família luta por manter a sua felicidade em circunstâncias menos animadoras, são os pensamentos e as preocupações de Bobbie, que pensa na situação do pai (embora desconheça a realidade), nas contas do médico, na tristeza que a mãe tenta esconder do filhos, trazendo mais profundidade à história.

Also she had the power of silent sympathy. That sounds rather dull, I know, but it's not so dull as it sounds. It just means that a person is able to know that you are unhappy, and to love you extra on that account, without bothering you by telling you all the time how sorry she is for you.

Como todos os livros da sua época, tem algo de datado (o livro foi inicialmente publicado em 1905), pelo que arrisco dizer, com a minha leitura de adulta, que poderá não ter o encanto original para as crianças actualmente (até porque, para muitas, o pai desaparecer até pode ser motivo de alegria); porém, há nem 30 anos eu adorava Os Desastres de Sofia e As Mulherzinhas, pelo que pode ser mau julgamento da minha parte. As crianças são, como é regra geral nestas obras, muito boazinhas, muito boas com a sua mãe, mas não cai no sacarino exagerado e, com alguns momentos mais marotos (e os pensamentos de Bobbie), são verosímeis o suficiente.

Há também algum humor neste livro que pode ser apreciado por qualquer idade, sendo especialmente memoráveis as considerações finais sobre como "tudo acaba tão bem e arrumadinho nos livros" (como este, é claro, acaba). As coisas acabam por se resolver com a ajuda dos novos amigos feitos graças à linha do comboio.

Don't you think it's rather nice to think that we're in a book that God's writing? If I were writing the book, I might make mistakes. But God knows how to make the story end just right—in the way that's best for us.

A minha edição tem as ilustrações originais de C. E. Brock.

4/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand, ou em português, na wook ou na Bertrand.


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