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Ghost World

Tinha visto o filme com a Scarlett Johansson e a Thora Birch há anos, mas ainda não tinha chegado a este livro.



Posso dizer que do filme, não me lembro muito (mas do pouco que me lembro tinha algumas diferenças quanto ao livro) - lembro-me de entreter, de acontecer realmente pouco, e o original Ghost World, de Daniel Clowes, tem o mesmo sentimento, de poucos eventos, cenas quotidianas plenas de raiva adolescente, ser mais sobre sentimentos e ideias que sobre acontecimentos.


Enid e Rebecca são duas raparigas que acabaram a escola secundária, muito amigas mas párias sociais, tendo um forte desdém sobre todos os que as rodeiam. Ghost World mostra como a sua amizade se desenvolve e torna mais complicada naquele último verão antes da vida adulta, em que têm de descobrir o que fazer com as suas vidas, e se têm um papel para a outra na sua vida futura. Vão a cafés, observam pessoas (que desdenham, claro), observam o que as rodeia de forma cínica, planeiam futuros. Planeiam ou evitam planear a próxima fase das suas vidas.


É um livro divertido e triste ao mesmo tempo, acima de tudo honesto, com pessoas que não são perfeitas, cujas vidas não são perfeitas e são até um bocado aborrecidas. É extremamente realista embora pareça juntar vários personagens absurdos na mesma pequena cidade suburbana (mas quando se critica toda a gente, não é normal que toda a gente pareça absurda?). Conseguimos perceber que o que nos parece serem duas raparigas desagradáveis, são duas raparigas com muita dor pessoal e dificuldade em interagir com os outros, disfarçando-se com uma falsa superioridade. 


Cada capítulo tem uma história auto-contida, pelo que a narrativa é um pouco solta. Em tons de azul e branco, consegue caracterizar de forma quase mística a cidade que se descaracteriza, com novos centros comerciais, com pessoas quase nulas.


Que propósito terá o homem que todos os dias espera pelo autocarro numa paragem inactiva?


4/5


Podem comprar esta edição na wook; já esteve disponível em português, há vários anos.


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