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Flush

Além da biografia de Orlando, Virginia Woolf escreveu também a biografia de Flush, um cão real.


Não sendo eu versada em Virginia Woolf (li The Waves há alguns anos, Orlando há mais anos do que devia - carece de releitura - e tenho ali o A Room of One's Own à espera), achei Flush um livro muito peculiar, seja na temática escolhida, seja na forma como os seus capítulos estão organizados. Devo também admitir que, até à edição desta obra pela Porto Editora (edição, já agora, belíssima, com capa dura, papel de qualidade e ilustrações de Iratxe López de Munáin), nunca tinha ouvido falar da mesma.

Trata-se, aparentemente, de uma obra que a própria Woolf teria em menor consideração, uma espécie de projecto "mais simples" após ter escrito The Waves. Neste livro, sobre Flush, o cocker spaniel de Elizabeth Barrett Browning, Virginia Woolf reúne o seu amor por cães, pela literatura e pelo que é britânico.

Imagem retirada do site oficial da ilustradora


Aqui, através dos olhos de Flush, acompanhamos Elizabeth Barrett Browning desde o seu confinamento no seu quarto, na Wimpole Street em Londres, com a sua saúde frágil, à sua vida quase exilada em Itália após ter casado com Robert Browning, no seguimento de um namoro epistolar, à revelia da família - sendo, assim, uma quase biografia da poetisa, disfarçada debaixo da biografia do seu cão. Flush, sob a escrita de Virginia Woolf, tem um olhar apurado para a vida victoriana e as várias classes sociais em Londres.

Os spaniels são por natureza simpáticos; Flush, como mostra a sua história, tinha uma sensibilidade quase excessiva para as emoções humanas.

Apesar de ser uma biografia de um cão, Virginia Woolf baseou-se nas cartas e nos poemas de Elizabeth Barrett Browning para narrar como Flush chegou ao quarto em Wimpole Street, as suas aventuras e desventuras (algumas delas, sim, reais!), e a sua relação com Robert Browning. Sendo um animal de companhia, amado e mimado, Flush é o confissor de Elizabeth Barrett Browning e tem acesso a todos os seus pensamentos e sentimentos, interpretando-os com recurso a cheiros, ruídos e outros elementos que o circundam.

Dada a sua leveza - e as belíssimas ilustrações -, talvez seja este (e não Orlando) o melhor livro para conhecer Virginia Woolf.

Tradução de Isabel Castro Silva

Conteúdo selecionado para o artigo "11+ livros incríveis para celebrar o Dia Mundial do Livro", publicado no blog da editora educativa Twinkl.

4/5

A minha é a edição especial do Natal 2021. Podem comprar uma edição sem a "caixa" exterior, mas no restante idêntica, na wook ou na Bertrand


Comentários

  1. quero ler tudo dela e este parece-me maravilhoso! li o A Room of One's Own há uns anos e fiz releitura o ano passado (adorei ainda mais da segunda vez). acho que o próximo em que vou pegar dela vai ser o To the Lighthouse.

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    1. este é muito mais leve que os outros que li dela, e muito mais acessível! devia reler o Orlando; tinha 17 anos quando o li...

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  2. Tenho imensa curiosidade com este livro, e as ilustrações são muito bonitas!

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    1. as ilustrações são mesmo muito bonitas! é uma obra muito diferente para explorar Woolf :)

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  3. Acho que a Castanha está intimidada com a Woolf. Acontece aos melhores, Casatanha!
    Tenho este, ainda q

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  4. Carreguei na tecla enter, raios...
    Como eu dizia, que nem me deu tempo de corrigir o nome da menina linda, tenho este ainda que numa edição mais modesta e antiga e não sei por que não o li ainda.
    Isso de os cocker spaniels serem simpáticos, é que é outra história. Conheci muitos e só encontrei um bonzinho. A única dentada de levei de um cão foi precisamente de um! :-)
    Paula

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    1. A Castanha, mais que intimidada, é tímida :) Talvez esta edição possa ganhar a uma mais modesta e antiga pela nova tradução da Isabel Castro Silva, em quem confio; pelas ilustrações, que apesar de tudo não são muitas, podes sempre ir a uma biblioteca consultar.
      Nunca conheci um Cocker Spaniel e tenho pouco contacto com "cães de marca". Não pareço estar a perder muito :)

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  5. A cadela que tive antes desta foi uma cocker spaniel preta "surrendered", como dizem os americanos, porque de repente a dona ficou com alergia. A única pessoa interessada era um caçador, portanto, lá veio ela... Mas não foi ela que me mordeu, apesar de me arreganhar bastante a dentola. A rafeira super mix que tenho agora é uma paz de alma medrosa.
    Paula

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    1. ai, as alergias, enfim :( nem vale a pena. fico feliz que tenha ficado contigo e não com o caçador. a minha rafeira super mix, como sabes, também é uma paz de alma :)

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