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The Princess Bride

Confissão #1: nunca vi o filme.


Confissão #2: adorei parvamente o livro. Não sabia verdadeiramente ao que ia, e quase saltei a introdução, até me ter apercebido que esta faz parte da narrativa: uma falsa background story, sobre a herança cultural do fictício país Florin do autor e do seu pai, uma família que não existe e, acima de tudo, um livro que não existe, de S. Morgenstern (que também não existiu - mas toda esta parte pode ser confusa), e que o autor William Goldman está a resumir para manter apenas as partes entusiasmantes, após o seu filho (inexistente) não ter apreciado o original.

Tudo isto é uma técnica narrativa, e obriga o leitor a não deixar a introdução/prefácio para o fim (como é meu costume fazer), porque, na verdade, se trata do primeiro capítulo. Não há um original, é só uma maneira de o autor narrar a sua história.

E é entusiasmante, porque William Goldman corta de facto no não essencial, no aborrecido, nas lições de História sobre o grande reino de Florin... apesar de nos dar notas algo misóginas e ofensivas sobre a sua família fictícia.

Esta é uma história sobre muitas coisas: uma princesa, chamada Buttercup, um rapaz chamado Wesley, o príncipe Humperdinck, amor de verdade, morte, espadas, castelos, torturas... ou, como o autor colocaria:

Fencing. Fighting. Torture. Poison. True love. Hate. Revenge. Giants. Hunters. Bad men. Good men. Beautifulest ladies. Snakes. Spiders. Beasts of all natures and descriptions. Pain. Death. Brave men. Coward men. Strongest men. Chases. Escapes. Lies. Truths. Passion. Miracles.

Em Florin, Buttercup vive com os seus pais e Wesley, o "farm boy". Buttercup gosta de dar ordens a Wesley, e ele responde sempre com "As you wish" e faz o que ela pede. Até ao dia em que Buttercup se apercebe que essa é uma declaração de amor, e também ela gosta dele. Wesley parte para a América, para arranjar um emprego e ter uma boa vida junto da sua amada, mas o seu barco é atacado por piratas. Buttercup assume-o morto, porque o Dread Pirate Roberts é conhecido por não deixar sobreviventes. Anos mais tarde, o príncipe Humperdink, de Florin, vê-se obrigado a casar, pois o seu pai está velho e doente, e é necessário assegurar a descendência. O Conde Rugen, homem sádico que já tinha visto Buttercup, aconselha Humperdink a casar com ela - e Buttercup não pode dizer que não, porque Humperdink é o príncipe, e planeiam casar no 500º aniversário de Florin.

"I am your Prince and you will marry me," Humperdinck said.
Buttercup whispered, "I am your servant and I refuse."
"I am you Prince and you cannot refuse."
"I am your loyal servant and I just did."
"Refusal means death."
"Kill me then."

O Príncipe Humperdink, exímio caçador e terrível ser humano, quer também começar uma guerra com o reino vizinho, Guilder. E, para este fim, faz de Buttercup a adorada princesa do povo de Florin, e planeia assassiná-la e culpar Guilder. Para isto, contrata um trio de mercenários: Vizzini, o siciliano que se crê muito inteligente, Inigo Montoya, o mestre espadachim espanhol, e Fezzik, o gigante turco extremamente forte. Antes do casamento, os três raptam Buttercup; porém, ao longo do seu caminho pelos Cliffs of Insanity, são perseguidos por um homem de máscara preta, o Dread Pirate Roberts, que nem a maior força, a melhor espada ou a inteligência mais apurada conseguirão parar.

Mas por que é que Buttercup é tão importante para Roberts? Revelar mais poderá estragar a história a quem nunca leu o livro, ou viu o filme.

Just because you're beautiful and perfect, it's made you conceited.

Adoro o Inigo Montoya, e consigo compreender por que motivo ele é um personagem tão popular. Também gostei da Buttercup, a mulher mais bonita do mundo, que não tem grandes outras qualidades ou talentos, mas que não é desprovida de personalidade.

My name is Inigo Montoya, you killed my father, prepare to die!

Livro para arrancar gargalhadas, para ler quase de uma enfiada (ou 100 páginas de uma vez, numa tarde no café), porque é impossível não ficar em ânsia de saber o final. É uma das melhores histórias de amor, acção ou vingança alguma vez resumidas. Temi que as interrupções do autor se pudessem tornar irritantes, mas nunca aconteceu. É, no fundo, uma história sobre uma história, sobre o quanto as história nos podem influenciar ou ensinar. Sobre as relações que criamos com a ficção, com o mundo à nossa volta.

Não pensei que fosse adorar assim o livro, mas foi uma leitura maravilhosa. A sua maior força é tocar em todos os clichés possíveis: é um conto de fadas com acção, romance, vingança, e é intemporal. Publicado nos 1970s, contém uma narrativa que poderia ter sido escrita em qualquer altura (a versão do S Morgenstern, isto é, não os apartes do autor). É uma aventura sem fim, com momentos de comédia e personagens memoráveis. O estilo da escrita funciona muito bem: talvez seja a parte dentro do leitor que se recorda de lhe lerem histórias (não tenho grandes memórias, porque aprendi a ler com menos de três anos). Únicos senãos: o final, um pouco apressado, mas que não consegue arruinar o livro.

Life isn't fair, it's just fairer than death, that's all.

E... o capítulo "extra" (esta edição é comemorativa), "Buttercup's Baby". A introdução do capítulo é decente, a parte que é supostamente um resumo de S Morgenstern é atroz. A história é terrível, longe do quão brilhante é o material original (como em, o romance, não a obra de Morgenstern), e dá para entender por que motivo Goldman nunca escreveu uma sequela completa. Fico feliz por nunca o ter feito...

5/5

Podem comprar uma outra edição em inglês na wook ou na Bertrand; infelizmente, este livro nunca foi traduzido para português

Comentários

  1. Excelente resumo. Nunca imaginei que fosse um livro que me cativasse, mas ler este texto aguçou-me a curiosidade.

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    1. Também o li mais por curiosidade do que por achar que ia adorar. Estava enganada! :)

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  2. Quero ler para *finalmente* perceber as referências! (também nunca vi o filme)

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    1. Recomendo muito! O Inigo Montoya é, realmente, assim tão épico!

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  3. Eu também nunca vi o filme mas fui pesquisar e está no top 250 do imdb :o vale o que vale but still, como dizia o outro you had my curiosity now you have my attention
    Se adoraste parvamente o livro quero ler também!
    Todo o diálogo que termina com "Kill me then." é muito bom
    Gostei muito do post, dirias que foi o teu livro favorito de 2019? :p

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    1. Consta que o filme é mega icónico! Mas, e não surpreendentemente, nunca o vi... e tive de googlar quem disse isso.
      Adorei sim! Livro favorito de 2019 até agora!

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