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The Steel Flea

Tinha de comprar um livro na Flâneur.


E o eleito acabou por ser este conto, da autoria de Leskov, autor que já tinha lido antes e que entendi que não me iria desiludir. Esta edição é dos Little Black Classics da Penguin, que contém várias pequenas pérolas, com número de páginas limitado e preços ridiculamente atractivos (podem ler aqui a minha opinião sobre um outro livro da colecção, A Cup of Sake Beneath the Cherry Trees).

Se, por um lado, Lady Macbeth de Mtsensk é um conto sobre uma mulher pérfida, The Steel Flea é um jogo de neologismos, humor e duas grandes nações num balanço de poder delicado devido a algo tão mesquinho como uma mosca metálica, que representa a relação da Rússia com o Ocidente.

O Czar Aleksander I (contexto: 1820s, uns 50 anos antes de o conto ter sido escrito - e a grafia é intencional, como ao longo de toda a obra) encontra-se de visita à Inglaterra (então, a Nação mais tecnologicamente desenvolvida do mundo), acompanhado pelo cossaco Platov, um russo comum, orgulhoso e difícil de impressionar. Um vasto leque de maravilhas tecnológicas é apresentado ao visitante imperial, que interpreta tudo como uma prova da inferioridade desesperançada da Rússia.

Platov não se deixa convencer, no entanto. E, como prenda, o Czar recebe uma pequena mosca de aço, que dança quando adequadamente despoletada. Este mecanismo complexo só pode ser visto através de um microscópio (um "nitroscope"), e o Czar fica maravilhado com este milagre da engenharia.

Quando, anos mais tarde, Nikolay, irmão de Aleksander, é coroado, a mosca torna-se num assunto político. Platov, já reformado, é chamado para que descubra se há algum sítio na Rússia onde a habilidade inglesa possa ser superada. Em Tula, Platov descobre Lefty, um artesão, canhoto e estrábico, que, juntamente com outros colegas, consegue trabalhar na invenção inglesa.

Lefty vai, juntamente com uma delegação russa, a Inglaterra, mostrar o novo engenho. Imensamente impressionados, os ingleses tentam convencer Lefty a ficar com eles - mas Lefty tem saudades de casa, de Tula, e regressa à Rússia. O final não é feliz.

Lefty's real name, like the names of many of the greatest geniuses, has been lost to posterity forever; but he is interesting as the embodiment of a myth in the popular imagination, and his adventures can serve to remind us of an epoch whose general spirit has been portrayed here clearly and accurately.

Sendo que, hoje em dia, isto é ainda mais relevante, porque máquinas e outros milagres de engenharia substituíram a necessidade de génios e talentos. Ainda assim, o trabalho de Leskov conserva alguma frescura, mais de 100 anos volvidos.

Gostei dos neologismos, das suas traduções, embora possam ser confusos a início (e mesmo confundir o leitor, induzindo no erro de ter havido preguiça na revisão do texto). Acredito que tenha perdido algumas das piadas, por não ter compreendido o porquê de algumas grafias - humor, duplos significados?

Seria bom voltar aos tempos em que um chefe de Estado da Rússia prestasse atenção aos sapatos de uma mosca, tendo isso como objecto de orgulho nacional.

4/5

Podem comprar uma outra edição em inglês na wook ou na Bertrand

Comentários

  1. Adoro estes livrinhos pequeninos, destas e de outras colecções para ter um cheirinho da escrita de algum autor que não conheça. E este ainda não conheço!
    Paula

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    Respostas
    1. Esta é, de facto, uma excelente colecção :) gostei deste, mas preferi o Lady Macbeth!

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  2. Gostei da livraria, excelente seleção (será que é só com um c?), e o sítio é muito agradável de se estar
    Esses livrinhos são uma colecção muito fixe, com autores não tão conhecidos (para mim), de vários países e são livros pequenos, muitas vezes apenas capítulos de certos livros mas gosto até desse aspecto, do que li tenho gostado
    'Sendo que, hoje em dia, isto é ainda mais relevante, porque máquinas e outros milagres de engenharia substituíram a necessidade de génios e talentos.' alguém tem de as construir, não diria que são todos génios ou talentos mas precisam de algum talento sem dúvida
    'Lefty's real name, like the names of many of the greatest geniuses, has been lost to posterity forever' talvez, eu acho que se perdem mais talentos do que génios (até porque génios há poucos), perdem-se muitos talentos para as mais variadas coisas, pelas mais variadas razões, muitas vezes as pessoas nem sabem que têm certo talento, as pessoas deviam explorar mais quando são mais novas, ver o que gostam e não, para o que têm jeito e não, algumas até o fazem é verdade mas são poucas, no entanto cada um sabe de si claro, mas não deixa de ser uma perda para a humanidade e para a pessoa enquanto indivíduo, mas é apenas uma opinião
    Gostei, já não vinha ao teu blogue há demasiado tempo, tinha saudades!

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    Respostas
    1. Eu escrevo selecção, porque escrevo com o acordo ortográfico anterior, o dos tempos do Salazar. Mas isso sou eu :$
      Perspectiva interessante - acho que certos "milagres" que acabam por retirar certos esforços, certas tarefas, acabam por apagar certos talentos. Se uma calculadora faz a conta, ninguém precisa de ser excepcionalmente bom a matemática, por exemplo; and so on and so on, especialmente com coisas que estão informatizadas, hoje em dia. Alguém tem de construir, de inventar, mas depois disso, podemos ser todos medíocres...
      A colecção é de facto interessante, tem autores mais conhecidos e outros menos conhecidos, são livros pequenos e baratos e dão para explorar muito :p

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