O desafio de Setembro do #lerosclássicos2021 era ler um livro de não-ficção.
Tinha este livro há vários anos em mente enquanto leitura desejada, e há já quase quatro anos na estante (adquirido numa espécie de Cash Converters francesa). Não sei o quão conhecido Laurie Lee é por cá (embora acredite que praticamente nada); o que sei é que, não obstante se ter definido como poeta, é esta memória da sua infância, extremamente popular no Reino Unido, que é a sua obra mais conhecida.
Cider with Rosie é, portanto, uma memória de infância - uma infância passada na aldeia de Slad, nos Cotswolds, em pleno Gloucestershire rural, para onde Laurie Lee se mudou com a família ainda muito pequeno, com 3-4 anos, ainda antes do fim da Primeira Guerra Mundial. O mundo de Slad é um mundo em vias de extinção, mas Laurie e a sua família não o sabem.
The village in fact was like a deep-running cave still linked to its antic past, a cave whose shadows were cluttered with spirits and by laws still vaguely ancestral. This cave we inhabited looked backwards through chambers that led to our ghostly beginnings; and had not, as yet, been tidied up, or scrubbed clean by electric light, or suburbanised by a Victorian church, or papered by cinema screens.
Lee relata os eventos por tema, em vinhetas, e não de modo cronológico, embora comece com a mudança para a casa remota no vale e termine, mais ou menos, com os casamentos das irmãs, irmãs do primeiro casamento do pai, que a mãe de Lee criou. A vida rural é sobre o dia-a-dia, as estações do ano, as festividades, a escola, que se abandonava cedo; a mãe de Lee, que criou todos os filhos sobrevivos do marido, por quem esperou mais de 30 anos mas que nunca viu regressar; o conceito de "casa", fortemente enraizado na mãe, nas irmãs; a passagem do tempo, que mudaria para sempre os Cotswolds (mesmo que, ainda hoje em dia, permaneçam aldeias encantadoras).
Esta memória, publicada em 1959, descreve liricamente as experiências no mundo rural através dos olhos de uma criança, inocentes e quase encantadores não obstante as descrições de criminalidade e pobreza extrema. Os eventos não são mostrados com filtro - as mortes demasiado comuns, o trabalho árduo -, mas descreve os pequenos prazeres da vida e tudo aquilo que viria a mudar em breve. É, de certo modo, uma carta de amor a um modo de vida antigo que nunca viremos a experienciar - os carros apareceram nos anos 20, os autocarros substituíram os cavalos e as longas caminhadas, o Squire morreu e o sobrinho dividiu e vendeu os terrenos. As pessoas começaram a partir.
É muito bonito (apesar de ter partes muito questionáveis em termos morais), bucólico, saudosista, mas não exactamente memorável.
3/5
Podem comprar uma outra edição em inglês na wook ou na Bertrand. Aparentemente, não se encontra disponível em português e eu não estou surpreendida.
Gostei da resenha. Amo narrativa de memórias.
ResponderEliminarObrigada! Também gosto. Acho que se aprende sempre muito, especialmente quando o relato é tão distante da nossa experiência, mesmo quando, literariamente, não nos agrada tanto assim.
EliminarEu conheço este livro de ouvir falar! A primeira Booktuber que segui, uma australiana amorosa, estava sempre a elogiar este livro por serem memórias de infância, bem como Sisters By a River da Barbara Comyns e How Green was My Valley do Llewellyn.
ResponderEliminarPaula
também tenho o how green was my valley na estante, mas descobri há uns tempos que esse é ficcionado e o autor, afinal, não passou assim tanto tempo da sua vida em gales (o choque, o horror!); não seria, assim, adequado ao desafio, mas continuo a querer lê-lo :)
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