Fui saboreando esta colecção de poesia aos poucos.
De Atwood, vergonhosamente, ainda só tinha lido The Handmaid's Tale, há demasiados anos e com demasiados outros títulos a aguardar na estante. O facto de esta ser a sua primeira obra de poesia em cerca de vinte anos, no entanto, acabou por me aguçar particularmente a curiosidade, e fui lendo aos poucos esta edição bilingue - confesso que com particular ênfase às palavras no original (que transcrevo abaixo - mas recordo que o livro está em português, com o original inglês à esquerda, permitindo a comparação e apreciação de ambos).
A colecção começa com um poema intitulado Late Poems, relembrando que estes são poemas tardios na vida da autora, de 80 anos:
Late Poems
These are the late poems.
Most poems are late
of course: too late,
like a letter sent by a sailor
that arrives after he’s drowned.
Too late to be of help, such letters,
and late poems are similar.
They arrive as if through water.
Whatever it was has happened:
the battle, the sunny day, the moonlit
slipping into lust, the farewell kiss. The poem
washes ashore like flotsam.
Or late, as in late for supper:
all the words cold or eaten.
Scoundrels, plight, and vanquished,
or linger, bide, awhile,
forsaken, wept, forlorn.
Love and joy, even: thrice-gnawed songs.
Rusted spells. Worn choruses.
It’s late, it’s very late;
Too late for dancing.
Still, sing what you can.
Turn up the light: sing on,
sing: On.
Este conjunto tem, aliás, apesar de alguns dos poemas terem sido anteriormente publicados (em publicações várias, antologias, etc), uma atmosfera de morte e perda - de já ser tarde, de tudo o que já se perdeu e o que se pode vir ainda a perder. Percebe-se que os poemas, publicados e inéditos, foram assim dispostos por um motivo. O que é que Atwood vê, quando olha para trás? Há várias temáticas exploradas nas cinco partes deste livro: a idade, a memória, o corpo feminino, a natureza e as alterações climáticas, o plástico, os pássaros, os mitos... a mortalidade. São tópicos que claramente movem a autora, que, pelas suas próprias palavras, consegue comover o leitor.
As imagens que transmite através da sua poesia são vívidas, em linguagem tão séria quanto irónica, e a poesia é um veículo interessante e introspectivo para as mesmas. São temas mórbidos e deprimentes? Sim, são - e conseguem inquietar o leitor, seja através da morte literal e da perda que daí advém, da "morte" de palavras (como dearly, caindo em desuso) ou mesmo invasões alienígenas.
The Aliens arrive
The Aliens arrive
We like the part where we get saved.
We like the part where we get destroyed.
Why do those feel so similar?
Either way, it’s an end.
No more just being alive.
No more pretend.
Atwood é brilhante e vale a pena tanto na prosa quanto na poesia. Esta colecção tem a capacidade de prender o leitor, de o fazer querer saber das várias ideias abordadas, de nos fazer sentir mais próximos da morte - sentindo-nos mais vivos.
4/5
Boa foto
ResponderEliminarGostei muito de ambos os poemas
Bela publicação, tens mais obras dela? Para além do The Handmaid's Tale
a capa é muito bonita, o que ajuda muito!
Eliminarsim, tenho alguns... mas não li, ainda, nenhum: Alias Grace, The Blind Assassin, Cat's Eye e tenho o Oryx and Crake em português!
Gostei do The Handmaid's Tale, mas não adorei. Dela gostava de ler o Cat's Eye que já me recomendaram vezes sem conta.
ResponderEliminarconfesso que quero ler muito mais dela, tenho mesmo imensa curiosidade! gostei do the handmaid's tale, não amei mas achei muito bom :)
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