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Mary Ventura and the Ninth Kingdom

A publicação desta história inédita de Sylvia Plath tinha-me prendido desde o início (evento emocionante apenas para nerds da literatura; ainda estou à espera dos Salingers prometidos em talvez 2013...)


Mary Ventura and the Ninth Kingdom foi escrito por Sylvia Plath em 1952, quando esta tinha 20 anos e ainda era estudante. Submeteu o conto à revista Mademoiselle, mas foi rejeitado e colocado na gaveta, até que a Faber o "resgatou" e decidiu publicar. Em 1952, Sylvia ainda não tinha feito o estágio que inspirou, posteriormente, The Bell Jar, ainda não tinha tentado o suicídio pela primeira vez, ainda não tinha conhecido Ted Hughes. Morreria, por suicídio, dez anos mais tarde.

Conhecemos Mary Ventura (nome de uma antiga colega de escola de Sylvia) ainda com os seus pais, numa estação de comboio. Mary vai fazer uma viagem, sozinha, a contra-gosto, mas coagida pelos pais. Mary vai para "Norte", para um destino que desconhece, e não percebe por que motivo vai - tem receio.

"I can’t go today. I simply can’t. I’m not ready to take the trip yet"

Apesar dos protestos, os pais dela abandonam-na no comboio. Mary, ao início, abordada por uma senhora de idade, sente-se algo encantada com os luxos da viagem, mas o desconforto, o medo, vão crescendo à medida que o comboio avança - mais não seja porque, nesta viagem, nada parece real. A atmosfera é sedutora, mas pesada - a bebida que Mary pede no bar-vagão, os assentos red plush, the color of wine -, hostil, com chamas e fumo visíveis ao fundo, paragens abandonadas onde o comboio já não pára, numa sensação de terror em crescendo.

You let them put you on the train, didn’t you? You accepted and did not rebel.

Torna-se, eventualmente, claro que os passageiros vão algures tão misterioso quanto terrível; Mary é incentivada a tomar acção, a optar por sair para escapar ao destino que espera todos os outros. A escolha parece de rebeldia, mas a história, que a própria Plath apodou de "vague symbolic tale", é mesmo alegórica, simbólica, e o seu significado não é exactamente claro. Por um lado, parece que os pais de Mary a empurravam para a morte (espelhando a relação complicada da autora com os pais); por outro, e face à biografia de Sylvia, será que a fuga do comboio significa a fuga da própria vida? Será que a única forma de escapar à morte é tomar acção, ou que a única forma de escapar à vida (insuportável, que só leva à tristeza e à desgraça) é a morte?

The shuttle of the train wheel struck doom into her brain. Guilt, the train wheels clucked like round black birds, and guilt, and guilt, and guilt.

4/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrandou em português, também na wook ou na Bertrand



Comentários

  1. Embirro com o Freud, mas aqui acho que "Freud explica" mesmo. Eu nem aprecio alegorias, mas este conto é uma pérola, uma riqueza de significados.
    Paula

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    Respostas
    1. acho que há tantas possibilidades de significado, aqui, que nem sei qual escolher :) fiquei confusa, em bom. o red comet chegou ontem!

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