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Os Regressos

Conheço muito pouco do que se faz de nona arte em Portugal.


Foi, portanto, de espírito muito aberto que me debrucei sobre Os Regressos, de Pedro Moura e Marta Teives, livro que diria que li na altura do ano ideal - meados de Agosto. Ao contrário de Madalena, a protagonista do livro, fui nascida e criada na cidade, mas com uma infância de romaria anual (bi-anual, na verdade) a uma aldeia típica - onde todos se conhecem, que fica a uma muito longa viagem de distância do local de residência.

 

O nosso primeiro encontro com Madalena, a protagonista, é na longa viagem de comboio que a levará à terra onde cresceu, criada pela avó que sabe que não irá mais encontrar. Na casa, vazia, é inundada por memórias agridoces, que dão subtilmente a entender que algo está errado (detalhes que convidam muito a uma releitura!).

É neste meio bucólico e lento, onde Madalena diz que vai "para descansar", que a vemos a passar por um processo que parece, inicialmente, de luto pela avó - mas que tem raízes mais profundas. Os reencontros com os amigos de infância acabam por desenterrar memórias menos felizes e, assim, o regresso à terra da avó traz também o regresso de outras presenças da vida de Madalena.

Os Regressos toca de forma subtil e sensível em temas de doença mental, sendo que deixa ambiguidade suficiente para não ser 100% perceptível se se trata de doença mental ou de uma história de fantasia. Fala da incompreensão e isolamento de quem é percepcionado como diferente, e de como é difícil mantermo-nos à tona quando perdemos o chão.

4/5

Podem comprar esta edição directamente à editora.



Comentários

  1. E eu cheguei a fazer peregrinações tri-anuais à terra dos meus avós, na Beira abaixo da tua, por isso, também me diz algo este tipo de histórias. Vou trazer da biblioteca assim que puder! Obrigada pela sugestão.
    Paula

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    Respostas
    1. eu tri-anuais nunca, mas até 2005 (inclusive) era Páscoa e Agosto. gostei bastante deste, e recomendo, mesmo que não seja absolutamente brilhante.

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  2. Já li, como viste no GR. Valeu muito a pena e vou ficar atenta se estes autores publicarem mais alguma coisa.
    Paula

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    Respostas
    1. Vi, sim :) também não achei brilhante, mas gostei como pegou no luto enquanto trigger mental e dos vários, pequenos detalhes na ilustração (e, embora percebe a tua questão do "demasiado fantasioso", gostei desse tratamento)

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