Duas leituras fundamentais - diria, até, que para qualquer idade.
O nome de Shel Silverstein era-me familiar há muito, embora nunca tivesse lido nada dele - e acho que o nome me era especialmente familiar por The Giving Tree, cujo conceito e ilustrações conheço, não obstante nunca ter lido. Estes dois livros d'O Pedaço que Falta conseguem contar uma história muito importante através de traços muito simples e poucas palavras.
O Pedaço que Falta mostra-nos um objecto (algo semelhante ao Pacman) que procura pelo "pedaço que falta" para se tornar completo (a ilustração do objecto tornar-se-ia, assim, na completude, um círculo perfeito). A sua busca é detalhada, passando por vários pedaços sozinhos mas que, de uma forma ou de outra, não complementam ou não se encaixam no "Pacman" - demasiado pequenos, demasiado grandes, pedaços que se partem, pedaços de formato errado, pedaços que não pertencem a ninguém e não lhe querem pertencer. A viagem em busca do pedaço que falta é agradável - o objecto rebola vida fora enquanto canta, tem aventuras e se diverte.
E enquanto rolava e rolava
cantava esta canção:
"Ando em busca do pedaço que me falta,
O pedaço que me falta quero encontrar,
Trá lá lá, trá lá lá, aqui vou eu,
Em busca do pedaço que me está a faltar."
Quando, eventualmente, encontra o pedaço que o completa, a felicidade é imensa, mas efémera - pode haver conforto em ter um "parceiro" que encaixe, mas não se pode deixar que a pertença ao outro nos retire a nós mesmos. Quando o pedaço perfeito o impede demasiado de viver a sua vida, quando a coexistência se torna codependência, o objecto inicial tem de fazer uma escolha.
É um livro memorável e muito bonito.
Consegui gostar da sequela, O Pedaço que Falta Encontra o Grande O, ainda mais que do primeiro livro. Este relata a mesma busca pela forma completa por parte de um pedaço. Este pedaço - um triângulo, muito como aquilo que o "Pacman" do primeiro livro procurava - está triste, em busca do "Pacman" que o complete, de modo a que se torne numa peça redonda capaz de rolar. Também este pedaço encontra várias partes com as quais não encaixa - incluindo algumas que têm demasiados pedaços em falta - e faz tudo para encontrar quem o complete.
Nesta viagem, porém, já no meio do desespero, o pedaço que falta encontra o "Grande O", uma peça completa, sem pedaços em falta, que lhe sugere continuar sozinho e encontrar o que falta em si mesmo..
- Mas eu tenho pontas
aguçadas - disse o pedaço
que falta. - A minha forma
não serve para rolar.
- As pontas desgastam-se - disse
o Grande O - e as formas mudam.
É com muita força de vontade e determinação que o pedaço começa a rolar, mudando gradualmente de forma, até que consegue rolar sozinho.
Ambos os livros abordam temas importantes como estar sozinho sem estar solitário, o processo de busca pela felicidade, conseguir a realização sem depender de terceiros, e que podemos sempre mudar e evoluir. Apesar de serem livros infantis, diria-os adequados a qualquer idade pela mensagem.
Tradução de Susana Ferreira (ambos os volumes)
5/5
Podem comprar O Pedaço que Falta na wook ou na Bertrand; e O Pedaço que Falta Encontra o Grande O na wook ou na Bertrand
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