Não acredito que só agora comecei a ler esta série!
Após ter lido The Fade Out, obra que traz ao clássico Hollywood um ambiente noir extremamente adequado, tinha ficado já com a dupla Brubaker/Phillips debaixo de olho. Assim, esta série, que consta ser do melhor que eles já fizeram, seria, para mim, leitura obrigatória.
Este volume combina os dois primeiros arcos da história de Criminal, intitulados Cobarde e Lawless. Os dois volumes interligam-se, com cenários e personagens em comum, mas retratam momentos e protagonistas diferentes.
O protagonista de Cobarde é, precisamente, um cobarde: Leo Patterson é brilhante a planear crimes, mas ainda melhor a planear a sua fuga e a sair de más situações. Leo foi criado, no fundo, para ser criminoso, carteirista, qualquer coisa, pelo seu pai. É criminoso profissional, o que era já negócio de família. Mas desde que o seu pai morreu na prisão que Leo procura evitar ao máximo ser apanhado; para isso, tem duas regras fundamentais, não trabalhar com polícias, e não trabalhar com drogados. Leo toma também conta de Ivan, antigo amigo do seu pai, dependente de heroína com Alzheimer.
Leo é um excelente personagem, basicamente. As suas motivações e background estão muito bem desenvolvidas e fazem sentido.
Assim, quando o convidam para um grande plano - roubar provas, diamantes com um valor de centenas de milhares de dólares - que conta com envolvimento de um polícia corrupto, Leo começa por recusar; mas um conjunto de eventos leva-o a aceitar, e as coisas rapidamente correm mal.
Esta história é muito, muito boa - a narrativa está bem construída, parece autêntica, e os personagens são realistas e cativantes, incluindo o "mau", Delron, que é simplesmente abominável (o que funciona muito bem). Assim, a obra consegue impacto emocional - especialmente com o final, que é magnífico e encaixa mesmo bem com os acontecimentos anteriores.
É horrivelmente deprimente - não é um golpe divertido que acaba bem, pelo contrário. Mas é um início excelente para a série, uma belíssima introdução a um submundo do crime que se vai revelando volume após volume, com epicentro na fictícia Central City e no Undertow(n) Bar.
Ora, eu nem sempre faço isto em volumes omnibus ou que reúnem várias obras numa só (ou, neste caso, vários arcos de uma série), mas fiquei tão empolgada que li Lawless de seguida. Este arco retira o seu nome do protagonista, Tracy Lawless, que volta a casa, em licença do exército, após descobrir que o seu irmão mais novo, Ricky, fora morto num crime que dera errado. Tracy estava afastado deste mundo - do ciclo de violência que herdara do seu pai, tal como Leo - havia vinte anos, quando fora forçado a escolher entre a prisão ou o exército.
Partindo para a vingança, Tracy Lawless demonstra ter um nome bastante adequado para um fora-da-lei que não consegue seguir ordens ou controlar a sua fúria - e que faz as suas próprias regras. Mas Tracy não é um homicida sem escrúpulos; é um personagem complexo, que sente culpa por ter deixado Ricky para trás numa situação que sabia inescapável (e que se prova inescapável com este seu regresso). Também o passado de Lawless nos é relatado, fazendo dele credível, complicado.
Há muita acção, muitas surpresas. Não há heróis ou personagens moralmente "bons". Vemos como esta história se relaciona com a anterior, sem se cruzarem, mas não é só o espaço físico que se mantém. A atmosfera é a mesma - com o facto acrescido de ser Natal e estar a nevar, fazendo com que o plano de vingança de Tracy demonstre que o Natal nunca é feliz em Center City.
É, novamente, triste, desesperado. É brilhante.
Ponto menos bom, mas que está longe de estragar a experiência para mim: a arte aqui não é tão boa quanto em The Fade Out. Pelo prefácio do volume, já estava à espera, pois aparentemente, Criminal é uma óptima obra para acompanhar a evolução do trabalho de Sean Phillips; de qualquer modo, a narrativa é mais do que suficiente para prender e fazer querer continuar a ler - e a visão do artista relativamente às cenas violentas funciona bem, sem exageros.
5/5
Após ter lido The Fade Out, obra que traz ao clássico Hollywood um ambiente noir extremamente adequado, tinha ficado já com a dupla Brubaker/Phillips debaixo de olho. Assim, esta série, que consta ser do melhor que eles já fizeram, seria, para mim, leitura obrigatória.
Este volume combina os dois primeiros arcos da história de Criminal, intitulados Cobarde e Lawless. Os dois volumes interligam-se, com cenários e personagens em comum, mas retratam momentos e protagonistas diferentes.
O protagonista de Cobarde é, precisamente, um cobarde: Leo Patterson é brilhante a planear crimes, mas ainda melhor a planear a sua fuga e a sair de más situações. Leo foi criado, no fundo, para ser criminoso, carteirista, qualquer coisa, pelo seu pai. É criminoso profissional, o que era já negócio de família. Mas desde que o seu pai morreu na prisão que Leo procura evitar ao máximo ser apanhado; para isso, tem duas regras fundamentais, não trabalhar com polícias, e não trabalhar com drogados. Leo toma também conta de Ivan, antigo amigo do seu pai, dependente de heroína com Alzheimer.
Leo é um excelente personagem, basicamente. As suas motivações e background estão muito bem desenvolvidas e fazem sentido.
Assim, quando o convidam para um grande plano - roubar provas, diamantes com um valor de centenas de milhares de dólares - que conta com envolvimento de um polícia corrupto, Leo começa por recusar; mas um conjunto de eventos leva-o a aceitar, e as coisas rapidamente correm mal.
Esta história é muito, muito boa - a narrativa está bem construída, parece autêntica, e os personagens são realistas e cativantes, incluindo o "mau", Delron, que é simplesmente abominável (o que funciona muito bem). Assim, a obra consegue impacto emocional - especialmente com o final, que é magnífico e encaixa mesmo bem com os acontecimentos anteriores.
É horrivelmente deprimente - não é um golpe divertido que acaba bem, pelo contrário. Mas é um início excelente para a série, uma belíssima introdução a um submundo do crime que se vai revelando volume após volume, com epicentro na fictícia Central City e no Undertow(n) Bar.
Ora, eu nem sempre faço isto em volumes omnibus ou que reúnem várias obras numa só (ou, neste caso, vários arcos de uma série), mas fiquei tão empolgada que li Lawless de seguida. Este arco retira o seu nome do protagonista, Tracy Lawless, que volta a casa, em licença do exército, após descobrir que o seu irmão mais novo, Ricky, fora morto num crime que dera errado. Tracy estava afastado deste mundo - do ciclo de violência que herdara do seu pai, tal como Leo - havia vinte anos, quando fora forçado a escolher entre a prisão ou o exército.
Partindo para a vingança, Tracy Lawless demonstra ter um nome bastante adequado para um fora-da-lei que não consegue seguir ordens ou controlar a sua fúria - e que faz as suas próprias regras. Mas Tracy não é um homicida sem escrúpulos; é um personagem complexo, que sente culpa por ter deixado Ricky para trás numa situação que sabia inescapável (e que se prova inescapável com este seu regresso). Também o passado de Lawless nos é relatado, fazendo dele credível, complicado.
Há muita acção, muitas surpresas. Não há heróis ou personagens moralmente "bons". Vemos como esta história se relaciona com a anterior, sem se cruzarem, mas não é só o espaço físico que se mantém. A atmosfera é a mesma - com o facto acrescido de ser Natal e estar a nevar, fazendo com que o plano de vingança de Tracy demonstre que o Natal nunca é feliz em Center City.
É, novamente, triste, desesperado. É brilhante.
Ponto menos bom, mas que está longe de estragar a experiência para mim: a arte aqui não é tão boa quanto em The Fade Out. Pelo prefácio do volume, já estava à espera, pois aparentemente, Criminal é uma óptima obra para acompanhar a evolução do trabalho de Sean Phillips; de qualquer modo, a narrativa é mais do que suficiente para prender e fazer querer continuar a ler - e a visão do artista relativamente às cenas violentas funciona bem, sem exageros.
5/5
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