Avançar para o conteúdo principal

Poesia Grega: De Hesíodo a Teócrito

Quando saiu este livro, soube imediatamente que o queria.


Especialmente com o recente reavivar da minha paixão pelos gregos - foi um timing perfeito. Confesso não ter grande conhecimento do trabalho de Frederico Lourenço, nunca tendo lido nem o seu romance (em wishlist) nem as suas famosas traduções, que admiro.

Não sendo eu grande adepta de poesia em geral - como será mais que sabido pelos poucos que lêem o que se escreve por este estaminé -, talvez não fosse este livro a opção mais óbvia para retomar os gregos (especialmente quando tenho ainda a Oresteia na estante por ler); gosto muito dos poucos dramas e comédias que li, mas poesia em si acaba por não me despertar grandes sentimentos em geral. No entanto, o rol de nomes aqui apresentado acabou por ser convincente, por trazer uma miríade de autores dos quais pouco ou nada conhecia sem ser o nome (quando tanto).

Dois nomes, para mim, destacaram-se: Hesíodo, cuja Teogonia quero, há muito, ler, e Safo, que estava também nos meus desejos mais antigos. Tenho alguma familiaridade com a cultura grega clássica, para além dos poucos textos que já li, e sinto que esse conhecimento ajuda à compreensão, bem como as notas de fim de texto incluídas pelo tradutor.

A edição é primorosa: a capa dura, a fitinha, o facto de ser bilingue, com grego do lado esquerdo, passível de ser comparado com a tradução para português, à direita. O meu grego é nulo, como será o de muitos dos leitores desta obra, mas é um toque bonito. Cada autor tem direito a uma breve nota introdutória, que permite melhor compreensão do que se lerá em seguida, seja pela biografia do autor ou pela explicação estilística. Alguns dos nomes seleccionados têm obra apenas fragmentária, Álcman, por exemplo; enquanto que, de outros, temos acesso a conteúdo mais extenso. Nesse sentido, a inclusão de algumas partes pareceu quase desnecessária (embora compreenda a sua importância quando a obra não nos chegou particularmente intacta); e achei a quantidade de Píndaro algo excessiva.

Foi um livro que li aos poucos, um poeta de cada vez, para não os sobrepor. Para ler lentamente e apreciar.

Deixo-vos com Safo. O livro deixou-me com uma vontade ainda maior de ler a Teogonia, da qual apresenta breves excertos.

Ele, tu e eu

Aquele parece-me ser igual dos deuses,
o homem que à tua frente
está sentado e escuta de perto
a tua voz tão suave

e o teu riso maravilhoso. Na verdade isto
põe-me o coração a palpitar no peito.
Pois quando te olho num relance, já não
consigo falar:

a língua se me quebrou e um subtil
fogo de imediato se pôs a correr debaixo da pele;
não vejo nada com os olhos, zunem-me
os ouvidos;

o suor escorre-me do corpo e o tremor
me toma toda. Fico mais verde do que a relva
e tenho a impressão de que por pouco
não morro.

5/5

Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand

Comentários