Este livro chamou-me enormemente a atenção pela capa.
É possível resistir a rinocerontes bebés? Sejam sinceros.
O nome do autor também contribuiu: nunca tendo lido nada de David Machado (sendo a minha estreia disputada entre este e o Índice Médio da Felicidade), mas tendo já ouvido falar muito bem dele, decidi arriscar na sua obra para um público mais jovem. E já todos sabem que adoro um bom livro infantil/juvenil, certo?
O nome do autor também contribuiu: nunca tendo lido nada de David Machado (sendo a minha estreia disputada entre este e o Índice Médio da Felicidade), mas tendo já ouvido falar muito bem dele, decidi arriscar na sua obra para um público mais jovem. E já todos sabem que adoro um bom livro infantil/juvenil, certo?
Tomás é um rapaz de doze anos que decide fugir de casa, por estar convencido que faz mal a todos aqueles que se aproximam dele. O livro é narrado a "duas vozes": um narrador na terceira pessoa, omnisciente, que vê Tomás e o acompanha; e o próprio Tomás, que relata o seu processo de pensamento e aquilo que levou a esta derradeira decisão. Esta mudança dá-se a cada capítulo, estando os capítulos narrados por Tomás com a fonte em itálico.
Tomás revive de forma muito intensa o seu passado: há cerca de quatro meses, o seu pai morreu, num acidente do qual Tomás julga ter toda a responsabilidade. É precisamente por isto que crê que a sua mãe só estará em segurança se ele se for embora. Pega numa mochila com algum dinheiro e outros objectos pessoais e parte para a cidade, a mais de 200km de distância de casa. Aí, planeia encontrar o seu tio. Mas Tomás não estava à espera que o país fosse assolado por um furacão...
(...) eu não sabia que ficar sozinho doía tanto. Eu já tinha ficado sozinho: às vezes, quando saía da escola, passava pelo rio antes de ir para casa, sentava-me numa rocha e ficava ali quase uma hora a olhar para a água ou a fazer os trabalhos de casa. Sozinho. E era bom. Podia pensar e sentir as coisas como se o mundo existisse só para mim. Estar sozinho na cidade é outra coisa: é como cair num precipício e nunca chegar a bater no chão lá em baixo. Todas as ruas têm gente, há milhares de pessoas à minha volta e ninguém olha para mim, ninguém fala comigo, como se eu não existisse.
É no meio da calamidade que Tomás tem de aguçar o seu engenho, recorrendo àquilo que encontra em casas abandonadas, passando noites ao relento, encharcado, com fome e sede, e muitíssimo longe de casa, entre inundações e ruínas. As comunicações estão interrompidas, e chegar a casa parece impossível. Mais que isso: envolve-se numa situação que envolve um rinoceronte bebé, e rapidamente vê-se responsável pelo bem estar do animal. Nele, Tomás encontra um amigo.
- Aquilo era um rinoceronte - balbuciou Tomás.
O homem aproximou-se, caminhando lentamente pela água. Usava um casaco de pele escura e um boné.
- Pois era. Mas não era teu. Devias ter ficado quieto. - O homem olhou para o escuro, na direção em que o animal desaparecera, e acrescentou: - Agora vais ter de ajudar-me a procurá-lo.
E é esta amizade que acaba por levar Tomás ao caminho da reconciliação, não só com a sua mãe, mas com a morte e a perda do pai.
Acompanhamos este crescimento de Tomás, bem como os seus sentimentos, as suas dúvidas, anseios e medos. Achei o final surpreendente, talvez por estar à espera de um cliché, em que a mãe de Tomás já saberia que o filho estava dominado por um sentimento de culpa. O cenário também é de uma enorme imaginação (este tipo de catástrofe não acontece em Portugal - e o que dizer do rinoceronte?), colocando uma criança numa situação extrema e explorando as suas reacções.
O final é deixado em aberto: não sabemos ao certo o que acontecerá ao rinoceronte, mas sabemos que a amizade e o amor curam tudo. Mesmo quando são amizades absurdas e totalmente inesperadas.
Depois sentiu o corpo do rinoceronte assentar devagar junto ao seu.
Tomás sentiu vontade de o abraçar e, um segundo depois, abraçou-o mesmo. Sentiu no rosto a pele dura e engelhada e, por baixo, o sangue pulsando nas veias.
O rinoceronte aninhou-se nos seus braços.
Entretanto, na nota do autor, no final do livro, descobrimos que David Machado tinha idealizado esta história para BD, ou uma novela gráfica, algo que não se chegou a concretizar, pois "lamentavelmente, Portugal vive de costas voltadas para a banda desenhada e não foi possível dar vida a esse livro". De facto, uma componente visual teria enriquecido tremendamente esta história: poder visualizar o rapaz com o rinoceronte, as ruínas da cidade, a inundação, ver as situações de perigo...
Tudo o que eu disser do David Machado vai ser tendencioso, mas o homem é mesmo talentoso e também vou (ou vamos) querer ler este. Dos infantis só li (lemos) o Tubarão na Banheira e A noite dos Animais Inventados, que são bem giros. Ah, e porque uns continhos dão sempre jeito, digo-te também que as Histórias Possíveis dele formam uma colectânea muito coesa e cativante.
ResponderEliminarPaula
Que títulos bons! É impressão minha, ou tende a escrever livros infantis com animais?
EliminarE se têm o teu selo de aprovação, lista da Feira do Livro 2019, já! :)
Tenho de ler o Índice Médio... estou muito, muito curiosa!
És mais perspicaz do que eu, nunca tinha reparado! Se é porque gosta de bichinhos, ainda fico mais fã!
EliminarAi, credo, que responsablidade! E se não gostas? Mas diz-me lá, essa tua lista da feira já vai em quantas folhas A4? :-)
Paula
A julgar por este, que introduz um rinoceronte num cenário pós apocalíptico (mas, fora isso, um cenário normal), parece-me excelente!
EliminarHaha, se gostei deste, não vejo por que não irei apreciar os demais :) a lista está a ser construída aos poucos, muito aos poucos! Tem títulos a mais, é certo... mas vou pensando e removendo alguns com o passar do tempo, portanto nem tudo será mau :)
Esse livro parece super querido e interessante. Obrigada pela sugestão! Beijinhos*
ResponderEliminarÉ uma muito boa história sobre amor, amizade, o peso que atribuímos às nossas acções, e rinocerontes :D espero que gostes, beijinhos!
Eliminar'Este livro chamou-me enormemente a atenção pela capa' compreendo
ResponderEliminarJá todos sabemos que adoras um bom livro infantil/juvenil sim :p
'lamentavelmente, Portugal vive de costas voltadas para a banda desenhada e não foi possível dar vida a esse livro' sem dúvida mas isso podemos dizer também da literatura em geral em Portugal mas na bd sim, o caso é ainda mais drástico
Gostei muito da review, parece ser um livro a ler; gostei muito da foto também, clássico rino bebé que conhecemos quando nos estávamos a conhecer também, já lá vão 4 anos, como estará ele?
Não gostavas de ser amigo de um rinoceronte bebé? :p eu gostava, especialmente daquele da foto, que espero que esteja mais coordenado hoje em dia, se bem que, conhecendo o género, duvido... :$
EliminarÉ verdade, na literatura em geral o país está de costas voltadas, mas de facto creio que nos géneros em foco a situação é pior - acredito que, noutros pontos do mundo, muito boa gente pegaria de bom grado nesta ideia para a transformar em imagens!
Gostava muito Ba
Eliminar'credito que, noutros pontos do mundo, muito boa gente pegaria de bom grado nesta ideia para a transformar em imagens!' sem dúvida, mesmo dizendo-o só pelo que li do teu post
🐅🦏
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