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Destemidas - Mulheres Que Só Fazem o Que Querem

Apreciando largamente esta nova tendência de livros ilustrados com vista a enaltecer ou destacar feitos de mulheres.


Publicado na Colecção Novela Gráfica da Levoir/Público, este é o best-seller da francesa Pénélope Bagieu, também conhecida pelo seu blog. Esta obra em particular é baseada no seu trabalho com o Le Monde, que podem ver aqui: estão aqui compiladas as 15 primeiras histórias da autora, com algumas ilustrações originais (suponho que as ilustrações em páginas duplas).

A escolha de mulheres é mais interessante que a das Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes, na minha muito humilde opinião. Na verdade, cruzam-se numa história: a das Irmãs Mirabal, que está muito melhor contada aqui que no outro livro. Todas as mulheres e histórias são únicas, retratando quem realmente desafiou convenções sociais, religiosas ou políticas. Não são mulheres propriamente conhecidas, não são os mesmos nomes frequentemente utilizados neste tipo de obra. Mulheres inteligentes, corajosas, que combateram e procuraram melhorar as suas vidas e situações, e melhorar o mundo.

A lista de mulheres retratadas é a seguinte (são apresentadas com os títulos em parênteses):

Clémentine Delait (a mulher barbuda)
Nzinga (rainha do Ndongo e da Matamba)
Margaret Hamilton (atriz aterrorizadora)
Las Mariposas (irmãs rebeldes)
Josephina van Gorkum (apaixonada casmurra)
Lozen (guerreira e xamã)
Anette Kellerman (sereia)
Delia Akeley (exploradora)
Josephine Baker (dançarina, resistente, mãe de família)
Tove Jansson (pintora, criadora de trolls)
Agnodice (ginecologista)
Leymah Gbowee (trabalhadora social)
Giorgina Reid (guardiã de farol)
Christine Jorgensen (celebridade)
Wu Zetian (imperatriz)

 

São, portanto, mulheres muito diferentes entre si, de diferentes épocas, continentes, etnias, idades, origens sociais, e diferentes feitos. O livro passa a mensagem que, se estas mulheres puderam fazer o que quiseram, qualquer uma pode fazer o que quer. Ou qualquer um - estas mulheres podem ter atravessado dificuldades especiais por serem mulheres, mas o que alcançaram foi grandioso para qualquer um.

As minhas histórias preferidas foram as de Margaret Hamilton, Josephine Baker, Leymah Gbowee e Christine Jorgensen, mas mesmo as que parecem menos interessantes, à partida, são únicas e importantes: Annette Kellerman teve poliomielite em criança, mas tornou-se nadadora profissional; Agnodice teve de fingir ser um homem e arriscou a sua vida. A história de Leymah é particularmente comovente (e ela ganhou um Nobel!), e a de Nzinga é divertidíssima - o seu ódio pelos portugueses...

A forma como Bagieu trata as histórias é irónica, divertida e memorável. São pequenas biografias das suas vidas, do nascimento até à morte, e não uma mera ilustração dos maiores feitos de cada uma. Cada história tem uma palete de cores única que lhe é dedicada, o que ajuda a diferenciar e distinguir cada mulher naquilo que as tornou únicas. O livro em si é belíssimo, com destaque para as ilustrações lindíssimas em páginas duplas (que acrescem valor ao conteúdo que pode ser encontrado gratuitamente, se se ler em francês).

 

É uma obra inspiradora e que dá a conhecer feitos e factos a quem a ler. Dá vontade de conhecer mais e melhor estas mulheres, ler mais sobre as vidas delas, sobre o impacto que causaram por se atreverem a seguir caminhos fora do comum.

Ansiosa para que o volume 2 seja publicado por cá!

5/5

Podem comprar esta edição directamente à Levoir.

Comentários

  1. Inspiradora realmente! Não sou a maior admiradora de obras biográficas, mas adorei o que encontrei aqui sobre esta em particular!
    Feliz Natal, Bárbara!!!

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    1. Ana, esta não é super biográfica - dá "amostras" da vida de várias mulheres, com rigor (mais que o Histórias de Adormecer), de forma leve, humorística em pontos e muito colorida! Recomendo se tiveres curiosidade sobre as mulheres que não são abordadas em mais lado nenhum, seja para vires a descobrir mais, seja pela inspiração em si :)
      Feliz Natal Ana, beijinhos! :)

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  2. Muito interessante mesmo esta autora, pelo livro mas todo o seu blogue e o seu trabalho com o Le Monde também

    Os excertos que dás a mostrar aqui são muito bons, o da Nzinga é ganda burn nos homens que se achavam superiores (tenho sentimentos ambíguos em relação à rainha Nzinga porque no fundo matou, mandou matar portugueses, por outro lado sabemos bem - devia-se saber bem melhor ainda assim - o que os portugueses fizeram em África); as irmãs Mariposas são umas rebeldes, não se conformando com o status quo, nem tendo medo do sistema; a história da Josephine Baker é simplesmente maravilhosa, pelo menos a viagem em si, não tanto como acabou (não me recordo bem mas não acabou da melhor maneira pois não? depois de grande sucesso), mas só mostra mais uma vez o quanto os EUA estão atrasados em relação a tanta coisa, a idade enquanto nação não revela para aqui; a Wu foi simplesmente uma bad motherf, respect por muito do que fez e teve de aguentar e lutar contra (certas coisas não físicas como os tais preconceitos) mas, tal como a rainha Nzinga, fez coisas muito más também - e por isso é que gostei que a Pénélope Bagieu escrevesse e desenhasse sobre elas, as mulheres são esquecidas na história e quando são retratadas são quase sempre pelas piores razões (e muitas vezes nem verdadeiras) mas não é por isso que agora só se devia escrever sobre as boazinhas ou com um passado não tão sombrio, as mulheres são seres humanos e portanto há boas e más (não querendo dizer com isto que a rainha Nzinga e a imperatriz Wu eram más), e toda a gente tem um lado bom e mau e estes casos em particular da rainha Nzinga e da Wu em que está em causa poder ao mais alto nível, não é fácil ter um registo limpo, pode-se questionar muita coisa mas sabemos que não é fácil alcançar o melhor para todos sem prejudicar alguns, sejam eles maus ou bons, enfim, eu filósofo sentado em frente a um computador enquanto ouço Smashing Pumpkins

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    1. 'O livro passa a mensagem que, se estas mulheres puderam fazer o que quiseram, qualquer uma pode fazer o que quer. Ou qualquer um - estas mulheres podem ter atravessado dificuldades especiais por serem mulheres, mas o que alcançaram foi grandioso para qualquer um.' sem dúvida, foi o que reti também
      Uma das coisas que eu mais gostei foi também como dizes o facto de a Pénélope Bagieu escrever pequenas biografias, do nascimento até à morte e não uma mera ilustração dos maiores feitos de cada uma
      As ilustrações em páginas duplas sim, lindíssimas; mas principalmente o serem memoráveis como também referiste, histórias memoráveis sem dúvida
      Também estou ansioso que o volume 2 seja publicado por cá! Até porque não tenho os teus skills de francês

      A minha história preferida foi a da Margaret Hamilton, vai ficar sempre comigo, grande conselho para a vida: em vez de me queixar tenho que me adaptar, procurar a melhor solução, o que é melhor para mim e para os meus, a vida continua, shit happens/c'est la vie, procurar sempre o que me faz feliz e não levar a vida tão a sério; falar é fácil mas ter exemplos nos quais se pode ganhar força torna tudo menos difícil
      Gostei muito também da história da Josephina van Gorkum, acho que representa o objectivo último da humanidade como eu a vejo; da Agnodice sem dúvida, que pânico terá sido; mas também a da Giorgina Reid, a guardiã do farol, pela resiliência e porque gosto de faróis
      Gosto sempre dos teus posts

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    2. Muito obrigada por me teres emprestado o livro :D sabias mesmo que eu ia gostar de ler :p

      Compreendo isso quanto à Nzinga, mas é isso - ela estava apenas a procurar defender o seu território; calhou foi o invasor ser, de facto, português... quero ler o livro do Agualusa que creio ser sobre ela :p

      Não me lembro do final da Josephine Baker, mas a vida dela foi fascinante, a dança, as questões raciais, as múltiplas crianças que adoptou!

      É verdade, muitas das mulheres que "ficaram" na história, de quem há memória, são aquelas que foram vilificadas de algum modo, as ambiciosas, ninfomaníacas, etc - não se deve realmente falar só das que foram "boas", mas retratar de modo real a forma como as pessoas, homens ou mulheres, agiram. A Nzinga reagiu ao ataque, tal como a Lozen, por exemplo; a imperatriz Wu talvez julgasse que estava a fazer o melhor possível (creio que a maioria dos regentes o faz)... foram mulheres que fizeram muito, as retratadas neste livro, mesmo com os mais pequenos gestos!

      Alto filósofo a ouvir altos sons :p

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    3. Os meus skills de francês são também eles parcos :$ e mesmo que fossem dos bons, toda a gente merece ler esta obra, especialmente estando já publicada metade por cá!

      De facto a história da Margaret Hamilton tem essa faceta, de como ela se adaptou para seguir aquilo que pretendia, moldou-se aos seus objectivos, e isso é muito importante.

      A da Josephina van Gorkum parece um pouco insignificante ao pé das outras, não só porque a história é muito mais curta, mas porque foi uma mulher que se casou com um homem de uma religião diferente, e isso hoje em dia não parece nada de especial - mas o facto de o ter feito, e de ter arranjado maneira de ficar junto do marido mesmo depois da morte, com os entraves que havia, é sem dúvida inspirador.

      Merci :$

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    4. 'e isso hoje em dia não parece nada de especial' ainda bem que não é! :p e não o é graças a pessoas como ela, e por isso o maior respeito por ela

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    5. É verdade, um grande passo para a humanidade!

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  3. Está a chegar à biblioteca! Maravilha!
    Só conhecia a Josephine Baker (tão gira e descarada!), a Tove (mas como criadora dos Moomins) e a irmãs Mirabal (comprei No Tempo das Borboletas, da Julia Alvarez, para ler com o clube Reading Around the World, mas não me apeteceu pegar-lhe na altura). Desejosa de conhecer as restantes!
    Um bom Natal, Bárbara! Que recebas livros fantásticos para publicares mais excelentes opiniões aqui.
    Paula

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    Respostas
    1. Que bom, Paula, espero que lhe metas as mãos em cima em breve! Eu, além dessas, tinha ouvido falar na Margaret Hamilton (mas desconhecia a história), na Nzinga, e na Christine Jorgensen, vagamente. Vale muito a pena, o livro!
      Muito obrigada, Paula, feliz Natal! Com livros também, para que mos possas recomendar e os venhas debater comigo :)

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