Avançar para o conteúdo principal

Ana de Castro Osório

Sou fascinada pela colecção "Grandes Vidas Portuguesas" desde que li o volume sobre a Marquesa de Alorna.


Há, ainda, poucos volumes sobre mulheres: além destes dois, existe apenas aquele sobre a empresária Antónia Ferreira. Este volume, ilustrado por Marta Monteiro e escrito por Carla Maia de Almeida, fala sobre Ana de Castro Osório, escritora, defensora da educação, e activista dos direitos das mulheres.

Pela sua relevância nestas áreas, o seu nome foi atribuído à Colecção Especial da Biblioteca de Belém. Decidi complementar a leitura deste volume com a leitura de um livro de contos infantis da autora, que me foi oferecido há talvez vinte anos.

O livro da Pato Lógico começa por falar, estranhamente, de Carolina Beatriz Ângelo e da sua luta pelo voto: rapidamente compreendemos ser este um enquadramento, pois foi o pai de Ana de Castro Osório, magistrado, que permitiu à sufragista a sua inclusão nos cadernos eleitorais. Assim, compreendemos de onde vinham "a sorte e a liberdade [de Ana de Castro Osório] de poder usar o seu tempo para pensar, escrever e ser útil à sociedade". O contexto familiar permitiu-lhe poder ser essa pessoa, no fundo.

A vida de Ana de Castro Osório é marcada pelo feminismo, que se verifica na sua vida cívica, mas também se inscreve na sua obra literária (note-se o manifesto Às Mulheres Portuguesas, onde incita ao estudo e ao trabalho), e pela literatura e apelo à educação da população e das mulheres.

Gosto muito do cruzamento que este livro faz com outras personagens femininas da história de Portugal (além de Carolina Beatriz Ângelo), pois enquadra o seu trabalho numa época: Ana de Castro Osório e outras republicanas como Adelaide Cabete, Sofia Quintino ou Maria Veleda continuaram a lutar pelo progresso da sociedade e do indivíduo.

Fotos ©Jaime Ferraz/Pato Lógico 

Ponto muito positivo deste livro: fala-nos na obra da autora, enquanto promotora da educação e dos direitos das mulheres (dando-nos dados estatísticos sobre o analfabetismo, por exemplo), mas também fala de pontos menos bons: a sua obra infantil não é consensual, de facto.

A verdade é que até uma mulher tão inteira e tão avançada se deixou dominar pelos preconceitos culturais e de classe, ao escrever para as crianças. Estas, quando não são "instruídas", "atentas" e "asseadas", são chamadas de "louquinhas" e "patetinhas". O povo é sempre "ignorante"; à exceção dos gregos, que "eram o povo mais amável, mais culto e mais encantador da antiguidade" (como se pode ter esquecido de que as mulheres foram violentamente reprimidas na sociedade grega?).

É ainda relatada a história de amor de Ana de Castro Osório e o poeta Camilo Pessanha, cujo pedido de casamento não aceitou, mas com quem teve uma longa amizade até à morte dele.

4/5

O livro da autora, O Príncipe Luís e outras histórias, não me encantou particularmente. Não senti o moralismo advertido na biografia, nem grande teor educativo; isto prender-se-á com o facto de não serem contos originais da autora. É uma obra na qual procura recuperar histórias populares (os contos foram todos, de algum modo, familiares, não sabendo dizer se esta familiaridade vinha do facto de serem contos populares, se de os ter lido com oito anos).

São contos maioritariamente com alguma aventura, mas com muito engano: geralmente, príncipes que enganam ou procuram enganar mulheres, jovens rapazes que enganam reis turcos para casar com belas princesas, e um papagaio inteligente que alega dores de barriga para salvar a sua dona.

Note-se que esta colectânea é de contos "recontados" pela autora, os tais de sabedoria popular, ou de origem popular europeia; consta que, nos contos de sua autoria, as temáticas são mais "limpas": generosidade, nacionalismo, amor, e uma muito honrada pobreza. Nestes contos, recontados, há ardil e muitas das personagens são da realeza.

Talvez mais interessante seja a história que dá título à obra, O Príncipe Luís: mais longo que as restantes, este conto pega em temas como adultério e sexualidade, pois há um rei que trai a sua esposa, e um casamento por interesse, em que é frisada a falta de vontade do príncipe em casar, dada a fealdade da esposa.

Tenho, talvez, mais curiosidade acerca de Mundo Novo, obra para adultos recentemente reeditada pela Sibila.

3/5
Podem comprar o Grandes Vidas Portuguesas aqui, e o Príncipe Luís aqui.

Comentários