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Ficções

Uma dupla tentativa de participar no Outubro Hispanoamericano da Ana Lopes e, posteriormente, no #nestórias da Mafalda.



E a leitura prolongou-se tanto que acabou por entrar também nas leituras prévias à leitura conjunta d'O Nome da Rosa da Ana.

Li esta nova edição da Bertrand (com a capa lindíssima do Bosch) em vez da edição em espanhol que me aguarda na estante desde a Feira do Livro de 2016; terá eventualmente sido a melhor opção para a minha primeira experiência com Jorge Luis Borges, uma leitura que se revelou mais morosa e difícil que aquilo que esperava.


Eu afirmo que a biblioteca é interminável. Os idealistas argumentam que as salas hexagonais são uma forma necessária do espaço absoluto, ou pelo menos da nossa intuição do espaço. Consideram que é inconcebível uma sala triangular ou pentagonal.


Na verdade, não sabia bem que tipo de leitura esperava; as pessoas que conheço que já se tinham aventurado com Ficções diziam ou ter adorado, ou não ter percebido nada. Ficções está dividido em duas partes: O jardim dos caminhos que se bifurcam e Artifícios. No total, estas duas partes incluem dezassete pequenos textos que exploram vários géneros e nos oferecem referências enciclopédicas ficcionais, bibliotecas labirínticas, novos D. Quixotes, crimes misteriosos que se cumprem a si mesmos, entre outras bizarrias. São paradoxos elaborados, são contos fabulosos e implausíveis.


Confesso que acredito que muitas das histórias terei compreendido apenas conceptualmente; há imensa criatividade, mundos imaginários imensos, muita falta de paciência de minha parte. À medida que avançava no livro - não sei se por hábito -, sinto ter-me habituado mais, compreendido melhor, ter tido uma experiência de leitura mais fluída. Mas requeria, tudo, muito mais atenção do que aquela que me senti capaz de dar face aos tempos que vivemos e o seu impacto na minha pessoa.


Bioy Casares jantara comigo nessa noite e demorou-nos uma longa polémica sobre a elaboração de um romance na primeira pessoa, cujo narrador omitisse ou desfigurasse os acontecimentos e incorresse em diversas contradições que permitissem a poucos leitores - a pouquíssimos leitores - o adivinhar uma realidade atroz ou banal.


São textos pequenos, pseudo-realidades ficcionadas ou fantasias disfarçadas de realidade. Parecem pequenos ensaios, que do ponto de vista racional nunca o poderão ser. Julgo que, daí, o nome Ficções. Sabem a realidade, são humanos, mas vêm de outro lugar, um lugar que não é real. São histórias sobre histórias, sobre símbolos, sobre jogos. É infinitamente fascinante, mas é denso, é intenso, não é de fácil leitura. É como se também o livro fosse um labirinto, difícil de compreender de imediato.


São puzzles; apreciei mais no sentido do raciocínio lógico que talvez do ponto de vista literário. Mais fácil de admirar do que de apreciar.


3,5/5


Podem comprar esta edição na wook ou na Bertrand

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