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As Pupilas do Senhor Reitor

Daqueles livros que, surpreendentemente, se lêem de uma rajada.


Em As Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis presenteia os leitores com mais uma narrativa clássica, rural e, de algum modo, previsível. Conhecemos, no início do livro, Daniel, filho mais novo do agricultor José das Dornas, e Margarida, órfã, ambos com cerca de 12 anos. Daniel tem um irmão, Pedro, que parece talhado para herdar o negócio do pai; e Margarida tem uma meia-irmã, Clara, filha da sua madrasta. Margarida é uma espécie de Cinderela, indo tratar das cabras, lavar a roupa no riacho e cuidando das lides da casa enquanto Clara é protegida, e Daniel, mais delicado que Pedro, vai estudar latim com o reitor.

O Reitor, personagem central da obra (não fosse o título), começa a estranhar quando ouve relatos de que Daniel chega tardíssimo a casa, em horas incoerentes com o final das lições. É aqui que o segue e se apercebe das longas conversas de Daniel com Margarida, acabando por aconselhar José das Dornas a enviar o filho para a cidade, para estudar medicina, temendo a perdição da jovem órfã.

Em todas as separações tem mais amargo quinhão de dores o que fica, que o que vai partir.

Daniel acaba por esquecer Margarida, relegando-a a memórias ténues de infância; Margarida, por sua vez, nunca o esqueceria.

Assim, quando, vários anos mais tarde, Daniel regressa, surge não um triângulo, mas um quadrado amoroso: Daniel apaixona-se por Clara (agora também órfã, estando as duas irmãs agora sob tutela do Reitor, o que explica o título), que é agora noiva de Pedro, e fica confusa com os avanços do futuro cunhado; Margarida, por sua vez, mantinha a sua paixão de infância por Daniel; e Pedro continua na sua vida, não se apercebendo dos delitos do irmão.

Daniel começa a completar os serviços de João Semana, e rapidamente se torna conhecido não pelas suas "ideias modernas", antagonistas das do velho médico, mas também por, aparentemente, galantear todas as raparigas da terra (embora o seu alvo seja, realmente, Clara). Tratando-se de um meio pequeno, Pedro é o último a aperceber-se; as pessoas começam a falar.

De facto, já nos círculos da terra constava da predileção de Daniel pela rua em que moravam as duas raparigas; e falava-se disto com certos olhares, com certas reticências e sorrisos, mais malignamente eloquentes, do que murmurações explícitas.

O final do livro é muito "arrumadinho", com a previsibilidade que ja sentira em Uma Família Inglesa, mas que considero aceitável neste tipo de história. No entanto, para mim, o que distraiu muito da narrativa foi o facto de as contas - os anos passados entre eventos, as idades dos personagens, especialmente a diferença de idades entre as duas irmãs e a idade que Margarida teria quando os seus pais morreram - não serem coerentes. 

4/5


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