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Amok - suivi de Lettre d'une Inconnue

Em que circunstâncias leva o amor à loucura?



Muitos poder-se-ão perguntar por que motivo decidi ler Stefan Zweig, autor austríaco, em francês. Retirando logo essa questão do caminho: tinha a ideia de que as traduções para francês são muito boas. Adianto já que não me arrependi. Estas edições da Livre de Poche são também muito bem prefaciadas, explicando aqui também o porquê de se terem juntado, neste pequeno volume, estes três contos/novellas: a temática do amor enquanto força irresistível e destruidora que não difere muito da loucura, de várias maneiras. Zweig foi um autor muito prolífico e juntar tematicamente a sua obra parece-me um feito interessante.

Amok achei muito interessante - é um conceito malaio e a obra de Zweig levou, no fundo, à ocidentalização da ideia. É a história de um médico que acaba por enlouquecer, isolado nos trópicos, com elevada carência de contacto humano, que acaba por permitir que as suas emoções se sobreponham à razão. É uma novella curta, mas forte - não tendo empatizado om o médico, com o seu ódio, paixão, moralidade decadente e obsessões, fiquei fascinada pelo relato de como tudo isto toma conta dele e "lhe deu um amoque".

Lettre d'une inconnue foi o meu favorito dos três (sendo que, apesar do título, há um terceiro conto, mais curto, neste volume, La Ruelle au clair de lune, que mostra como o amor torna um homem dominante e possessivo num homem que se humilha e despreza e ridiculariza - e achei este último menos digno de nota). Um homem, um escritor famoso, recebe uma carta longa no seu 41º aniversário. Nesta, uma mulher revela que viveu desde adolescente em função dele, numa paixão que mais parece um trauma, que se arrasta há mais de década e meia. Pela sua paixão obsessiva por ele, a mulher nunca casou, por esperar por ele; a sua vida acaba arruinada, pelo que lemos nesta missiva desesperada e quase patética, mas o autor, recipiente da carta e do seu amor, nem sequer sabe quem ela é, apesar das várias circunstâncias em que se cruzaram.

Tradução de Olivier Bournac

5/5 autor a explorar mais

Podem comprar esta edição em francês na wook ou na Bertrand, ou Amok, em português, na wook ou na Bertrand, ou Carta de uma Desconhecida, em português, na wook ou na Bertrand.


Comentários

  1. Gosto tanto, tanto do Zweig! Para mim, os melhores dele são o Mendel dos Livros e Viagem ao Passado, mas gostei destas histórias de que falas também.
    Paula

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    1. Quero muito ler o Viagem ao Passado :) mais Zweig virá, decerto!

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  2. Adoro Zweig, já li vários, inclusive Viagem ao Passado, mas na ficção o que mais me tocou pela força que ele dá aos sentimentos foi "Vinte e Quatro horas na vida de uma mulher", como bibliofiolo "O Mendel dos Livros", para compreender a Europa desde o início do século XX até à ascensão de Hitler e perceber bem quem foi Zweig, as suas memórias de "O Mundo e Ontem" é talvez a melhor obra de memórias e autobiográfica que li.

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    1. Este foi o meu primeiro encontro com o autor, mas tenho mesmo muita curiosidade com vários dos seus livros, especialmente O Jogador de Xadrez e precisamente esse, O Mundo de Ontem.

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