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O Mistério do Quarto Amarelo

Como já aqui tinha revelado, a Colecção Vampiro nunca me apelou particularmente.


Será, eventualmente, defeito meu: não sou a maior fã do género policial, ou de mistério. No entanto, este lançamento entusiasmou-me particularmente: por ser da autoria de Gaston Leroux, autor do Fantasma da Ópera, entusiasmou-me no imediato.

Adoro a Opéra Garnier e ando há ano e meio a prometer um post sobre a mesma, bem sei.

Fiquei impressionada quando descobri que o autor do drama gótico de que tanto gosto tinha sido importante escritor de mistérios. Aliás, a narrativa de O Mistério do Quarto Amarelo é extremamente influente num subgénero que desconhecia: o "Locked Room Mystery", que é como quem diz, mistério num quarto fechado. Este é um subgénero que, na verdade, já tinha lido (os Murders in the Rue Morgue de Edgar Allan Poe são um outro exemplo do género) - um crime cometido num cenário aparentemente impossível, um quarto fechado, sem aparente acesso possível a partir de fora.

A história é narrada por Sanclair, um advogado, que recorda um mistério sobre o qual, diz, é agora livre de contar a verdade. O mistério passa-se no Château du Glandier, onde vivem o Professor Joseph Stangerson e a sua filha Mathilde, de 35 anos, ambos cientistas de renome. Nas premissas do laboratório, encontram-se apenas o seu pai e o criado fiel, Tio Jacques. Quando Mathilde é encontrada inconsciente no seu quarto (o Quarto Amarelo) após um ataque por um desconhecido, o quarto trancado por dentro, com uma janela gradeada e sem qualquer rasto do atacante, todos ficam surpreendidos. É impossível que o criminoso tenha conseguido sair.

"Imaginem como saltámos e como o professor e eu corremos para a porta. Mas, ai de nós! Estava fechada e bem fechada por dentro com todo o cuidado, pela menina, como já disse, à chave e com ferrolho. Tentámos arrombá-la, mas era resistente. O professor Stangerson estava como louco e tinha realmente razão para tal, porque se ouvia a menina que agonizava: 'Socorro!... Socorro!' E o professor dava pancadas terríveis na porta, chorava de raiva e soluçava de desespero e de impotência (...)"

O livro é muito bom a criar a atmosfera do mistério, do crime perfeito, complexo e impossível: tem mapas do Château, descrições sobre os eventos, sobre a cena do crime... As pistas deixadas são poucas; Mathilde Stangerson sobrevive (o que torna o facto de o livro se referir ao "assassino" e ao "assassínio" e "assassinato" frequentemente muito irritante, na minha opinião), mas o que ela tem a dizer não acrescenta nada - na verdade, torna o mistério ainda mais confuso.

Entram em cena o detective Frédéric Larsan, oficialmente a investigar o caso; e o jornalista-investigador-prodígio de 18 anos, Joseph Rouletabille, e o seu amigo jurista Sainclair juntam-se à investigação. Frédéric Larsan é rápido a culpar o noivo de Mathilde, Robert Darzac, mas Rouletabille não está assim tão convencido, gerando-se uma rivalidade amigável entre ambos.

A história intensifica, com personagens suspeitos, acontecimentos bizarros, novas tentativas de ataque e até mesmo um homicídio nas premissas do Château. É o tipo de mistério que requer atenção do leitor, para poder apanhar todas as pistas - no entanto, e na minha opinião, Gaston Leroux conseguiu construir o mistério de modo a ser impossível adivinhar o verdadeiro culpado. Aliás - sinto que a resolução foi "demasiado boa para ser verdade", surpreendente ao ponto de dar a entender que apenas Rouletabille e a sua mente genial conseguiriam chegar a tal desfecho.

Chegámos ao castelo. O velho torreão estava ligado à parte da construção inteiramente refeita no reinado de Luís XIV por um outro corpo de edifício moderno, estilo Viollet-le-Duc, onde se encontrava a entrada principal. Eu nada ainda vira de tão original, nem talvez de tão feio, nem sobretudo de tão estranho em arquitetura, como esta reunião bizarra de estilos diferentes. Era monstruoso e cativante.

As personagens são interessantes, especialmente Rouletabille e Mathilde Stangerson, uma mulher com muitos segredos (os quais são apenas revelados no final). Os habitantes da vila próxima do Château são bizarros e pouco acolhedores (e há uma gata com um miado demoníaco). Há imensos suspeitos, pistas falsas, diria que é demasiado arrastado em partes, nomeadamente no início, mas o livro tem vários momentos de humor, nomeadamente na rivalidade entre Larsan e Rouletabille.

Teria gostado mais de um final mais realista.

3,5/5

Podem comprar esta edição aqui.

Comentários

  1. Nunca li nada desta coleção, mas gostei de ler a tua opinião. Agora ando numa de ler mais livros de policiais e thrillers!

    https://aritateixeira.blogspot.com/

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    1. A colecção é daquelas "míticas" que publicam inúmeros clássicos dentro do género. Se é o teu tipo, recomendo que investigues a colecção, que é editada pela Livros do Brasil :)

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  2. Fiquei empolgada lendo sua resenha, gosto muito de livros de investigação, mas são poucos os que conseguem desenvolver uma boa história, quem sabe esse seja um deles!

    www.estante450.blogspot.com

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    1. Eu não sou grande fã, confesso - este livro é um clássico e consegue prender a atenção, tem muitos pequenos detalhes, mapas, esquemas... talvez seja uma boa aposta :) os clássicos são-no por algum motivo!

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  3. Eu, que sou fã de policiais e cresci a ler a colecção Vampiro Gigante, fiquei a babar com este livro. E só li o post até começar com a descrição da história. ;)

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    1. Então este será uma boa aposta, Cristina! Eu comecei a ler pela autoria, mas fiquei pelo mistério :)

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  4. Eu comprei precisamente este romance há poucos dias, foi a coleção de policiais Vampiro que fez a minha transição de leitor adolescente para jovem e alimentou o gosto de leitura para este amadurecer. Embora sem ser com este autor comprei o por curiosidade da Ópera e para recodar esses tempos de juventude

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    1. Fico a aguardar a opinião do Carlos! Fascinante como esta colecção
      foi tão importante para tanta gente.

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  5. Ainda não li o post mas quero muito ler este livro, não só por ser do Gaston Leroux mas também porque envolve um quarto amarelo :p mas todo o tema do livro me interessa mesmo
    'Adoro a Opéra Garnier e ando há ano e meio a prometer um post sobre a mesma, bem sei.' bem sabes :p
    Não conhecia esse subgénero "Locked Room Mystery" mas parece-me algo que gostaria de investigar!
    Gostei do post, a minha pouca experiência com a Colecção Vampiro diz-me é que os livros, embora tenham temas interessantes, no final a leitura em si sabe a pouco pelo seu efectivo teor que parece muitas vezes irrealista

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    1. Mal posso esperar para juntarmos as nossas estantes e a nossa incipiente Colecção Vampiro :$ muita da leitura de crime e mistério parece pouco realista, mesmo o final deste livro, nesse aspecto, soube a pouco!

      Quarto amarelo :D o livro é interessante, muito detalhado, muitas "pistas falsas", é capaz de te intrigar :p

      Bem sei :(

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    2. Está quase :p
      Sim hei de ler o livro sem dúvida!

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    3. Mal posso esperar, ainda assim :p

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